FRONTEIRAS CULTURAIS EM LIVRAMENTO E RIVERA - ATIVIDADES EM 2002 | Imprimir |
Fronteiras Culturais - Atividades
 1º SEMESTRE - Novas Charlas Fronteiriças Yamandú - Meu Avô

Dando continuidade aos trabalhos realizados no ano de 2001, para o Projeto Fronteiras Culturais, em Livramento e Rivera, coordenado por Maria Helena Martins, reiniciamos em março de 2002, dentro da programação da rádio Cidade AM 1300, no programa Perfil de Mulher, as Charlas Fronteiriças, com o mote: O Que é Viver na Fronteira.

Esses encontros semanais, que no ano passado fizeram tanto sucesso, novamente reuniram pessoas das duas comunidades, valorizando a literatura gaúcha, em especial a obra Campo Fora/Campo Afuera, do escritor quaraiense, Cyro Martins. Participar deste trabalho tem algo de muito especial, principalmente porque temos a oportunidade de nos relacionarmos com pessoas dos diversos setores das comunidades de Rivera e Livramento, sentindo que a cultura aproxima os povos e forma laços tão importantes. Lembrando as palavras da Diretora de Cultura de Rivera, Alma Galup, como um amálgama, unindo brasileiros e uruguaios num só objetivo: aprender a valorizar a riqueza cultural deixada por nossos antepassados, e que faz parte da nossa história, e através deste conhecimento e desta valorização proporcionarmos alternativas econômicas para o desenvolvimento das duas cidades.

Iniciamos a série de entrevistas ouvindo a presidente da Academia Santanense de Letras, professora Maria Helena Schor, nascida em Porto Alegre, mas que se considera uma santanense por adoção. Com orgulho, diz que o professor é o único profissional que tem todos os dias horário marcado e uma platéia à sua disposição para escutá-lo. Integrar a cultura e o turismo através de um investimento financeiro, na sua opinião, seria uma solução viável para enfrentar as dificuldades por que passa esta fronteira.

Para o Vice-prefeito de Livramento, Ângelo Santanna, Viver na Fronteira antes de mais nada é uma dádiva. Atravessamos uma rua e identificamos hábitos e culturas diferentes, e ainda, temos a possibilidade de convivermos com as culturas hispânica e lusa. São duas comunidades próximas, com duas raízes distintas que permanecem puras dos dois lados. Lembra que as autoridades centrais atrapalham muitas vezes nossa convivência, por tomarem decisões longe do palco de operações. Um exemplo é a atitude do governo do Uruguai, ao virar as costas para o Mercosul, vinculando-se aos Estados Unidos. Nossas vivências não podem ser interrompidas e desmerecidas. A primeira manifestação dos vínculos entre Livramento e Rivera é na área cultural, temos duas línguas e duas literaturas, conclui.

A Diretora de Cultura de Rivera, professora Alma Galup, afirma que podem existir muitas definições do que é Viver na Fronteira, mas aqui vivemos em harmonia com alguns aspectos diferentes, com legislações e línguas distintas, numa irmandade que não existe no mundo, ajustando uma realidade e as necessidades em nossa forma de vida. Aqui, vivemos o que todo mundo aspira com duas realidades dessemelhantes. Existe uma placa de acomodamento da sociedade civil; as coisas se ajustam conforme as necessidades das comunidades.

A expressão da linguagem que aqui se forma é uma nova manifestação de que existe um amálgama, que funde dois idiomas criando novas palavras, comuns somente nessa região, de uma singularidade única. O caminho da divisa é sinuoso e os marcos nos dão a noção dos limites, o lado brasileiro com uma vegetação, o lado uruguaio com outra que se entrelaçam, num abraço contínuo e constante. No meio deste caminho, encontra-se o Cerro do Chapéu, marco natural da linha divisória. Para Alma, o único Mercosul que existe é o cultural, a cultura eleva o homem. "Somos singulares, buenos, somos importantes".

Na seqüência de entrevistas, conversamos com o professor Darci Lindolfo Müller, da URCAMP (Universidade da Campanha) que afirmou estarmos muito interiorizados, precisamos mostrar esta fronteira para o mundo. Para o Secretário da Educação de Livramento, Guilherme Elguy, no momento em que eu desconheço meu passado eu não tenho nada que me prenda ao presente, e a leitura da nossa história não está presa somente ao texto escrito, à letra, senão à escultura, à pintura, aos hábitos de leitura, aí está a importância de incentivarmos o estudante, para que busque sua identidade cultural. Durante a charla com a Chefe do Departamento de Cultura, professora Zélia Mendina, ela nos relatou que pretende dar continuidade aos trabalhos do Projeto Fronteiras Culturais durante esse ano, com várias atividades, entre elas: o Concurso de Poesia e Pintura; o lançamento do livro Crime e Castigo, do escritor Carlos Roberto Rangel, que narra o crime da calle Brasil, em Rivera, onde foi assassinado o quaraiense Waldemar Ripol, fato marcante para a história política, econômica e social do Rio Grande do Sul; e a leitura da peça teatral Palavras de Mulher, da autora santanese Raquel Gutierrez, radicada no Rio de Janeiro.

Velocínio Silveira, o popular Lenço Branco, recomendou a leitura, aconselhando que o livro é um amigo quieto que ensina. Sobre Viver na Fronteira, ele acredita que o que facilita a convivência nesses pagos é o parentesco que há entre uruguaios e brasileiros, a comunicação entre duas línguas, a cordialidade e a pronta informação, o ir e vir, o carnaval e o festival de pandorgas, que se realiza na Semana Santa, um evento que também só acontece em Valença, na Espanha. A sugestão de como divulgar a cidade e a campanha, seria através de filmes. E diz: "eu conheci Rivera diferente, a Sarandi era uma avenida de Plátanos. Em Livramento, os carreteiros tinham a praça Getúlio Vargas como ponto de referência para seus negócios. Para se chegar à Madureira, levávamos dois dias e duas noites. No Parque Internacional, existia uma quadra de tênis e uma carrière." E conclui: "nós precisamos nos conscientizar de que somos grandes, e que Deus é brasileiro".

O poeta Carlos Alberto Potoko participa do Projeto Fronteiras Culturais, e relatou que pretende iniciar um trabalho com meninos e meninas de rua, em conjunto com o grupo Do Respeito Surge a Paz, orientando a leitura dos contos de Cyro Martins, que considera puros e descontaminados de ideologias. A partir daí, cada menino fará um relato, utilizando sua linguagem contemporânea do que é hoje, Viver na Fronteira, e explica: "é necessário as pessoas desmistificarem a leitura, que não é feita só para os intelectuais, e precisa ser oportunizada a todos".

Concluímos nosso trabalho junto ao Projeto Fronteiras Culturais, conversando com Andréa Rodrigues, representante da Associação Cristã de Moços, parceira do Projeto, que orientou os ouvintes de como participar, e da importância da opinião de cada um sobre o Viver na Fronteira. A Associação Cristã de Moços auxilia o Projeto Fronteiras Culturais, dando o apoio logístico, oferecendo espaço e os computadores para os interessados em conhecer o trabalho desenvolvido no site www.celpcyro.org.br , e também continuará durante este ano, participando das reuniões e auxiliando a Secretaria de Educação do Município, no que for necessário para o sucesso deste importante projeto.

Foi muito gratificante poder participar deste trabalho, organizado pelo Centro de Estudos e Psicanálise Cyro Martins, sob a direção de Maria Helena Martins, principalmente por ter conhecido pessoas maravilhosas destas duas comunidades e de oportunizar encontros e debates no rádio, despertando a curiosidade de outras pessoas para o Viver na Fronteira Livramento-Rivera . Um viver sui generis, formado por dois povos, descendentes do índio, habitante nativo da região; do africano; do luso brasileiro; e do espanhol, que desbravaram o Pampa Gaúcho, deixando nestas plagas a marca da hospitalidade, da valorização do ser humano, e da coragem, demonstrada desde os primórdios, como nos confirma a história.Vivo em Livramento há 5 anos, e senti uma grande receptividade das duas comunidades desde o dia que aqui cheguei. Posso afirmar que Viver na Fronteira tem algo de muito especial, algo mágico, que nos faz amar essas duas cidades, e querê-las tanto como se aqui tivéssemos nascido. A verdade é que nascemos a cada dia. Reconhecer a mágica deste recanto no sul do Brasil e mostrá-la para o mundo deve ser o objetivo de cada um de nós, só assim, unidos, faremos essa região prosperar.

Livramento, junho de 2002

Noemi Kurtz
Jornalista e Assessora do projeto
Fronteiras Culturais em Livramento e Rivera


 

FRONTEIRAS CULTURAIS NAS ESCOLAS

A Profa. Carmem Regina Pedrozo, coordenadora do projeto na Secretaria de Educação Cultura e Desporto de Livramento, informa:

- Em breve acontecerá um Seminário de Educação da Fronteira, em que a pedagoga e artista Graciela da Cruz ( autora e intérprete das Canciones ouvidas neste site) organizará Oficinas de Criatividade com Professores, introduzindo-os ao Fronteiras Culturais

- A Delegacia Regional ( fronteira) de Ensino do Estado se une ao município, inserindo o projeto em atividades de teatro e dramatização que desenvolvem algumas escolas estaduais da região.


Atividade cultural conjunta CELPCyro/Meninos de Rua

A comissão municipal do MNMMR (Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua) fará um evento cultural do projeto do circuito nacional com o tema "Do respeito surge a paz" , a partir do dia 15 de junho. Serão oficinas de arte, recreação e literatura.

Os contos de Cyro Martins estarão fazendo parte deste fenomenal trabalho conjunto, cidadão e comunidade carente. Onde se buscará aparar arestas da dívida social para com estas formidáveis criaturas alijadas da boa educação.

Nos preocupamos com segurança, mas grande parte das pessoas em nossos dias está encarando o outro como ameaça, aproveitando para colocar pra fora preconceitos e falsos mitos muitas vezes escondidos. Atitudes assim atingem diretamente crianças e adolescentes empobrecidos, principalmente os que se encontram nas ruas. Vitimas que são da falta de oportunidade e do menosprezo da sociedade, serem vistos como perigo ou ameaça é devastador na formação de caráter e noção sobre si mesmos desses jovens. Trate uma pessoa com respeito e estará ajudando a dignidade dessa pessoa a vir a tona. A paz não será verdadeira enquanto a sociedade não incluir todas as pessoas numa atividade básica, como uma boa leitura. É aí que entra a leitura dos contos para estas crianças e elas, é óbvio, farão a sua interpretação por escrito num relato comparativo do que é viver na fronteira.

Bem, acho que é só.

Um abraço.

POTOKO