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ALÉM DA LETRA Dia da Leitura
Maria Helena Martins * Ao saber que era Dia Nacional da Leitura, logo lembrei do nascimento do meu livrinho O que é Leitura (Brasiliense, 1982). Fazia um calorão danado no primeiro dia da 31a. Reunião Anual da SBPC, em Fortaleza: julho de 1979. Eu suava em bicas, mais pelo fato de ser minha primeira apresentação de trabalho na célebre Reunião acadêmica. Fora convidada pela amiga gaúcha, Ligia Chiappini, da FFLCH-USP. Uma deferência, pois eu não era uspiana, trabalhava no Instituto de Letras da UFRGS. Sol escaldando enquanto eu caminhava apressada, furando o solo do campus com meus saltos altos, provocando o riso das colegas à vontade com suas sandálias, batas e largas saias indianas... Quando vi o enorme anfiteatro onde eu falaria tive um choque. Faltavam poucos minutos pra iniciar. As colegas disseram que devíamos entrar. Eu queria desaparecer. Até porque, além delas, cinco, havia só mais quatro pessoas lá dentro. Sentamos na primeira fila e elas decididas a me agarrar se eu resolvesse fugir. Também porque, como eu estava num grupo representando a USP, não podia fazer forfait, prejudicando-as. Esperamos uns minutos e elas me empurraram para a bancada no palco. Trêmula, olhei a plateia - já havia umas 15 pessoas. E comecei balbuciando. As colegas, no gargarejo, sopraram "Mais alto!". Aumentei o tom, quase desafinando. Não lembro, mas devia ter microfone. E deslanchei a leitura.(Leia mais) Era uma apresentação sobre minha docência de Literatura Infantil, no Curso de Letras da UFRGS e como, rapidamente, chegara à conclusão de que, antes de tratar de livros para crianças, eu precisava trabalhar a questão da leitura com meus alunos. Quando, ao final, ergui a cabeça e vi a platéia quase a metade ocupada, nem acreditei... Ia levantando, depois de aplausos exagerados das minhas colegas, quando, do fundo, alguém me perguntou, afinal, o que era a leitura para mim. Sem reconhecer quem me perguntara, comecei a responder que, ao contrário do que eu aprendera no colégio, ler era muito mais do que decifrar o código linguístico, que era algo mais profundo e mais amplo, tinha a ver com nossa relação com o mundo que nos cerca. Claro, aí citei Paulo Freire. Mais duas ou três perguntas e fui dispensada. Na saída, veio falar comigo Caio Graco Prado, dizendo que me ouvira desde o começo e fizera a primeira pergunta. Já o conhecia, pois desde 1978 eu escrevia matérias sobre Literatura Infantil para o Jornal Leia Livros, da Brasiliense (São Paulo). Conversamos um pouquinho e ele me perguntou se eu gostaria de escrever pra Coleção Primeiros Passos, sobre leitura. Fiquei tonta com o convite e pedi pra responder depois. Com o coração batendo na garganta, contei às colegas sobre o convite. Depois dos Ah!s Oh!s, ouvi de Walnice Galvão: "É preciso ser corajosa pra aceitar! ". Eu não disse nada ... ------------- *Maria Helena Martins - Fundadora do CELPCYRO. Atual Diretora de Cultura,Humanidades e LIteratura do CELPCYRO.
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