A neurociência será a solução? | Imprimir |
Coluna CELPCYRO - Colunistas

 

Franklin Cunha*

 

         Pelo dito e ouvido até agora, a respeito de novos projetos de pesquisa que tentam explicar certas alterações anatômicas cerebrais relacionadas com comportamento violento de alguns grupos de adolescentes, ou como escreveu certo oftalmologista, “que tal pesquisa busca aprofundar e ampliar o conhecimento sobre fatores geradores de violência  e identificar fatores que estimulam a agressividade e que buscam avaliar aspectos do funcionamento do cérebro que possam estar ligados a comportamentos violentos “. (sic)


        Então, na agenda e na mente de tais médicos-criminologistas, talvez estejam segura e até sinceramente plantadas, teorias de cunho pretensamente científico, visando erradicar o flagelo social da violência, através da tecnologia médica. Certos sociólogos da ciência, no entanto, afirmam que essas teorias e práticas, se desenvolvem graças a uma visão do mundo que objetiva tratar os problemas sociais através de um viés puramente técnico-científico, diante da impotência corretiva dos poderes judiciários e policiais e da aparente impossibilidade de se modificar os iníquos e imorais  desníveis sócio-econômicos vigentes.


         Em nome da assepsia moral da sociedade, esses partidários de um programa de higiene pública, de uma ortopedia social, pregam uma profilaxia médico-social tendente a  eliminar a criminalidade e – porque não ? - a vadiagem, a prostituição, as drogas, a promiscuidade sexual e a prolificidade reprodutiva, pressupondo-se, é claro, que tais costumes sejam exclusividade das mulheres, homens e crianças pobres. Alguns desses missionários sociais, exigem que se ponham em prática medidas mais radicais de eliminação de criminosos, vagabundos e vagabundas reputados como incorrigíveis, tais como a pena de morte, as esterilizações em massa , os castigos corporais e outros pensados, mas ditos, por enquanto, a sotto voce. As comprovações disso que afirmamos, estão claramente expressas nos meios de comunicação, no ideário  da classe média e médica, expostas frequentemente  em conversas privadas ou corporativas.


         Atualmente, a Neurociência é a deslumbrante deusa da mente a reinar no altar de médicos, psicanalistas e filósofos new age como solução até para problemas sociais.


          Esperamos, sinceramente, que esta nova e atraente ciência, produza frutos abundantes e dadivosos para todos os segmentos populacionais. Mas é bom que tenhamos em mente  um antigo truísmo que não deixa de ser uma verdade quando diz que assim  como os países, os indivíduos precisam acreditar em sonhos para viver e prosperar e que outras medidas como a eliminação da pobreza através da supressão de pessoas pobres, supostamente futuros criminosos,  mesmo antes de seu nascimento, são tão paliativas quanto enganosas, por nos fazer pensar que assim viveremos numa sociedade menos violenta e mais segura. Enfim num hipotético Brave New World.

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* Franklin Cunha -  Médico

Membro da Academia Rio-Grandense de Letras ( cadeira nº 9 )

Membro do Conselho Estadual de Cultura