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Brasil(is) América(s) do Sul: fronteiras e comarcas do frio e do húmido | Imprimir |  E-mail

< Sumário - Volume 2 - Segundo Semestre - 2011


Encontros e Desencontros da/na

América Latina no Século XX


Organização Ligia Chiappini



Brasil(is) América(s) do Sul: 

fronteiras e comarcas do frio e do húmido


Ligia Chiappini



Este texto é parte de um projeto, mais amplo, ainda em andamento. Suas origens podem recuar pelo menos aos anos 90, quando iniciamos, com um grupo de estudantes de iniciação científica da Universidade de São Paulo um  mapeamento da ficção regionalista brasileira, cujos primeiros resultados foram apresentados nas Actas do Quinto Congresso da Associação Internacional de Lusitanistas, realizado na Universidade de Oxford em 1998. Daí resultou o pequeno texto, intitulado “Ficção Brasileira pós-Guimaraes Rosa e o Mundo Rural.”[1] Depois de breve introdução sobre a necessidade de  pesquisar o que se estava produzindo no Brasil fora do Centro e sobre a atualidade da questão do regionalismo na chamada era global, apresentávamos aí alguns autores e tendências, relacionadas a três regiões brasileiras que eram assim denominadas:  Amazônia, o Extremo Sul e o Nordeste.  Tal mapeamento, interrompido por um tempo, ganhou outra dimensão a partir de 2002, ampliando-se transnacionalmente para obras exemplares das fronteiras culturais e das culturas fronteiriças nas chamadas comarcas culturais da América do Sul, conforme o conceito cunhado por Ángel Rama[2], para designar áreas transnacionais, que transcendem os limites geopolíticos pela cultura que em parte as unifica e que, guardando as diferenças, as aproxima.

Num primeiro momento, nos detivemos no pampa com um projeto temático financiado pelo DAAD e a CAPES, em parceria com Sandra Nitrini, da USP e Maria Helena Martins, do Celpcyro[3]. Dessa primeira fase  resultaram vários artigos, diversos livros, algumas teses e vários eventos[4] O projeto  continuou, já sem o apoio financeiro do Probral, no que chamamos de pós-probral: em uma comunidade virtual, na qual se reproduziram alguns desses trabalhos, bem como partes do  que iria ser um novo livro de Sabine Schlickers[5] A comunidade online  ampliou-se logo a seguir em outra de caráter mais prático e didático, na qual se organiza uma antologia de textos literários em espanhol e em português, intitulada “Presença da literatura latinoamericana: comarcas em contraste”. Na verdade, mais que uma simples antologia, trata-se de um projeto de pesquisa-ensino, inspirado nas antologias muito usadas nos cursos de Letras, pelo menos no Brasil, Presença da Literatura Brasileira e Presença da Literatura Portuguesa[6], que, embora publicadas há tanto tempo, continuam sendo de grande utilidade para estudantes e professores dessas duas Literaturas. O objetivo agora é ampliar esse tipo de trabalho para a América Latina, incluindo a literatura brasileira num contexto latinoamericano, o que ainda é uma tarefa a aprofundar, como forma de ajudar a  vencer o nosso proverbial desconhecimento mútuo. Iniciamos com duas comarcas que têm muitos contrastes mas também alguns pontos em comum: a comarca pampeana e a comarca amazônica, como  já assinalei  em um texto anterior a este,  intitulado: “Fronteiras culturais e cultura fronteiriça: Pampa e Amazônia”.[7] O que se apresenta a seguir são alguns  fragmentos mais gerais desse texto  juntamente com umas notas ainda incipientes sobre o romance histórico, ou melhor, sobre algumas obras exemplares no tratamento da história regional pela ficção.


Pampa e Amazônia: diferenças que aproximam

A chamada Latinoamérica tem, como se sabe, áreas culturais múltiplas e, como parte dela e, ao mesmo tempo, separada dela, o Brasil foi (e até certo ponto continua sendo) visto como uma ilha, cercada por dois grandes rios, originados em um lago gigantesco.[8] Suas fronteiras não atlânticas foram conquistadas, demarcadas e consolidadas como resultado de uma progressiva “marcha para oeste” dos bandeirantes, mas também pelas guerras, com o Prata, no caso do Sul, e, mais especialmente, pelas artes e artimanhas das negociações diplomáticas, no caso do Norte. Uma vez consagradas em tratados internacionais, resultantes desse processo, essas fronteiras são vistas como estáveis. Entretanto elas são porosas. Separam e unem, como toda fronteira, conectando, neste caso, o Brasil à maioria dos países sulamericanos, às Guianas e Surinan, por meio de distintos espaços transnacionais ou de comarcas culturais, para usar a expressão e o conceito de Ángel Rama. Duas dessas comarcas --a pampeana --do frio e da chamada fronteira seca-- e a amazônica --do quente e do húmido-- constituem polos extremados do “corpo da Pátria”, tanto geográfica, quanto histórica e culturalmente. A distância geográfica e as diferenças topográficas, históricas e culturais entre esses polos  não impedem, porém, que encontremos significativas semelhanças entre ambos.

O território “sem fim” da Amazonia, assim como “imensidão”[9] do Pampa, têm, como já chamou atenção Ana Pizarro, “núcleos de produtividade simbólica que se articulam ao  incorporar as tensões próprias de nossa cultura no seu condicionamento periférico”[10]. Ela se refere aí sobretudo “à construção de um espaço alternativo emergente na colonia, à estética da homogeneidade nacional e à tensão regional-cosmopolita da modernização”[11], como sendo elementos de relativa unidade desses blocos, sem entretanto apagar suas diferenças.

Algumas dessas diferenças e semelhanças se manifestam na literatura, entendida como parte da cultura. O primeiro elemento comum a ressaltar é que se trata de territórios de passagem, trocas informais e contrabando, onde se subvertem as regras e leis, estabelecidas a partir do centro do País. Mas também é neles que se jogam os principais combates para conquistar e  defender os limites da Nação e a própria soberania nacional. Isso, tanto no passado quanto no presente, quando, em tempos de alianças, negociaçðes e estratégias regionais, a defesa da América do Sul é vista como tarefa complementarmente necessária a essa.

Quem tematiza esse ponto insiste no que parece óbvio mas nem sempre ganha visibilidade, ou seja, que sem o auto-conhecimento e o  conhecimento recíproco fica difícil reivindicar o pertencimento. Trabalhar hoje, porém, com o conceito de comarca cultural, vinculando-o ao conceito de América Latina ou, mais modestamente, ao de América do Sul, implica superar a concepção estática dos territórios e naçðes para repensá-los não somente como processo e construção, mas sobretudo como projeto e utopia a construir pelo trabalho, sendo a pesquisa-- projetada, planejada, viabilizada, empreendida e divulgada como processo e como resultado—uma parte decisiva desse trabalho.[12]

No caso das duas comarcas que interessam a este texto, os estudiosos têm evidenciado como, distanciadas do centro de poder, elas desenvolveram modos de viver e de simbolizar próprios e, ao mesmo tempo, limitados muitas vezes pelo desejo e pelo esforço de imitar as tendências ditadas pelos cânones centrais e a necessidade de incorporar as técnicas, trazidas pelas diferentes ondas da modernización imposta de fora para dentro.

É verdade que a literatura ajudou a implantar o projeto da conquista e do Império e até hoje pode cumprir funçðes que promovem a reprodução do sistema colonial e imperial, de diversas e inventivas maneiras. Mas é também inegável que ela opera freqüentemente a contrapelo do projeto ideológico das cidades letradas que a motivou, viabilizou e utilizou como instrumento para (de)formar e como ilusão para excluir como se incluísse. Assim, volta e meia os textos deixam falar o que gostariam de fazer calar, como é o caso das contradiçðes e limites da Revolução Farroupilha, que aparecem desvendando, sob o gauchismo heroicizante, a tragédia do  escravo ou do peão soldado, transformados em buxa de canhão. Ou ainda, no caso da Cabanagem, a emergência de uma inédita revolução de pobres, lutando por terra, liberdade e dignidade.

Sendo ou não intenção de seus autores, os textos literários de norte a sul acabam deixando rastros de projetos de outros Brasis possíveis que não vingaram, mas que ainda reaparecem como testemunhando o instante do perigo de que nos fala Walter Benjamin nas suas teses sobre a filosofia da história. E, aos poucos, vão aparecendo na letra e na voz, para não falar das imagens, não apenas retalhos dessas histórias soterradas, mas denúncia dos velhos e novos massacres impostos pela ambição de ouro, terra e poder, que domina e discrimina as maiorias, reduzidas e submetidas já pela designação de minorias. A dor do outro[13] entra, assim, em cena, mas também, volta e meia a própria dor, ou ainda, bem freqüente, a dor de presenciar, imaginar, e re(a)presentar a dor alheia, mesmo quando ela se esconde sob alguns lamentos aparentemente só individuais.


PAMPA

A fronteira do Rio Grande com os países do Prata estende-se por 1.727 quilômetros, dos quais 724 com a Argentina e 1003 com o Uruguai. A fronteira com o Uruguai, desde a barra do Chuí até a foz do Quaraí, é quase toda seca. Já a divisa com a Argentina, desde a foz do Peperi-Guaçu até a confluência do rio Quaraí, corre ao longo do rio Uruguai. Nada, entretanto, impede o livre trânsito entre o Rio Grande e os países platinos.[14]

Com base nessa característica da fronteira gaúcha, Cristiane Kahmann invoca a identificação cultural do Rio Grande com o Prata e a ambivalência do gaúcho rebelde ao jugo do poder Federal, bem como a resposta deste, reforçando o controle dessa rebeldia, ao transformá-lo em guardião das fronteiras nacionais ou sentinela dos Pampas.

Reexaminar a obra de escritores do Rio Grande do Sul na sua relação tensa entre o Brasil e o Prata (e no modo como incorporam a temática e o mundo dos imigrantes, sobretudo italianos e alemães ou de como emergem as questðes da negritude e as questðes de gênero) permite-nos ultrapassar as leituras da literatura gaúcha, feitas pela crítica ao regionalismo, que, para contestar o provincianismo, existente mas não dominante na tendência, adota freqüentemente uma atitude redutora, que lhe recusa qualquer valor estético e ressalta apenas seu valor documental.

Naturalmente, o valor documental já é um valor importante e necessário, mas já foi suficientemente demonstrado por vários estudiosos, atentos às sutilezas das relações entre os textos e os contextos, que as obras esteticamente bem logradas dão vida ao documento, possibilitando-lhe tocar diretamente a inteligência e a sensibilidade de quem as lê. Para isso, há que “encontrar o tom certo”[15]. É o que tentaram alguns poetas e ficcionistas  gaúchos e gauchos, cujo êxito nessa proeza já vem sendo reconhecido amplamente, para além dos limites dessa fronteira sul. No Rio  Grande do Sul, são exemplos já clássicos o contista João Simões Lopes Neto (1865) e o romancista Érico Veríssimo (1905). O contista Sergio Faraco(1940) é um dos que mais recentemente ganhou o reconhecimento que merece no Centro do Brasil e no exterior. [16] Sem falar dos poetas e ficando apenas com a geração que está na faixa dos 60-70, citemos ainda o contista e cronista Luis Fernando Veríssimo (1936) e os romancistas Luis Antônio de Assis Brasil (1945), Tabajara Ruas (1942), Moacyr Scliar (1937), João Gilberto Noll (1946).

A obra desses autores, como a de Érico Veríssimo e outros antecessores, é entranhada e estranhada por outro elemento: o frio. Se em O Tempo e o Vento (1949-1962) de Érico esse elemento foi personificado no nome, na biografia e na perspectiva distanciada de um personagem como o Dr. Winter, em Faraco ele aparece entranhado ao cenário natural e social da fronteira como sina de homens, mulheres e crianças que devem quotidianamente aprender a difícil arte de viver e sobreviver na fronteira.

Esse percurso do frio, constante, na literatura da comarca, acaba re-simbolizando o viver na fronteira de diversos modos. De modo paródico, exagerando o calor para valorizar o frio, e expressando de forma sintética e muito divertida as contradições da literatura e do mundo fronteiriço, desde a perspectiva de um menino, em Sergio Caparelli(1947), O dia em que Alegrete atravessou a fronteira(1983)[17]. O frio é aí também um fator de aproximação, diferenciação e atração para o trem que passa a cidade de  Alegrete e chega à Argentina, bem como para a própria cidade, desencaixada do seu lugar para deixar transparecer o entre-lugar que a habita. De modo lírico, em Vitor Ramil(1962), poeta, ficcionista e músico, que chega mesmo a teorizar em ensaio bastante difundido o que chamou de “Estética do frio”.[18]

O frio, com o vento minuano que o potencializa, é determinante na trilogia de Érico, trazendo a lembrança dos mortos e as narrativas do passado riograndense, brasileiro e platino. Isso também ocorre na obra de  Luis Antônio de Assis Brasil (1945) e de Tabajara Ruas , que recontam a história gaúcha, ficcionalizando-a e estilizando-a cada qual a seu modo.Seguindo a pista de  Assis Brasil, para quem os escritores gaúchos, sendo embora muito diferentes uns dos outros, têm em comum o fato de carregarem ainda a “carga pesada da geografia e da história do pampa.”[19], constata-se a presença  marcante da violência social, étnica e de gênero, como prolongamento da violência da colonização e da modernização,  que oprimiram e ainda oprimem a maior parte das pessoas nesse canto da América Latina, como em toda ela. A explicitação dessa violência que se repete de forma visível ou escamoteada sob os mitos da gauchidade ao longo da história gaúcha faz dela uma espécie de corvéia para o escritor que aí nasceu, vive e trabalha. Pois a carga pesada não é sentida apenas por Assis Brasil. Ela vem de muito antes dele e o transcende em romances que se debruçam sobre episódios da História do Rio Grande do Sul, como parte da história do Brasil, da América Latina e do Mundo.

Sem entrar diretamente na intrincada questão  do romance histórico e de suas várias categorias, mas remetendo à frase célebre de Lukacs[20], que nos permite ir diretamente ao ponto, o que faremos daqui para a frente são algumas observações sobre o trabalho com a história da comarca pampeana nos três romancistas acima citados, para contrastá-los depois com alguns exemplos da comarca amazônica, que também poderiam ser lidos, resguardadas as diferenças, como representantes desse subgênero romanesco. [21]


Érico Veríssmo

A história, feita pelos historiadores, é uma narrativa que também faz suas escolhas para falar do passado. Érico sabe disso e tematiza a dificuldade de apanhar pelo discurso o que verdadeiramente ocorreu, pois este implica necessariamente a mediação da subjetividade e do contexto em que ela opera. É o que nos diz esta reflexão do padre Lara, sobre a revolução farroupilha:

Não deixava de ser curioso a gente ver a História no momento em que ela estava sendo feita. Dali a cem anos, como iriam os historiadores descrever aquela guerra civil? O padre Lara sabia como era custoso obter informações certas. As pessoas dificilmente contavam as coisas direito. Mentiam por vício, por prazer ou então alteravam os fatos por causa de suas paixões. Cenas da vida cotidiana, que se tinham passado sob o seu nariz, ali mesmo na praça de Santa Fé, eram depois relatadas na venda do Nicolau duma maneira completamente diferente. Como era então que a gente podia ter confiança na História?[22]

O Tempo e o Vento narra a saga da família Terra-Cambará, cuja formação e ascensão é narrada no primeiro volume, e cuja decadência se precipita nos dois últimos. A trilogia, que levou mais de 15 anos para ser escrita, percorre 200 anos da História do Rio Grande do Sul. Em O Continente se revivem os primeiros 150 e a maior parte deles num lugarejo chamado Santa Fé, que se expande ao longo do tempo, transformando-se em cidade-símbolo desse canto do Brasil, da América do Sul e do mundo, pois por mais local que seja, Érico, desde o início não perde a relação do local com o nacional e o global. Santa Fé é gerada e gerida pelos Amarais e pelos Terra-Cambará, numa alternância de poder em que estes terão cada vez mais voz, formando parte de uma elite que decide sobre os destinos do Rio Grande de São Pedro. Masmas primeiro precisam vencer a “ninguendade”[23]. Pedro Terra, filho de Ana e pai de Bibiana, é filho de ninguém: do mestiço Pedro Missioneiro, vindo, como ele mesmo diz, de parte alguma, modo indefinido que utiliza para nomear a terra arrazada das Missões destruídas pelos portugueses e espanhóis em 1756. O Capitão Rodrigo aparece em Santa Fé também vindo não se sabe de onde, das muitas andanças do peão-soldado, que correu campo, participando das diversas guerras contra os castelhanos, em tempo de delimitação das fronteiras do Brasil-Sul. Um encontro decisivo nessa trajetória, depois da união e separação trágica de Ana Terra e de Pedro Missioneiro,  é o da família  Terra, na pessoa da neta de Ana, Bibiana, com os Cambará, na pessoa do legendário Capitão Rodrigo. Da união dele com a neta de Ana Terra, Bibiana, vai nascer Bolívar, pai do espartano Licurgo, que será o manda-chuva de Santa Fé, depois de derrotar definitivamente a hegemonia dos Amarais.

A história de Ana vai de 1777 aos anos 20 do século seguinte. A história do capitão começa em 1828 e vai até 1836, terminando de um modo muito coerente com sua personalidade de gaúcho valente e atrevido, que só admite morrer peleando. Em comum entre os dois episódios, e característica de toda a trilogia, é o fato de os personagens fictícios andarem lado a lado com personagens históricos. No primeiro, aparece, entre outros, o grande Pinto Bandeira, que teria livrado o Continente dos castelhanos, pondo fim ao ciclo das guerras cisplatinas; no segundo, os heróis da Revolução Farroupilha, Bento Ribeiro, Bento Gonçalves e o general Neto. Ao lado desses, alguns governadores do Rio Grande do Sul e os imperadores do Brasil, da chegada da família real, com D. João VI, à Independência do Brasil, coroação e abdicação de D. Pedro I, bem como ao despontar de Pedro II. O mais interessante é que a arte do romancista faz os personagens e os acontecimentos ficcionais aparecerem mais vivos e verdadeiros aos nossos olhos do que os personagens e acontecimentos históricos. Ou melhor, estes só ganham vida através daqueles. O Continente de São Pedro, nos é mostrado aí desde sua origem, marcado   por  muitas guerras,  muitas esperas, muitos nascimentos e mortes. O tempo linear que vai amarrando as guerras e as perdas, luta com o tempo cíclico (do vento), que traz de volta a voz dos mortos, a lembrança de velhas guerras e a certeza de guerras futuras. Enquanto as mulheres geram e defendem a vida, com o trabalho quotidiano que vai da roca à lavoura, os homens a destróem . As mulheres são a permanência, elas dão e guardam a vida. E, quando esta se vai,  guardam a memória dos mortos e suas histórias, para contar às crianças da família. Como Ana Terra fez com Bibiana. Como em O Arquipélago Maria Valéria fará com Floriano, que, como alter ego do romancista vai repeti-las para nós.

O episódio do Capitão Rodrigo começa em 1828, quando ele, no auge dos seus 30 anos, já veterano das guerras de 1811, 1816, 1820 e 1825, chega a  Santa Fé.

No ano seguinte, já é um homem casado com Bibiana, dono de venda, em sociedade com o carreteiro e cunhado Juvenal Terra. Mas a vida pacata não se coaduna com seu temperamento de gaúcho guerreiro, mulherengo, jogador e cantor. Em 1935, como para salvá-lo, rebenta mais uma guerra e ele se transforma num soldado farroupilha. Em 1936, os Farrapos entram na vila de Santa Fé e vencem Ricardo Amaral que ficara do lado contrário, no caso, o lado do governo brasileiro. O capitão morre na guerra, ao contrário do que ocorrerá muitos anos depois com o outro Rodrigo, o Doutor, que morrerá de doença em uma cama.

Nos diálogos dele com o padre Lara, Érico estabelece um confronto entre o ponto de vista do peão-soldado, guiado pela paixão de viver, pelo sentido anárquico e igualitário, e a Igreja, que prega a igualdade dos homens perante Deus, mas serve aos poderosos, curvando-se a eles e ignorando as injustiças por eles cometidas. Nesse confronto, se coloca o dedo em algo que será dramatizado com ênfase mais tarde, no tempo de Licurgo Cambará mas que aparece discretamente desde Ana Terra: o latifúndio e a escravidão.  O Capitão Rodrigo, quanto mais não seja, para testar o princípio cristão e as convicções do Padre Lara, defende a libertação dos escravos numa sociedade ideal, assim como o fim do latifúndio, com a divisão das terras de poucos entre todos os sem terra do Rio Grande. Mas, se sua fala serve de contraponto crítico aos dogmas da Igreja, os pensamentos e falas de Padre Lara --como nos episódios posteriores ocorrerá com outros olhares críticos de fora, tais como os do Dr. Winter, em „A Teiniaguá”--, servem para examinar criticamente a sociedade rústica de Santa Fé e os homens rudes como Rodrigo. As reflexões do padre estão sempre a pesar o direito e o avesso do Capitão, sem deixar de reconhecer suas qualidades sob o comportamento do gaúcho semi-bárbaro, que não teria culpa de sua rudeza, diante da vida de guerras e de abandono que levou desde menino.

Érico consultou longamente as fontes historiográficas e as misturou inventivamente às fontes orais,[24]. O que nos apresenta são interpretações da história regional e nacional, pelo olho do homem e da mulher comum, que permitem problematizar heróis e feitos, como complexos e, no limite, insondáveis. Pinto Bandeira, por exemplo, que do alto do seu cavalo tece elogios à Ana Terra, quando de sua passagem para a fronteira na luta com os castelhanos, e cujos feitos de guerreiro quase arrasta Antonio a seguir seus passos, aparece, ao olhar terra a terra de Maneco, como um entre muitos fazendeiros interessados em salvar suas terras mais do que em salvar a Pátria. Ou Bento Gonçalves, às vésperas da revolução farroupilha, espécie de enigma que, para uns pretende separar o Rio Grande do Brasil para unir-se à Argentina, mas para outros, quer apenas respeito e reconhecimento do governo central.  As trajetórias de Ana Terra e do Capitão Rodrigo marcam também simbolicamente a história dividida do Rio Grande entre o Brasil e o Prata.

A fonte está nas Missões. Chamava-se assim o episódio anterior a Ana Terra. E a Revolução Farroupilha se tece na tensão entre o Brasil e os Castelhanos. A proximidade física e cultural com o Uruguai e a Argentina é atração perigosa para a unidade brasileira, nos anos pós-independência, com revoluções como essa, ocorrendo em outras partes do país, reações das oligarquias locais descontentes com o governo central. A Revolução Farroupilha, terminada em 1945 com um acordo entre as elites do sul e do centro, permanece até hoje como marca da gauchidade, uma forma peculiar de aceitar-se como parte do Brasil, sem perder o orgulho e o desejo de participar com autonomia da federação que o Rio Grande teria ajudado a construir com o sangue de seus valentes capitães Rodrigos. Essa brasilidade fronteiriça é também cada vez mais múltipla e tal multiplicidade vai se explicitando ao longo da narração. romance. Em “Ana Terra” já estão o português, o índio e o negro escravo. Em “Um certo Capitão Rodrigo”, chegam os alemães para ir tecendo a peculiar mistura que, depois, se completará com os italianos e outros imigrantes. Essa mistura não se faz sem tensões e preconceitos. Desde a rejeição dos Terra a Pedro Missioneiro,  até o falatório do povo sobre a conduta da alemazinha Helga Kunz, que parte na garupa do noivo para casar em São Leopoldo e, por isso é chamada de „bicho sem vergonha“. Ao preconceito racial e cultural soma-se o preconceito sexual, o machismo que só reconhece ao homem o direito de ter um corpo e responder aos seus desejos.  Nesse mundo de machos e de guerras, pelo menos aparentemente[25] cabe às mulheres trabalhar, parir e esperar.


Luis Antônio de Assis Brasil

Assis Brasil é autor de vários outros romances de caráter histórico, inclusive (e, novamente, como Érico), de uma trilogia (que ele prefere chamar de “série”), intitulada  Um castelo no pampa[26],  que traça um panorama histórico, da Colônia à República. Refletindo simultaneamente, como no caso de Érico, sobre as possibilidades e limites da sua versão da história, essa trilogia se tece por meio de diferentes episódios, relacionados também às várias guerras do pampa, mescladas à história de três gerações de uma família de fazendeiros, cujo destino alude simbolicamente aos destinos do Rio Grande e do próprio Brasil.[27] A essa família pertence um insólito castelo, construído em pleno pampa, que, na verdade, recria o castelo de Pedras Altas, de outro Assis Brasil, parente do escritor: Joaquim Francisco de Assis Brasil (1858-1938), líder da revolução liberal de 1923, contra o governo do republicano Borges de Medeiros. No último volume o narrador é Paris, neto do senhor do castelo, que, feito um Floriano Terra Cambará menos triste, vai abrir as janelas da casa, arejando ao sol as “roupas guardadas ao fundo de uma arca”.[28]

Autor desse amplo panorama, por um lado, Assis Brasil é, por outro lado, o cronista de episódios singulares que a historiografia ou deixou para trás ou mitificou, ocultando contradições. Dois exemplos são paradigmáticos: a revolta dos Muckers e a Guerra dos Farrapos.

O romance Videiras de Cristal[29] narra a história de um grupo de imigrantes alemães, denominados pejorativamente de Muckers, palavra que os estigmatiza como beatos e fanáticos. A existência dessa comunidade de caráter messiânico no final do século XIX, foi documentada em textos que o autor leu e retrabalhou, recriando-a desde a sua formação e da adoção de Jacobina como líder, até o massacre final,   no ano de 1874, por tropas enviadas pelo governo. Marginalizados por suas crenças e por sua tentativa de viver com autonomia, eqüidistante das autoridades políticas e religiosas, são perseguidos e dizimados juntamente com  Jacobina, que é morta com um filho na barriga.

O prisma narrativo predominante é o de um doutor alemão, chamado Fischer, que lembra muito o Dr. Winter de Érico Veríssimo. Esse narrador permite ao autor construir uma narrativa empática mas distanciada dos acontecimentos, talvez ainda mais distanciada que no caso de Érico, pois aqui o doutor vai contando em suas cartas o que ele testemunha, sem tomar partido, pelo menos, ostensivamente. O julgamento dos atos e de seus responsáveis fica para nós, leitores.

Muitos anos antes, em A prole do corvo (1978), o segundo romance do autor na longa série de caráter mais diretamente histórico, é a mítica revolução farroupilha que se narra pelo prisma de um soldado. Trata-se de um jovem, quase menino, como sublinha o próprio nome, Filhinho. Este é enviado para a guerra, pelo pai fazendeiro, em troca da manutenção de seus cavalos. Pela mediação desse menino nos é dado a perceber e sentir as conseqüências desastrosas da guerra para ele e para outras vítimas indefesas, disfarçadas, muitas delas em bravos heróis.  Filhinho está sempre meio à margem dos acontecimentos que decidem sua vida. E é dessa margem que a Revolução Farroupilha lhe aparece e ao leitor despida de sua aura heróica e servindo aos interesses dos latifundiários gaúchos e do Império Brasileiro.

A crítica tem chamado atenção sobre a possibilidade que o romance histórico nos traz “de recuperar figuras marginalizadas, periféricas ou ´ex-cêntricas´, esquecidas ou desprezadas pelas narrativas hegemônicas”, conforme observa Léa Masina[30]. É o que ocorre nos romances de Assis Brasil. Já Tabajara Ruas, do qual trataremos a seguir. contraria a dominância da perspectiva periférica, problematizando mais diretamente os senhores  da guerra.


Tabajara Ruas

Martín Fierro (1872), de José Hernández,  deixara um negro sem enterrar e até o final vai ter remorsos por isso. Ana Terra também terá remorsos, por ter enterrado vivo um dos escravos de seu pai. Tanto no poema de Hernández, quanto no romance de Érico, o que fica evidente é o profundo desprezo dos brancos pelos negros, considerados seres inferiores, mesmo quando deles se aproximam como vítimas da violência da sociedade escravocrata e patriarcal.

Na obra de Tabajara Ruas, Netto perde sua alma, a tragédia dos negros no Rio Grande do Sul, onde uma certa historiografia chegou a negar a importância da escravidão, reaparece de modo muito marcante, colocando em xeque o sentido dessa  guerra e da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai, mitificadas pelas narrativas que se pretendem defensoras do território e da identidade regionais. Violência, machismo e racismo estão presentes aí como na obra de  Érico e de Assis Brasil. Mas diferentemente destes, aqui quem narra a história é uma personagem que participou no centro dos acontecimentos, como um de seus condutores principais: o General da Silva Netto, que proclamou a república de Piratini. Ele tece o fio desta história, que se inicia com sua morte num hospital da Argentina, em plena Guerra do Paraguai, conduzindo-nos de volta ao passado para reavaliar, sem condescendência, nessas  memórias quase póstumas, suas perdas. Entre estas,  a confiança dos escravos nos líderes  que lhes haviam prometido a liberdade mas os abandonaram à própria sorte[31] e  também, com as mortes e o sofrimento que causou em vão, a perda da  alma da revolução e de seus condutores. A alma que se perde é, como assinala o título, em primeiro lugar,  a do próprio Netto, pois  depois de ver frustrados os ideais da República de Piratini, elemorre nessa outra guerra que destrói , como bem sugeriu Ángel Nuňes[32],  o sonho muito semelhante de uma república paraguaia independente e  justa.

Mas o romance de Tabajara Ruas, embora ponha em cheque a versão heróica dessas guerras caras ao gauchismo, não quer simplesmente desmistificá-las e à figura dos seus heróis, indo mais fundo, “ quando expõe a humanidade de um herói no qual convivem os paradoxos da liderança e do mando, a consciência oligárquica e o desejo frustrado de abolir a escravidão e criar uma república de iguais.”[33] Nas palavras do próprio autor, explicando a sua vontade de investigar, pela imaginação, as motivações ocultas e os imponderáveis das ações de  Netto e Bento Gonçalves: “... a verdade é que pouco ou nada sabemos de fato sobre quem era Bento[34] e quem era Netto e por quais causas verdadeiras esses homens lutaram e morreram. A ficção é um consolo para a vida. [35]


AMAZÔNIA

Se o Rio Grande do Sul foi integrado ao País bem depois de outros territórios mais centrais, com a Amazônia isso ocorreu mais tarde ainda[36], o que implicou um isolamento da região até, no mínimo, os anos 20 do século passado. À diferença também da comarca pampeana é que, do lado brasileiro, não possui apenas um Estado, mas sim, oito: Além dos dois maiores, Amazonas e Pará, pertencem à Amazônia o Acre, o Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins e, embora parcialmente, o Maranhão e o Tocantins, se considerarmos a chamada Amazônia legal.[37]

O intercâmbio com a Europa foi sempre grande, pelo menos desde que se decretou a navegação livre do rio Amazonas, em 1867, o que influenciou muito a vida nessa região, sobretudo em suas principais cidades, como Belém e Manaus. Muitos se sentiam mais próximos de Paris e Londres do que do Rio de Janeiro. Só depois da crise da borracha, já no início do século XX, a Amazônia foi se integrando ao Brasil, embora com dificuldades e barreiras reais e imaginárias, que persistem até hoje.

Seu isolamento implicou ainda um grande desconhecimento em todos os campos, por parte dos brasileiros e até mesmo dos próprios habitantes da região. Em literatura, também isso ocorreu e, por essa razão estamos ainda na fase de mapeamento. Fase difícil, pois não chega facilmente ao centro a notícia do que se escreve e se publica aí, havendo ótimos escritores, como é o caso de Alcides Jurandir (Marajó,1909-Belém,1979), que somente hoje vem sendo redescoberto e estudado como exige sua grande obra. Desse modo, é difícil dizer não apenas quais são hoje os escritores e as obras que se destacam na literatura amazônica, mesmo se nos limitamos à narrativa e à poesia escritas. Tampouco é fácil descobrir se há um grau razoável de intercâmbio  entre os autores dos diferentes estados amazônicos, para não falar das relações que se estabelecem para além da Amazônia brasileira. Como os escritores expressam ou calam os variados encontros e confrontos culturais e lingüísticos da região? Como enfrentam as relaçðes entre a região e a(s) nação(nações)?

As primeiras conclusões dos nossos estudos ainda incipientes permitem perceber, entre outras coisas, que estamos longe das mesclas lingüíticas dos escritores do sul. E que as oportunidades de contato dos escritores, artistas e críticos brasileiros com os outros escritores latinoamericanos também são mais raras, embora nos últimos anos se esteja observando, em grande parte por influência do meio eletrônico, mais caminhos de encontro entre o Brasil e os demais países da fronteira Amazônica: Venezuela, Guiana Francesa, Suriname e Guiana (ao Norte), Colômbia, a (noroeste); Peru e Bolívia (a oeste)[38]

A leitura desses estudos e de parte da produção ficcional e poética dos últimos 50 anos, permitem concluir que, embora haja especificidades em cada Estado, há inúmeras semelhanças a considerar na Amazônia não apenas do lado brasileiro. Um ponto comum, fruto do isolamento da região e, principalmente, dos seus intelectuais em relação ao centro de seus respectivos países, é a importação direta dos modelos europeus e a adesão à perspectiva do colonizador. Muito da poesia até o modernismo, pelo menos, é expressão de queixas dos intelectuais, que se sentem exilados na própria terra, ou um canto apoteótico da floresta, dos rios e das riquezas naturais, bem como dos monumentos europeizados de suas cidades a exemplo do tão celebrado teatro de Manaus.

Mas a exploração da borracha e a extrema exploração do seringueiro, acabou produzindo uma virada, de gênero, perspectiva e tom, com o aparecimento de romances como La vorágine (1924), de José Eustasio Rivera, na Colômbia e, anos depois no Brasil, de A selva (1930), de Ferreira de Castro, vistos pela crítica como documentos fortes e divisores de águas[39], porque provocadores e demolidores dos mitos da Amazônia enriquecida. [40] Em seu estudo sobre a literatura amazonense Marcio Souza (1946) acusa a falta de romances que levem adiante o trabalho realizado pelo autor de A selva, fazendo uma literatura voltada para a conhecimento da região, sua história, sua gente e seus problemas. Ele mesmo tenta fazer isso, escolhendo a via satírica para recontar alguns episódios tragi-cômicos da história do Acre, como ocorre em Galvez, imperador do Acre (1976), ao qual voltaremos adiante, mas também, em Mad Maria (1980), que, por enquanto, deixaremos sem comentar, mas que também está no horizonte deste trabalho.

Vimos que a literatura riograndense tinha o desafio de superar a tradição do monarca das coxilhas, subvertendo-a e tematizando outras dimensðes espaciais, culturais e sociais, tais como a cidade, os imigrantes, as mulheres, os negros e mestiços pobres, entre outras, o que foi sendo feito ao longo do século XX. A literatura da Amazônia, por seu lado, tinha que superar a louvação do colonizador, seu mal de origem, desde a, felizmente, medíocre epopéia, A Muhraida (1785) de Henrique João Wilkens (1822-1889), inspirada em O Uraguai(1769) de Basílio da Gama ( 1740-1796)[41], sem alcançar a mesma dimensão poética.  E também tinha que superar o exotismo, presente nas visðes dos viajantes,  extremadas entre inferno e paraíso. Essa visão se repetiria muitas vezes até que a superação se torna possível, graças às perdas traumáticas do “ouro negro” e à inspiração modernista, trazendo ao mesmo tempo realismo e riso, ambos desmistificadores. [42]Quanto ao romance histórico na Amazônia, ele é também uma presença importante no século XX. A revolução popular da Cabanagem foi, como não poderia deixar de ser, objeto da narrativa ficcional, também nesse século, embora não tanto como mereceria. Um romance dedicado a ela, é o de Sant´Ana Pereira (1936), Invenção de Onira. Publicado em 1988, acaba de ser republicado, depois de permanecer quase desconhecido por mais de 30 anos. Misturando personagens e ações narradas pela historiografia com  poesia e narrativa oral, o livro dialoga com aquela, aproximando-se da prosa poética de um Vicente Francis Cecim, do qual, aliás, o autor se diz fan. Isso dá a Onira uma dimensão simbólica para uma Amazônia,  como em Viagem a Andara[43]. É Pereira, ele mesmo, que resume; tudo isso; enumerando: “(...) a Via da Meditação, o Vale das Purgações, árvores produzindo quadras, redondilhas, sonetos e poemas em vez de apenas frutos, além de tantas cenas fantásticas, como a tomada de embarcações por leprosos, cujas armas eram apenas suas próprias chagas”.[44]

Lugar da desmesura, a floresta inspira o poético e o fantástico, aproximando a literatura brasileira da hispanoamericana, mas essa mesma desmesura, quando contrastada à pequenez dos homens e mulheres que fazem a história, faz buscar na farsa e na paródia as formas de (re)dizer.


Marcio Souza

Ensaísta, romancista e dramaturgo, Marcio Souza tornou-se mais conhecido no Brasil pelo seu romance satírico, Galvez, Imperador do Acre (1976), cuja história se passa  na fronteira do Brasil com a Bolivia e o Peru, mais precisamente, nos confins do Acre, em uma Amazônia ainda não integrada ao Brasil, mas habitada prioritariamente por brasileiros, que lá foram explorar a borracha. Esse será o Eldorado buscado parodicamente por Galvez, o espanhol que acabará comandando uma revolução de seringueiros e donos dos seringais brasileiros e separando o Acre tanto da Bolívia quanto do Brasil.

O romance, que foi a princípio um roteiro cinematográfico, acabou ganhando ares modernistas ou até pós-modernos, ao manter a estrutura fragmentada do texto original. Como se trata também de um romance que se auto-comenta e que satiriza as versões heroicizantes da Independência do Acre, vem sendo incluído em estudos mais recentes na categoria do novo romance histórico, cunhada para descrever as tendências de romances hispanoamericanos, que inovam o gênero tradicional pelo menos a partir de Alejo Carpentier, em Cuba.

Novo romance histórico ou não, temos aqui um texto que ri da  história do Acre (e, por extensão, da Amazônia) e nos convida a revisitá-la criticamente,  embora o riso não escamoteie a violência e o sem sentido que parece mover a ação  dos conquistadores ambiciosos de riqueza e poder, que disputam, na falta do minério dourado, o vegetal que será transformado em ouro, nesse novo eldorado, só possível pela exploração da orfandade dos seringueiros sem pátria e quase sem pão.

O Espanhol. Galvez, chega a Manaus movido dessa ambição, num vapor em que a zarzuella espanhola se combina com a ópera francesa para homenagear a Guerra do Paraguai. É uma boa combinação para fazer, entre outras coisas, uma caricatura do Duque de Caxias, tradicionalmente homenageado como ganhador dessa guerra nada honrosa para o Brasil e os outros países nela envolvidos. Mas, embora o tema   reapareça neste romance, não será dessa guerra que ele vai tratar, mas de outra, bem menos conhecida pelos próprios brasileiros, em que o espanhol se envolveu para tornar o Acre  um império independente e autônomo.

À frente dos seringueiros brasileiros que trabalhavam no território ainda boliviano, Galvez lidera a ocupação em uma data simbólica: 14 de julho. A desproporção, acompanhada de outros disparates, torna  esse ato uma paródia das grandes revoluções da Humanidade, como é o caso da Revolução Francesa.  Galvez é coroado e pouco tempo depois, destronado pelo governo Brasileiro, sendo o Acre devolvido à Bolívia e o aventureiro espanhol, deportado.

Antes disso, entre a coroação e o golpe que o derruba, Galvez, circula como um pícaro, entre ricos e pobres, desvendando criticamente, pelo exagero e pelo deboche, mas também pela ironia e auto-ironia de um narrador que controla de fora o relatório do “herói”[45], a babel desse Acre em que os homens livres trabalham para se escravizar, como já observara Euclides da Cunha em texto célebre.[46]

Diferentemente dos romances que tematizam a Guerra do Paraguai e a Revolução Farroupilha, no Sul, e que guardam a gravidade própria dos temas sérios, mesmo quando utilizam a ironia, como no caso de Assis Brasil, este se tece basicamente pelo deboche dos feitos pretensamente heróicos dessa fronteira em que outro herói vindo do Centro do Brasil, pelas artes da diplomacia e do dinheiro acabou ganhando a guerra: o Barão do Rio Branco. A efemeridade desse Império alude, entre outras coisas, à barbarie de uma civilização erguida sobre o fausto do chamado ouro verde.

Galvez está mais para malandro do que para pícaro. Pode também ser lido como um anti-Macunaíma, embora tenha elementos em comum com este. O romance, nem bem picaresco, nem bem de aventuras, nem bem de folhetim é uma mistura de todos esses sub-gêneros para chegar a uma espécie de sátira menipéia, inspirada no modernismo paulista. Colagem de pequenos capítulos, leva adiante essa característica de Serafim Ponte Grande e de Miramar, os romances mais propriamente modernistas de Oswald, feitos de ironia, fragmentação e mistura de diferentes gêneros literários, entre eles, a auto-biografia. O parentesco com o modernismo de 22 é explicitado pelo narrador-editor no próprio texto: “quanto ao estilo o leitor há de dizer que finalmente o Amazonas chegou em 1922.”[47]

O Império do Acre, para Galvez e sua entourage, é uma eterna festa, que parece ilustrar o Retrato do Brasil de Paulo Prado, como um país gerado na e movido pela cobiça e pela luxúria, mas também pela tristeza.  Paulo Prado pensava, porém, na conjugação de atributos de três elementos na formação da identidade nacional --: o português, o índio e o negro-- enquanto aqui entram outras variáveis, porque a Amazônia, como tem insistido o próprio autor, em seus ensaios de caráter mais histórico-sociológico sobre a região, é desde o início mais moderna, mais global e mais babelizada que o Brasil. .

Nem tudo é festa nessa sátira. O avesso da festa é Galvez perdido na paisagem aquática e verde, que lhe dá a impressão, como deu a Euclides da Cunha, de ser um civilizado transportado subitamente à pré-história, por uma natureza, situada aquém ou além da compreensão humana. Mas o romance não quer se comprazer no conhecido da tradição literária amazônica, oscilante entre o  inferno e o paraíso, a qual acabou por  constituir um peso para qualquer escritor que se debruce sobre a região e talvez seja a contra-face daquela carga pesada definida por Assis Brasil, no caso da comarca pampeana. Por isso ele ri de Galvez e nos faz rir com ele. Por isso o apresenta sempre como vítima de um deslocamento trági-cômico, que vai muito além da História do Acre e da própria Amazônia, apontando para uma condição colonial da América Latina, na qual essa região se insere quase como uma hipérbole.

Nesse sentido,o escritor trabalha com o exagero e a saturação de atributos, atos, falas e citações; fragmentos de versos, de textos científicos, de autobiografia, cartas, documentos, mas também de narrativas orais em que tem lugar a magia e a filosofia popular. São recursos recorrentes na ficção da época e não apenas no Brasil, presentes também no romance satírico de Vargas Llosa, Pantaleon y las visitadoras(1973), que tem sido frequentemente aproximado pelos estudiosos ao romance de Marcio Souza, não apenas pelo estilo, mas também por se passar na Amazônia (peruana, no caso), por apresentar a face grotesca dos militares e políticos e pelo contexto mais geral da América Latina sob o autoritarismo.

Mais especificamente, a aproximação se faz pelo tratamento dado à prostituição e ao carregamento de mulheres para serem exploradas sexualmente, tema do romance de Vargas Llosa e de, pelo menos, uma passagem central de Galvez, quando um navio de Manaus chega ao Acre  com  duzentas jovens, importadas expressamente para alimentar a festa do Império, roubando os fiéis à missa de domingo.[48]


Herrera Luque

Se a tragédia colonial pode ser expressa pela sátira, ela também aparece como memória trágica, buscando apanhar no passado as marcas de uma espécie de maldição à luz da qual se pode entender melhor o presente. É o caso do romance de Tabajara Ruas, como vimos, e também de La Luna de Fausto (1983), do historiador e romancista venezuelano Herrera Luque,, que busca a “alma dilacerada da Venezuela”. Tal dilaceramento  poderia, entre outras coisas, explicar o insucesso do projeto de Bolivar, sobre o qual, aliás, o mesmo escritor tem outro livro. Mas aqui nos interessa recuar com ele ao raiar da modernidade e acompanhar a aventura dos conquistadores na louca corrida pelo ouro e nos enfrentamentos com os  fantasmas da floresta.

Herrera Luque, médico psiquiatra, tem numerosos romances e ensaios.[49] Por meio deles, revisa a história da Venezuela, querendo narrar o que a história oficial mitifica ou silencia, mas interpretando-a à luz de uma espécie de determinismo psíquico. As personalidades históricas das elites venezuelanas aparecem como psicopatas e a idéia que volta sempre mais ou menos explícita é que a violência da colonização teria marcado a índole do venezuelano. A herança da violência geraria o caos, ainda no presente, como observa Luis Britto García, opondo-se a esse determinismo, em “História Oficial y nueva novela histórica”.[50]

Em La Luna de Fausto, Francisco Herrera Luque consegue criar um romance dos mais elogiados na literatura venezuelana contemporânea. Conta a história de Felipe Von Hutten, nobre empobrecido da Franconia, criado sob as asas do rei Carlos V. Como o Eldorado o tenta, Fausto lê o seu horóscopo e descobre que um final trágico o espera, caso insista nesse sonho. Mesmo assim, Felipe von Hutten adere à expedição que os banqueiros Welser, a quem a Venezuela estava hipotecada, organizam em busca da cidade amazônica dos tetos de ouro. Aí se juntam brancos, mulatos, indios e negros escravos. Na visão de Herrera Luque, os fundadores da Venezuela foram quase sempre aventureiros cruéis que legaram uma triste cultura do caos, da ambição e da perversão à Venezuela, da qual é quase impossível libertar-se ainda hoje. Essa, a maldição de Fausto. Não apenas a maldição de um homem, mas a maldição da violência colonial e neocolonial. No caso da Venezuela, para Herrera Luque, a maldição colonial é a maldição do Mantuano e de sua imitação pelo povo negro, mestiço ou índio.

Mas se em outros momentos de sua obra, o riso tempera a tragédia, em La Luna de Fausto esta reina sozinha. O que mais impressiona no romance é o clima de total e perene desconfiança. Qualquer ingenuidade pode ser punida com a morte, pois a conspiração está sempre a brotar onde menos se espera e o amigo de hoje pode ser o algoz de amanhã. Não há normas, só há incertezas e isso Hutten não está suficientemente preparado para enfrentar, como bom alemão que e´. Já se disse muito sobre a juventude como vítima nessa maldição colonial e neocolonial. Felipe de Hutten é um desses jovens sacrificados pela empresa colonial. Ele tem a marca da inocência juvenil que o diabo gosta de perverter, com seu voto de castidade e seu gosto pelas normas cavaleirescas.

O próprio Herrera Luque explica sua intenção de recuperar a memória perdida de um episódio impressionante da história venezuelana, alemã e da humanidade, quando escreveu o seu romance.(Luque 1983a). O autor, que realizou minuciosa pesquisa documental e bibliográfica para apoiar a sua narrativa, lembra que até 1775 havia escassos testemunhos sobre o Fausto histórico, mas que a partir daí se descobrem alguns documentos que atestam a existência do mago. Através desses documentos, vem à luz a história de Philippe de Hütten e seu mistério. Por que teria ele saído para a Venezuela? Se Fausto lhe avisara diversas vezes do grande perigo que corria e da morte terrível que o esperava naqueles terras distantes? Os banqueiros alemães que financiam a expedição, os Welser, teriam sido os mandatários. Pelas cartas de  Hütten ao pai, desde Coro, no ano de 1538, e, depois, ao irmão bispo, Mauritz, a humanidade pode conhecer parte de seus sofrimentos e más surprezas, das quais se dão a conhecer algumas cifras, como dos 490 homens, que teriam saído de Coro em busca da Casa do Sol e dos apenas 150 que teriam voltado. Esses números bem como outros detalhes da malfadada peregrinação de quase 3 anos, enfrentando fome, doenças, tribos belicosas, o escritor reúne como material básico para fabular um episódio singular da História colonial da Venezuela. O material é inspirador por si só, como as histórias das  amazonas, das quais o jovem Hütten  ouve falar pela primeira vez, quando vai em busca do eldorado. Elas teriam o dom diabólico da imortalidade. Fausto aí seria mulher, como voltaria a ocorrer em algumas retomadas posteriores do mito fáustico. Também os ódios e dissensões dos conquistadores entre si e, principalmente, dos conquistadores espanhóis contra os alemães, são utilizados por Herrera Luque para tecer a trágica história de Felipe von Hütten, em que se recria alegoricamente a história da conquista e o malestar da colonização na Venezuela e, por extensão na América do Sul.

Filósofo, pactário, nigromante, mágico, bruxo, farsante, o fato é que a profecia do pactário Fausto, pronunciada na era de Carlos V, se cumpriu e, em noite de lua cheia, como previsto, o jovem alemão é decapitado por ordem de  Juan de Carvajal e a cumplicidade de sua mulher, Catalina de Miranda. O que estava em jogo era o poder de governar a província. Curiosamente, observa o autor, as histórias da Venezuela que contam o sucedido com Hutten não mencionam a Fausto e tampouco no folclore se acharia rastros dessa história e do papel de Fausto nela. Herrera Luque se pergunta: por que? As respostas que encontra têm a ver com a especificidade da figura do demônio na América Latina, pois, diferentemente da Europa, em que o diabo se atualizou com a modernização, perdendo o aspecto monstruoso da era medieval, na Venezuela a figura ainda se aproximaria daquela divulgada pela iconografia do medievo. O demonio faustiano teria sido conservado, mas o resto teria sido esquecido. Na história de Hutten, aparece também o descabeçado em noite de lua cheia, do folclore da Venezuela, mas a repressão religiosa, muito forte, da igreja contra as superstições, poderia também explicar o apagamento da tragédia de Hutten da memória venezuelana: „Si en Venezuela la Inquisición arrancó contra las herejías negras, no haría otro tanto contra el mito de Fausto, oloroso a terribles herejías germánicas y falsamente luteranas?” (Luque 1983a: 135).

Por outro lado, além de o alemão não despertar identificação, pelo tradicional distanciamento dos espanhóis e dos nativos em relação a eles, a violência nessa terra teria sido tão comum e quotidiana, que o sucedido com ele não seria tão impactante. Finalmente, do lado dos espanhóis não haveria o fatalismo, mais próprio dos países nórdicos. Em lugar deste imperava um realismo crítico e uma certa secura. Nem o povo nem os reis de Espanha teriam sido amigos de bruxas e astrólogos, como os alemães. Assim, o pacto com o diabo dos astrólogos seria mais burla e daria mais em rechaço do que em castigo, aproximando-se da irreverência, apontada por Jerusa Pires Ferreira[51], na tradição popular brasileira.


Para continuar pesquisando

O que aqui tentamos foi apresentar, por contraste e analogia, algumas obras exemplares da comarca pampeana e da comarca amazônica, que recontam episódios e processos históricos aí vividos, fazendo dialogar fontes e personagens propriamente históricas com narrativas e figuras míticas. As guerras são tema freqüente dessa ficção e, com elas, as lutas de fronteira, as intrigas políticas, as disputas de poder, que envolvem sonhos, pesadelos, traições e mortes. O ouro é o móvel dos aventureiros que se confrontam entre si, mas também com os fantasmas da floresta. Mitos vinculados tradicionalmente à Amazônia, como o mito do Eldorado, das mulheres guerreiras, do boto e da cobra grande aparecem ao lado de figuras mitológicas e magias de terras distantes no tempo e no espaço, como  no caso das bruxas que perseguem Hütte, da cigana, que prevê o reinado de Galvez ou do Fausto, que vaticina a tragédia lunar  de Felipe von Hutten.

O Eldorado é tema fértil na narrativa oral e escrita. E é mutante na literatura como o foi para os aventureiros que andaram atrás dele em vão até morrer, como Hutten e seus homens que viajam de um lado a outro, percorrendo grandes distâncias, e não o encontram, porque ele se disfarça sempre em outra coisa e está sempre em outro lugar. Quando alguém pensa ter chegado lá, como Felipe von Hutten, fica-se na dúvida se não foi sonho ou alucinação.[52].

O mito continua presente  em escritores que o utilizam como metáfora das mazelas herdadas da colonização, seja de modo irônico, como é o caso de Marcio Souza, seja de modo quase lírico, como em Milton Hatoum. Em qualquer desses casos e momentos, a água o acompanha. O Eldorado é sempre húmido. Rios e chuva, humidade e calor fazem parte do cenário. E, com eles, vem a febre e a loucura, que alimentam um livro inteiro do peruano Francisco Izquierdo Rios (1910)[53]. Há também o Eldorado na literatura infanto-juvenil e até mesmo nos livros de auto-ajuda. São apenas alguns itens da longa pauta a seguir pesquisando. Fica aqui o convite para quem quiser morder a isca.


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[1]Chiappini, Ligia. “Ficção brasileira pós-Guimarães Rosa e o mundo rural”, in: Actas do Quinto Contresso da AIL, Oxford University, Oxford-Coimbra, 1998.

[2]Rama, Ángel. „Los procesos de transculturación em la narrativa lationamericana”, in: Revista Hispanoamericana, nr. 5, Abril de 1974, Venezuela: Universidad de Zulia. S. 48-71. Quando nos referimos neste texto ao que Rama chamou de  comarca pampeana, preferimos manter a grafia em espanhol,  em vez da grafia em português (pampiana).

[3]No que diz respeito à comarca pampeana, remeto ao projeto, i “Fronteiras culturais e cultura fronteiriça na comarca pampeana: obras exemplares”, cujos resultados parciais  estão acessíveis a quem tiver interesse ou curiosidade, na Community do mesmo nome, na plataforma do e-Learning da Freie Universität Berlin no link:

http://www.lai.fu-berlin.de/forschung/forschungsprojekte/aktuelle_projekte/grenzkultur_und__kulturelle_grenzen/index.html. O acesso a esse grupo virtual deve ser previamente combinado por e-mail a Ligia Chiappini (lchiappini@gmail.com) ou a Daniela Callado (danielacallado@yahoo.com).

“Presença da Literatura Latinoamericana: comarcas em contraste”, também consta de uma Community com esse nome, na mesma plataforma de e-Learning. Ambas as Communities são administradas pela doutoranda Daniela Callado, com auxílio de duas estudantes de Magister, Antje Hübel, sobretudo na elaboração da antologia da comarca pampeana e Sonia Vargas na da comarca amazônica. O presente texto é uma primeira tentativa de síntese no quadro desses dois projetos, embora limitado a poucos exemplos

.[4] Uma de doutoramento, concluída, por Eoná Moro na USP e várias de mestrado, na UFRGS e na FU-Berlin, como a de Túlio Medeiros, sobre o crítico Silvio Julio, a de Jelena Kaufheim sobre Victor Ramil, de Saskia Vogel sobre Joäo Simões Lopes Neto,  de Antje Hübel sobre a ficção uruguaia contemporânea, a presença, as características e o papel do português nela. Atualmente estão ainda em andamento as teses de Daniela Callado, sobre “O caso da gaúcha”, a de Túlio Medeiros, sobre os ensaios de Rodó e Silvio Julio  e a de Marcio Miranda Alves, sobre Érico Veríssimo e o jornalismo, orientada em parceria com Sandra Margarida Nitrini, do departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da  FFLCH-USP.

[5] Que yo también soy pueta: La literatura gauchesca rioplatense y brasileña (siglos XIX-XX), Madrid, Vervuert Iberoamericana, 2007

[6]Presença da Literatura Brasileira (3. Vols), org. José Aderaldo Castello e Antonio Candido, Difusão  Européia do Livro, 1968. Presença da Literatura Portuguesa, (3 vols.), org. Antonio Soares Amora/ Massaud Moisés/ Segismundo Spina, Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1961.

[7] O texto foi publicado em uma coletânea interdisciplinar, na Alemanha --Brasilien Heute (Brasil hoje),org. Costa, Sérgio, Kohlhepp, Gerd, Nitschack, Horst e Sangmeister, Hartmut, Frankfurt am Main, Vervuert, 2010, p.471-486-- mas sairá em português em breve no livro  intitulado Fronteiras da Integração: Mercosul e Cultura, organizado por Ligia Chiappini, Jan-David Hauck e Liana Timm, editora Letras e Artes,  Porto Alegre (no prelo)

.[8]Sobre as teorias da Ilha Brasil e seus desdobramentos, do Brasil colonial ao século XX, ajudando a inventar uma identidade nacional, amparada numa imaginação geográfica que naturaliza as fronteiras geopolíticas e fundamentando desde tratados de limites até a criação de Brasilia, como capital encravada no planalto central, veja-se o excelente livro de Demétrio Magnoli,O Corpo da Pátria - Imaginação geográfica e política externa no Brasil (1808-1912). São Paulo: Moderna, 1997.

[9] Imagem consagrada ao longo da tradição literária, desde, pelo menos, Sarmiento, no caso do Pampa e Euclides da Cunha, no caso de ambas as regiões

[10]Pizarro, Ana. “Hispanoamérica y Brasil: Encuentros, desencuentros, vacíos”. Acta Literaria Nº 29 (105-120), 2004 http://www.scielo.cl/pdf/actalit/n29/art07.pdf. Acessado em 15.03.09.

[11] Idem, ibidem.

[12]Como defende Flávio Wolf de Aguiar no texto intitulado “A América Latina não existe”, in: Martins, Maria Helena. Fronteiras culturais: Brasil, Uruguai, Argentina, Celpcyro/IEL, Porto Alegre, 2000.P. 65-68.

[13] Aludo aqui ao livro de Susan Sontag, Regarding the Pain of Others, New York:Picador,2003.

[14]Reverbel, Carlos. Apud Pagos, passagens e incertezas. Disponível em: Pagos, passagens e incertezas. Disponível em:http://www.celpcyro.org.br/documentos/Pagos_passagens_incertezas.pdf Acesso em: 16 de abril de 2009.http://www.celpcyro.org.br/documentos/Pagos_passagens_incerteza. pdf

[15] A expressão é do escritor Antonio Carlos Viana, em:  “O que restou do regionalismo?”, acessível no site: Estadão. Com. br http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081207/not_imp289826,0.php. (consultado em 02.02.2009)

[16] Eoná Moro, na tese já citada, compara a obra de Faraco com a de Mario Aguirre, do Uruguai, analisando em detalhe como ambos documentam reinventando momentos fundamentais da história gaúcha e gaucha. A tese de Daniela Callado, que se resume neste livro estende essa análise para outros ficcionistas do Rio Grande do Sul, do Uruguai e da Argentina, dando ênfase aos processos de construção da identidade feminina num mundo aparentemente feito só de e para homens.

[17] Editora L&PM, Porto Alegre

[18] Vitor Ramil / Ramilonga - A Estética Do Frio (2004), Porto Alegre, Satolep

[19] “O nosso pampa, tão comum e vário”. In: Martins, Maria Helena (org.). Fronteiras Culturais: Brasil-Uruguai-Argentina, Ateliê Editorial, Prefeitura de Porto Alegre, Centro Cyro Martins, São Paulo/Porto Alegre, 2002, p. 131.

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[20] Para Lukács, se perguntássemos sobre os traços peculiares do romance histórico,  em comparação com o romance tout court, só poderíamos responder assim: “no los hay”. Cf. Lukács, Georg. La  novela histórica. México, Ediciones Era, 1966, p. 298.

[21] No caso do Pampa, limitamo-nos aqui aos exemplos de escritores brasileiros, mas o projeto como um todo e publicações anteriores de alguns de seus pesquisadores expande o interesse por obras exemplares no tratamento da história na comarca pampeana, para autores da Argentina e do Uruguai, como é o caso de algumas das teses já mencionadas.

[22] O Continente, Ed. Globo, Porto Alegre, 1948, p. 284

[23] O termo é utilizado por Darcy Ribeiro. O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil,1996j, p. 447.

[24] Conforme demonstrou Eoná Moro, em dissertação de mestrado intitulada “História e Literatura em O Continente de Érico Veríssimo”, defendida na Universidade de São Paulo em 1998.

[25] Já se escreveu bastante sobre a força e o poder do chamado sexo frágil, dentro e fora do romance, mesmo da narrativa gauchesca. Mas, como  defende o texto de Daniela Callado  desta coletânea, ainda haveria muito a investigar para reconhecê-las como sujeito.

[26] Perversas Famílias, 1992, Pedra da memória, 1993, Os senhores do século, 1994)

[27] O site de Assis Brasil traz excelentes análises de sua obra, por diversos estudiosos. Entre elas, destacam-se os textos de Cecilia Zokner sobre a construção das personagens femininas e seu papel na história familiar e regional. Veja-se: “As Transgressoras”. In: HTTP://assisbrasil.org/luizanto.html (consultado em 15.07.2010)

[28] Alusão às palavras de Blau Nunes no início de Contos Gauchescos e Lendas do Sul. In:  João Simões Lopes Neto. Contos Gauchescos, Lendas do Sul, Casos do Romualdo, edição crítica com estabelecimento do texto, introdução, variantes, notas e comentários por Ligia Chiappini, Rio de Janeiro, Ed. Presença, Rio de Janeiro, 1988, p.34

[29] Videiras de Cristal, Porto Alegre, Mercado Aberto, 1990.

[30] Ao introduzir sua análise de Videiras de Cristal. In: Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 42, n. 4, p. 114-136. Cf. HTTP://revistaseletronicas.pucrs.br/face/ojs/index.php/fale/article/view/4117/3119

[31] O General Netto comandou na Guerra dos Farrapos um batalhão de escravos negros, os chamados lanceiros farroupilhas, que deveriam ser libertados no final, mas acabaram morrendo ou sobrevivendo feridos de corpo e alma no regime escravocrata que se prolongou no Rio Grande do Sul por mais meio século.

[32] Por ocasião de um debate, ocorrido no Museu Etnológico de Berlim, em julho de 2002, após a projeção do filme, feito a partir desse romance, no bojo do Simpósio Internacional já citado: “Fronteiras Culturais e cultura fronteiriça: Brasil, Argentina, Uruguay.”

[33] Masina, Léa. „Netto perde sua alma, de Tabajara Ruas: identidade fronteiriça e intervocalidade”, in: Chiappini, Ligia; Martins, Maria Helena; Pesavento, Sandra Jatahy (org), Pampa e Cultura: de Fierro a Netto, Porto Alegre, Editora da UFRGS, IEL, Celpcyro, Fu-Berlin, 2004. P. 196.

[34] Bento Goncalves, chefe dos Farrapos.

Tabajara Ruas. “Sobre o General de Souza Netto: do livro ao filme”, in: Chiappini (2004:186)

[35] Tabajara Ruas. “Sobre o General de Souza Netto: do livro ao filme”, in: Chiappini (2004:186)

[36] Sua anexação ao Brasil é posterior à Independência deste.

[37] É necessário ter em mente que, contrariamente ao que muitos imaginam, a Amazônia não é só floresta e rio e a Floresta mesma não é homogênea. Trata-se de uma região com grande diversidade de topografia, flora e fauna e, mesmo, clima. Há planícies, profundos vales e até mesmo grandes montes, como o mais alto do Brasil: o Pico da Neblina. Além das cidades, onde os caboclos convivem com imigrantes de vários países do ocidente e do oriente ou com seus descendentes, porque, tampouco se trata de uma terra vazia ou somente habitada por índios, população, aliás, que diminuiu muito ao longo do tempo, com o extermínio contínuo que sofreram e ainda sofrem.

[38] Estamos nos referindo ao que é usualmente considerado como Amazônia, mas é preciso que se diga que essa não é uma questão simples nem geográfica nem politicamente, como nos alerta o pesquisador e ecologista Evaristo Eduardo de Miranda, que escreve sobre “as muitas percepçðes dos limites da Amazônia na América do Sul e no Brasil”, porque se se utiliza um critério, como da bacia hidrográfica, por exemplo, escapam áreas que, segundo outros critérios, como da floresta equatorial, acabam sendo incluídas, para citar apenas dois dos mais importantes e freqüentes mas não suficientes para resolver o problema. De qualquer modo, como o mesmo autor admite, falar de Amazônia, mesmo sem poder defini-la com precisão científica, pode servir tanto à formulação e incrementação de políticas, visando a preservar o meio ambiente ou as pessoas e culturas da área. Além disso, do ponto de vista cultural (literário inclusive), o conceito de Amazônia é indissociável da percepção dos que a querem representar e representar-se nela. Ver: (Revista eco21 nº118), in: http://209.85.135.132/search?q=cache:ESHJHbwYjX4J:www.ambienteemfoco.com.br/%3Fp%3D1393+limites+da+Amaz%C3%B4nia&cd=2&hl=pt-PT&ct=clnk&client=firefox-a

[39]Veja-se, entre outros: Souza, Marcio. A expressão amazonense, Alfa-Omega, São Paulo, 1977. P.183.

[40] Naturalmente, reconhecem-se exceções anteriores no Brasil, como é o caso de Euclides da Cunha e do menos conhecido Inglês de Souza.. Sobre este e o tratamento de episódios históricos pouco explorados do ponto de vista dos oprimidos, como a chamada Questão Christie e a Cabanagem, mas também sobre a –Guerra do Paraguai e a Abolição, veja-se Leandro, Rafael Voigt.“Inglês de Sousa: Amazônia, História e Ficção, in Revista Água Viva,

[41] Enquanto Wilkens, na sua “epopéia do genocídio” (Marcio Souza, ob. Cit. P. 31), celebra o massacre dos índios Muhras pelos portugueses, no poema de Basílio da Gama o índio Sepé Tiarajú toma a cena como herói e mártir da grande guerra guaranítica contra Espanha e Portugal, virando do avesso o projeto ideológico do escritor, que era louvar o português e atacar os jesuítas.

[42] É importante assinalar que o modernismo chegou tardiamente á Amazônia. Há controvérsias a esse respeito, mas muitos afirmam que ele chegou apenas com a geração do chamado clube da madrugada. O Clube da Madrugada surgiu em 1954, como reação de jovens escritores ao marasmo cultural e ao provincianismo dos intelectuais conservadores. Curiosamente o nome da revista criada pelos modernistas gaúchos em 1925 era também Madrugada. u

[43] Para Vicente Franz Cecim (Belém, 1946), é preciso sonhar mais para ser digno do mundo mágico que os escritores amazônicos querem expressar. Por isso, Andara, que designa o lugar onde se encena uma viagem interminável pela Amazônia e pela vida (Viagem a Andara (1979...), é um nome inventado, como “Macondo”, de Gabriel García Marques.  Esse lugar, sendo a Amazônia, é, simultaneamente, como o sertão de João Guimarães Rosa, o mundo. Metáfora da vida sonhada, que corrige pelo mito as mazelas da vida real, o livro invisível quer repor o mistério da natureza, convidandonos a melhor respeitá-la.

[44] In: http://www.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_7/2011/03/06/ficha_agitos/id_sessao=7&id_noticia=35740/ficha_agitos.shtml. (consultado em 07.03.2011.

[45]Esse narrador em terceira pessoa é o alter ego do autor, que se apresenta como um turista brasileiro que teria encontrado o manuscrito de Galvez por acaso, numa livraria de Paris. Corrigindo e criticando a narrativa de Galvez, ele acaba expressando diretamente a desconfiança em relação às  diversas versões da História, como faz Érico Veríssimo, guardadas as diferenças textuais e contextuais.

[46] Cunha, Euclides. À margem da historia, São Paulo, Martins Fontes, 1999, p. 13

[47] Souza, Marcio. Galvez, Imperador do Acre, Rio de Janeiro, Editora Civilizacao Brasileira, Rio de Janeiro, 1978, p. 13.

[48] Vestígios dessa temática, em tom menor e mais delicado podemos constatar décadas depois no romance de Milton Hatoum, Órfãos do Eldorado (Cia. das Letras, São Paulo, 2008), seja na figura da ama do protagonista, Floripa, seja na da menina misteriosa, Dinaura, que ele encontra, ama e perde, porque é, ela também, órfã de um sonho dourado do qual só restou o nome. Milton Hatoum retoma e atualiza aí o mito do Eldorado, na versão da cidade submersa, o mito do boto, entre outros, que o ajudam a dar amplitude e densidade social a uma história individual de amor, perda e solidão.

[49] Los Viajeros de Indias (1961),La Huella Perenne (1969),Las Personalidades Psicopáticas (1969)

Boves, el Urogallo (1972) - relata la vida de José Tomás Boves,En la Casa del Pez que Escupe el Agua(1975),Los amos del valle (1979),La Historia Fabulada (1981-1983),La Historia Fabulada, segunda serie (1983),La Historia Fabulada, tercera serie,Bolívar de Carne y Hueso y otros Ensayos (1983),La Luna de Fausto (1983),Manuel Piar, Caudillo de Dos Colores (1987),Los Cuatro Reyes de la Baraja (1991),1998 (1992),Bolívar en Vivo (1997),El Vuelo del Alcatraz (2001):

[50] http://ffyl.uncu.edu.ar/IMG/pdf/3-LUIS_1.RTF.pdf. (consultado em 30 de julho de 2008).

[51] Fausto no Horizonte, Ed. Hucitec, São Paulo, 1995.

[52] Entre outras explicações sobre a origem do mito, que muitos chamam de lenda, é freqüente a que diz ser o homem dourado proveniente de Quito. Já a cidade de ouro, numa região mais vaga, entre o Peru e o Amazonas.

[53] No romance intitulado Dias Oscuros, Ediciones Trilce, 1950, traduzido ao português por  Chove em Iquitos e publicado no Brasil pelo Clube do Livro em 1975.