Revista Eletrônica CELPCYRO 12 - vol 2- INSS 2177-6595 | Imprimir |
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INTRODUÇÃO

Betina Mariante Cardoso*


O convite para o desenvolvimento desta edição temática da Revista Eletrônica  CELPCYRO, centrada no Humanismo Médico, despertou em mim a memória do colóquio Saúde Mental na Formação Médica, realizado em setembro de 1999 pelo CELPCYRO, de cuja organização participei. Naquela época, eu cursava o quarto ano da Faculdade de Medicina na PUCRS, e há alguns meses principiara meu interesse pelas disciplinas de Psiquiatria. Quando comecei a ler os ensaios médicos do Dr. Cyro Martins, no início daquele ano, principalmente aqueles sobre a relação médico-paciente,  senti um grande entusiasmo em compartilhar a leitura com colegas, acadêmicos, doutorandos e residentes. Eu considerava riquíssima a oportunidade de aproximação a textos que trouxessem um olhar ‘de outro tempo’ e, incrivelmente, tão contemporâneos, sobre as vicissitudes do trabalho do médico com seu paciente. Conhecia, então, o ‘Humanismo Médico’, em concomitância às minhas primeiras vivências naquela forma tão específica de relação humana, na rotina do Curso.

 Nosso dia-a-dia estava pleno de atividades práticas e teóricas, os estágios curriculares nos punham em contato direto com os pacientes, e conhecer mais sobre a comunicação com a doença e seu sujeito era essencial. Mais do que isso: fascinante. Mesmo em uma linguagem diversa da que estávamos habituados na rotina de estudos, os ensaios do Dr. Cyro colocavam luz sobre vários pontos do cotidiano na saúde, ainda tão presentes a despeito de um tempo tão outro.

Encantada com o impacto da leitura, lembro de ter ligado para a Maria Helena Martins, depois de uns seis ou sete textos lidos, para pensarmos na possibilidade de um evento de que participassem alunos de Medicina em colóquio com Professores, sobre o trabalho do Dr. Cyro Martins. A idéia, então, foi propor a alunos de diferentes etapas

(acadêmicos, doutorandos e residentes) que fizessem sua leitura de um texto específico e preparassem a apresentação; aos professores convidados, solicitaríamos que lessem o ensaio atribuído para a discussão no evento. Assim, para cada par Aluno-Professor, haveria um texto escolhido para a apresentação conjunta, como poderão verificar nos registros do evento.

Os trabalhos escolhidos relacionavam-se principalmente a temas em Saúde Mental, mas, em toda a proposta, haveria a preocupação em abordar a relação entre o médico e seu paciente. O mais importante de toda a reflexão, em nosso entender, era que a leitura fosse feita por indivíduos durante sua formação médica, realizando um diálogo com profissionais experientes. Ao evento chamamos ‘Saúde Mental na Formação Médica’.

Foi dada a partida. Montamos a equipe organizadora,  definimos os alunos e professores convidados, aspectos logísticos, patrocínios a serem buscados...E, em 13 e em 15 de setembro, realizamos o intento, com o apoio da Editora Artes Médicas e da AMRIGS, onde se realizou. Tivemos também a parceria do Ambulatório de Psiquiatria do Hospital São Lucas-PUCRS. Convidamos alunos e profissionais de várias instituições, o que enriqueceu em muito a releitura dos ensaios pelos pares.

Motivação do evento:
Relendo os ensaios de Cyro Martins sobre Saúde Mental, nos propusemos a repensar a importância dos temas abordados por ele, tendo em vista a formação médica. Consideramos essencial que esse trabalho fosse realizado por estudantes e residentes dialogando com profissionais experientes na formação e na prática da Medicina. 
Esperamos que nossa iniciativa beneficie novos médicos, ressaltando a contribuição de Cyro Martins para a Medicina, como profissional e humanista. A questão da Saúde Mental permeia todas as áreas médicas. No entanto, pouco é enfatizada fora do âmbito das áreas psico e neurológicas, no decorrer dos cursos. Os avanços científicos tornam cada vez mais necessário, ao estudante de Medicina, reconhecer que essa questão deve estar presente em sua formação, assim como estará em seu cotidiano profissional, independente da especialidade escolhida.”

Neste ano de 2012, treze anos depois, hoje na condição de Médica Psiquiatra e membro do Conselho Editorial desta Revista Eletrônica, fui convidada a organizar o número 12 de seu Volume 2. Foi então que pensei em reeditar  a leitura dos ensaios de Cyro Martins, desta vez de um modo diferente: multiplicando os textos entre diferentes jovens profissionais de saúde, para realizar  uma visita  multidisciplinar ao Dr. Cyro. Tal como na primeira ocasião, em 1999, conversei com a Maria Helena Martins, demos partida ao planejamento, e realizamos o propósito.

 Nosso objetivo é apresentar olhares sobre o trabalho do Dr. Cyro Martins. Olhares de quatro jovens Profissionais  de Saúde de hoje, já formados e no mercado de trabalho, na correria rotineira de suas funções profissionais, familiares, pessoais, enquanto mantêm o comprometimento aprendido e assumido durante suas formações: atender ao paciente, aliando a excelência científica, técnica e ética ao Humanismo em Saúde. Érico de Moura Silveira Jr., Liciane Costa, Cibele Pires Ferrari e eu, Betina Mariante Cardoso, integramos o corpo de autores desta edição temática em Humanismo Médico.

            Érico de Moura Silveira é Médico Psiquiatra, Especialista em Psicoterapia de Orientação Analítica e Mestre em Psiquiatria  pela UFRGS. Na Casa Editorial Luminara, é membro do Conselho Editorial, sendo ensaísta no livro  Kate Chopin: contos traduzidos e comentados-Estudos Literários e Humanidades Médicas -dessa editora. É também autor da resenha ‘Sobre Memórias de um corpo eviscerado’, livro de Elizabeth Brose, presente no setor de Humanismo Médico do CELPCYRO.

            No ensaio redigido para a Revista Eletrônica, Érico percorre, com excelência e afeto, a leitura de “A perda do processo criativo - prazer e sofrimento”, de Cyro Martins. Tece inter-relações entre sua vivência como leitor do referido ensaio e suas reflexões sobre a aplicação dessa vivência na prática em Psicoterapia, enriquecendo a profundidade de seu texto. Além do mais, a escrita é temperada com uma narrativa que convida ao colóquio. Conhecendo a criatividade e o tom da narrativa do colega, convidei-o para integrar esta edição, propondo a escolha de ensaios do Dr. Cyro que versem sobre Humanismo Médico. A escolha do ensaio, pelo próprio Érico, trouxe com vigor a resposta ao convite: a leitura, no Século XXI, de um ensaio do Médico Psicanalista e Escritor.

                Liciane da Silva Costa possui Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005).  Em 2010, realizou Especialização  em Educação em Saúde Mental Coletiva ,na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ano esse de conclusão do Mestrado em Ciências Médicas – Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É professora do Centro Universitário Metodista IPA e Preceptora de Enfermagem da Residência Integrada em Saúde Mental Coletiva da Faculdade de Educação da UFRGS.

 Como áreas de atuação, Liciane tem o Ensino  e a Assistência nas áreas de Enfermagem em Saúde Mental, além da Pesquisa em saúde e Ética em pesquisa.  Realiza, com os alunos do IPA, atividades que ligam as Humanidades à Saúde, experiência que descreve em seu texto. Em virtude de conhecer e de admirar o desenvolvimento dessas atividades dirigidas aos alunos, por iniciativa, competência e coragem da própria Liciane, convidei-a para integrar o grupo de autores desta edição.

                Cibele Pires Ferrari é Psicóloga pela ULBRA, graduada em 2009; atualmente, cursando Pós-Graduação em Saúde Mental Coletiva, também pela ULBRA. Atua, desde o período da Faculdade, nas funções ligadas a abrigos para menores, tendo realizado pesquisas em seu Trabalho de Conclusão de Curso ligadas à temática da Psicologia ligada ao Crime. Desde agosto de 2010,  trabalha na Fundação de Proteção Especial do Rio Grande do Sul (FPERGS), onde também realizou estágios curriculares durante a graduação. Sua ocupação atual, nessa Instituição, ocorre no Abrigo José Leandro de Souza Leite, na condição de Assistente de Direção. Considerando sua experiência com a rotina dessas instituições de Proteção ao Menor, e o envolvimento destas estruturas com a fragilidade dos contextos familiares envolvidos, propus à Cibele que fizesse a leitura de dois ensaios do Dr. Cyro Martins: ‘As Bases Psicodinâmicas da Delinqüência’ e ‘Reflexões Psicodinâmicas sobre a Família’, correlacionando-os com sua prática profissional em sua leitura. O resultado é um texto aberto, que conta ao leitor as perspectivas e vivências da autora, demonstrando o alinhavo entre sua excelência profissional e sua perspectiva humanista.

                Por fim, refiro que escolhi fazer a leitura do mesmo ensaio que coube a mim no evento ‘Saúde Mental na Formação Médica’, de 1999, já citado. O trabalho do Dr. Cyro Martins, intitulado Perspectivas Humanistas da Medicina Contemporâneaproporcionou-me, àquela época, reflexão acerca do Humanismo Médico. Pois foi essa reflexão que despertou meu interesse pela aplicação desse tema na vivência da relação médico-paciente e, por conseguinte, na prática das Humanidades Médicas, ferramentas para o Humanismo na Medicina e na Saúde.

                Com o encanto que tenho pelo assunto, abri, na Casa Editorial Luminara, da qual sou Diretora,  e em parceria com o CELPCYRO, a linha de publicações em Humanidades Médicas. Com o mesmo encanto, aceitei o convite de Maria Helena Martins para desenvolver a edição deste número da Revista Eletrônica CELPCYRO. Dada a riqueza do tema, estou certa de que novos textos, partindo dos ensaios do Dr. Cyro nesse campo, seguirão à presente edição.

                Agradeço, em nome do CELPCYRO e da Casa Editorial Luminara, aos autores que aceitaram nosso convite para este desafio: a leitura dos ensaios médicos do Dr. Cyro Martins no Século XXI.

                                        
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