Meu avô palestino Imprimir
Escrito por Maria Helena   
Seg, 17 de Dezembro de 2012 10:30

O que está acontecendo na Palestina, não é justificável por nenhuma moralidade ou
código de ética. Certamente, seria um crime contra a humanidade reduzir o orgulho
árabe para que a Palestina fosse entregue aos judeus parcialmente ou totalmente
como o lar nacional judaico.  Gandhi

 

palestino

Para os judeus, Israel é a “terra prometida” para onde Moisés os levou. Para os católicos, é a “terra santa”, onde Jesus viveu. Para os muçulmanos, é sagrada porque foi de Jerusalém que Maomé teria subido aos céus. A região foi dominada por gregos, romanos e bizantinos. Em 639, os árabes a islamizaram. De 1099 a 1299, os cruzados cristãos a invadiram e em 1516 os turcos tomaram conta, Em 1917, os ingleses expulsaram os turcos e instalaram o protetorado da Palestina.

No final do século XIX, a imigração judia para a terra prometida começou a aumentar, especialmente após a fundação do Movimento Sionista , em 1897, que pregava a criação de um Estado próprio. Depois do apoio da Inglaterra à tese, a população judia quase triplicou. Os árabes, é claro, detestaram. Mas as atrocidades nazistas aumentaram a simpatia à causa judaica. Em 1947, uma resolução da ONU dividiu 26.000 quilômetros quadrados da Palestina (o tamanho do estado de Alagoas). Israel com 680.000 judeus ficaria com 55% do território e os 1,3 milhão de árabes com os 45% restantes. Os países árabes, claro, foram contra.

Israel proclamou sua independência em 1848 vencendo cinco exércitos árabes, conquistando assim, a força 80% da Palestina. Os 20% restantes foram ocupados pelo Egito e pela Jordânia. Mais de 700.000 palestinos, sem terem aonde ir, se exilaram em outros países, entre eles o meu avô materno Hassan Ahmad Shehady Saady, adotando o nome no nosso continente de Simão Fernandes, por receio da sua origem. Os pais dele se chamavam: Amay Chade e Sara Abdelamin do povoado de Safa na Palestina as margens do mar da Galileia. Veio para a América do sul por engano escondido num porão de navio de carga, chegou em Tucumán na Argentina em 14 de dezembro de 1914, com 23 anos, fugindo da opressão judaica. Depois foi para São Paulo, veio para Porto Alegre, onde a polícia forneceu-lhe uma carteira de identidade para estrangeiro nº 95.721. Viajou por todo o Rio Grande do Sul como mascate, onde conheceu em D. Pedrito a minha avó materna, D. Iracema. Ali casou, se estabelecendo com uma loja com o nome de “Otomana” depois trocou para “Casa Iracema”. Foi bem sucedido nos negócios e muito feliz no seu casamento, criou seis filhos: Niazi, Sami, Nadime, Zara, Maria e lógico, a minha mãe Leila Fernandes.

Na Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel derrotou o Egito, a Síria e a Jordânia, anexou Jerusalém, ocupou a Cisjordânia, o Sinai e as colinas de Golan, dobrando seu território. Para fazer a paz com os inimigos mais poderosos, devolveu parte do Golan à Síria, em 1982. Mas começou a colonização da Cisjordânia. Em 1987, os palestinos protestaram com a revolta da “Intifada”. Em 1993, pelos Acordos de Oslo, Israel reconheceu a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) como representante palestino e a OLP reconheceu o direito de Israel existir. Aprovou-se um plano de transição de cinco anos para a retirada israelense das zonas ocupadas e a transferência do poder à Autoridade Nacional Palestina. Hoje já existem aldeias palestinas autônomas e semiautônomas. Mas 40% de Gaza e 70% da Cisjordânia continuam sobcontrole israelense exclusivo. A ideia de um Estado palestino ainda é um sonho com sacrifícios desumanos.

Minha mãe e meus tios contavam que meu avô escutava as notícias pelo rádio sobre os conflitos no Oriente Médio. Ele ficava abatido e às vezes até chorava de tristeza. Tinha muita saudade da sua mãe e irmãos que ficaram na Palestina quando da vinda para este continente a procura de meios para o sustento da sua família. Aqui consolidado, sempre conseguiu remeter algum dinheiro para a sua mãe, pois ela era muito pobre devido à guerra que havia aniquilado a quase todos.

Acredito que esta é uma história muito semelhante à de muitos irmãos palestinos que saíram pelo mundo em busca de uma terra “prometida”, que, aliás, até hoje esperam por uma resolução da ONU. Contudo, alguns encontraram aqui um solo que nasça capim e um solo que nasce capim, segundo eles, é um bom lugar para se viver em paz, rejuvenescedor de esperanças e um lugar de haz saiid (boa sorte) para se descansar, rezando para a Palestina encontrar a salam (paz).


Carlos Alberto Potoko