III Jornada Cyro Martins sobre Saúde Mental | Imprimir |

Abertura


Cyro Martins estaria completando, neste 05 de agosto, 98 anos. É difícil imaginá-lo velhinho, recolhido, distante de tudo e todos. Principalmente porque a energia vital aflorava de sua mansidão num simples gesto, num comentário, reiterando sua consciência de estar no mundo. 

Essa  conjetura levou-me a pensar que  a  Programação desta nossa Jornada talvez pudesse ter um tópico a mais a abordar - os prazeres intelectuais e artísticos, a afetividade e suas implicações na qualidade de vida. Mas, repensando, vejo que esses são pressupostos, algo que perpassa todos os tópicos programados.

De fato, torna-se complicado valorizar a vida se não agregamos a ela  a satisfação que advém do conhecimento como  fruto de uma conquista. Isso implica percebermo-nos capazes de  estabelecer relações significativas  entre idéias, situações, fatos que, ao fazerem sentido para nós, passam a iluminar nossa trajetória  individual e nos ensinam a  compreender os outros, reforçando  nosso compromisso com o universo coletivo.

Também fica quase impossível aspirar a uma vida boa sem contarmos com vivências de emoções estéticas, através da fruição das artes em geral - literatura, música, cinema, teatro, artes plásticas. E resulta impensável buscar qualidade de vida efetiva se não valorizamos a convivência, as relações de amizade, em que se travam desde diálogos existenciais ao mais trivial bate-papo; se não cultivamos conversas e leituras  que provocam tanto o estranhamento do óbvio, das evidências,  quanto a satisfação de compartilhar idéias, sentimentos, aspirações.

Parece mesmo que são essas características humanas que nos permitem não sossobrar às “emoções de espanto”, como diz Cyro Martins, no trecho escolhido para motivar esta Jornada.

Maria Helena Martins