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TRADUÇÔES DE FRONTEIRA / FRONTEIRAS DA TRADUÇÃO:ALDYR GARCIA SCHLEE E O PAMPA  E-mail
Fronteiras Culturais

Mitizi de Miranda Gomes*


Trabalhar as obras de Aldyr Garcia Schlee leva sempre o pesquisador a pensar no contista da fronteira: aquele que nos mostra uma realidade que não é nem bem brasileira nem bem uruguaia – é um espaço intervalar, é um território próprio, com identidade e linguagem próprias. A presença desse escritor jaguarense no cenário literário gaúcho colaborou para que fosse colocada à mostra a realidade fronteiriça, cujas pessoas possuem uma cultura híbrida, resultante da união de duas culturas em permanente contato. Em um momento em que buscamos valorizar as diferenças, a presença dessa cultura de fronteira se impõe e reclama um reconhecimento.

Tania Carvalhal ressalta a necessidade de se estudar essas produções literárias da zona de fronteira, dando destaque especial às traduções, porque supõe que algumas traduções do espanhol possam integrar a literatura brasileira e que alguns trabalhos tradutórios possam elucidar questões referentes à identidade pampiana. Nesse contexto, a atividade de Schlee é significativa, pois ele é um escritor-tradutor da fronteira.

O autor jaguarense traduz do espanhol para o português e vice-versa, e também escreve em espanhol e em português e traduz as próprias obras. A primeira tradução que fez foi do texto Para sempre Uruguai, os melhores contistas uruguaios, junto com Sérgio Faraco. Traduziu ainda para o português Facundo: civilização e barbárie no pampa argentino, de Sarmiento, Pátria Uruguaia¸ antologia de Eduardo Acevedo Díaz, seus próprios livros El día en que el Papa fue a Melo, Cuentos de fútbol e Contos de verdades. A versão original desse último texto ainda permanece inédita, e, na avaliação do contista-tradutor “é muito melhor, mais sonora e mais autêntica que a versão” em português. Para o espanhol, temos a tradução de A Salamanca do Jarau, de João Simões Lopes Neto, e de Campo fora, de Cyro Martins.

O estudo da trajetória de Schlee no âmbito da tradução evidenciou que ele possui consciência acerca das regiões culturais para as quais traduz. Meu objetivo, ao analisar dois trabalhos tradutórios de Schlee – o da obra Facundo: civilização e barbárie no pampa argentino, de Domingo Faustino Sarmiento, e o da antologia de Eduardo Acevedo Díaz, intitulada Pátria Uruguaia –, é provar que o contista gaúcho buscou atingir públicos distintos, o que nos mostra, portanto, sua visão acerca dessas diferenças culturais.

Na esfera da tradução propriamente dita, Schlee, ao traduzir as obras de Sarmiento e Acevedo, mesclou culturas. No primeiro caso, fez o possível para aproximar o texto de Sarmiento ao leitor brasileiro, sem restringi-lo à zona de identificação cultural, recheando seu trabalho de notas de rodapé e explicações de todos os tipos. Já ao traduzir Acevedo, Schlee construiu um novo texto, este sim, mais restrito à região cultural, dando-lhe até um título próprio. Schlee escreveu uma obra coesa com fragmentos de romances e com contos do autor uruguaio, para provar a tese de que “o verdadeiro protagonista de suas obras épicas é a nacionalidade uruguaia”. Neste caso, Schlee traduziu uma realidade.

Para finalizar, lembramos que o trabalho tradutório de Schlee na zona fronteiriça objetivou mostrar a semelhança entre as culturas, esclarecendo à cultura alvo que as produções da gauchesca platina não diferem das produções da gauchesca do Rio Grande do Sul. Schlee trouxe para o leitor do Rio Grande do Sul fragmentos da Pátria Uruguaia que fundamentam o gaúcho, revelando que nós temos muito deles, que nós somos os mesmos. Para o resto do Brasil, o tradutor diz que o pampa é um só, ainda que o gaúcho do sul do país não fale língua espanhola. Nesse sentido, as palavras de Tania Carvalhal, quando diz que “a tradução é considerada atualmente como um recurso essencial nas relações com o Outro”, fazem-nos pensar que o ato tradutório é também uma forma de conhecer o outro e, conseqüentemente, de conhecer a nós mesmos.

 


REFERÊNCIAS

CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio: ensaios de literatura comparada. São Leopoldo/RS: Ed. Unisinos, 2003, p. 157.

Correspondência particular para mim, no dia 03 de outubro de 2006.

SCHLEE, Aldyr Garcia. “Uma antologia: Eduardo Acevedo Díaz aos pedaços, mas de corpo inteiro”. In: ACEVEDO DÍAZ, Eduardo. Pátria Uruguaia. Porto Alegre: IEL, 1997, 9-13, p. 10.

CARVALHAL, 2003, op. cit., p. 238.