Psicanálise e criação artística | Imprimir |

Juarez Guedes Cruz


O texto inicia lembrando o que Cyro Martins, em ‘Na curva do arco-íris’, diz sobre a criação de um personagem:

“..isso de inventar uma personagem é relativo quanto ao poderio que se tem sobre ela. Ela vai aos poucos perdendo a humildade de escrava, de criatura sem vontade, vai pescoceando, esticando a soga, parando p’ra comer pastos verdes da beira do caminho, o autor não quer se precipitar, não quer ser tirano, e ela vai tomando corpo e agarrando o freio nos dentes, até que endurece o queixo e nos arrasta para os rincões da imaginação que somente os gaudérios conhecem. E lá, muitas vezes, se arrinconam e se retovam”

(Martins, 1985, p.26)

A partir daí, são feitos alguns comentários a respeito da importância, durante o processo de criação, de livrar-se das amarras do lógico e do policiamento da censura, numa postura que lembra a situação mental do sonhador e fornece a premissa que fundamenta o restante do texto: em alguma região da mente estamos sempre sonhando. Essa atividade mental ininterrupta só não é constantemente percebida porque nossa atenção está, na maior parte do tempo, absorvida pelo que é mais útil, rápido ou eficiente na tarefa de adaptação ao mundo externo. Mais adiante é salientado o quanto, na história da humanidade, os artistas se constituíram nos guardiães do sonho. De maneira intuitiva, utilizaram e resgataram essa função da mente, geradora de significados, metáforas e imagens.

Na ponte entre criação artística e psicanálise lembra-se o quanto Freud mostrou-nos que, no conflito entre valorização dos sentimentos e mera adaptação às exigências do meio, contamos com os artista como aliados e em como A arte proporciona

“...uma reconciliação entre...[princípio de prazer e princípio de realidade]. Um artista é originalmente um homem que se afasta da realidade, porque não pode concordar com a renúncia à satisfação instintual que ela...exige, e que concede a seus desejos...completa liberdade na vida de fantasia. Todavia, encontra o caminho de volta deste mundo ... para a realidade... [transformando] suas fantasias em verdades de um novo tipo [a obra de arte]...”

(Freud, 1911, p.284)

O texto é encerrado com algumas considerações sobre o conto autobiográfico de Cyro, ‘O vórtice mágico’, que é utilizado como ilustração privilegiada do foi exposto, no artigo, a respeito das relações entre Psicanálise e criação artística.