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O Império do Crime* E-mail
Além da Letra



                            

 

 

                                   João Gomes Mariante**

 

Nos últimos dois séculos e já na infância do atual, a violência assumiu tal poder de destruição e aniquilamento que nos faz pensar numa severa e real prevalência do instinto de morte como proeminência na conduta humana.

Quando as pulsões de morte assumem o comando do proceder de um indivíduo ou de uma coletividade, a vida dos seres humanos e a existência de uma nação encontram-se profundamente ameaçadas.

A agressão e a violência sempre conviveram com os seres organizados, em todas as escalas e latitudes. A expansão catastrófica e praticamente incontrolável da agressão e da violência está a caracterizar o que se convencionou denominar de “inflação cósmica”, que se refere à superpopulação universal.

Essa violência já preexistia na galáxia primordial, na luta dos organismos primevos, na batalha dos cromossomos para que a vida continuasse por meio de uma contínua luta pela recuperação celular, com um organismo fagocitando o outro. Em um contínuo processo, construtivo-destrutivo, como primórdios das formas cósmicas e estruturais do Universo.

Hoje a violência continua se afirmando, e acrescida de intensidade. Porém, no interregno entre o passado ancestral da existência humana e o da era atual predomina uma profunda diversidade no que concerne aos processos de agressão, violência e extermínio. Diante do panorama pandemônico de pensamentos e comportamentos universais plenos de ambiguidades, dúvidas, equívocos e imprecisões, tem-se a impressão de que todos os recursos empreendidos para saná-los resultaram em grande falha e profunda decepção.

Vivemos em uma era em que os homens não se entendem, e que são incapazes de impedir os meios de agressão generalizada. São inaptos para descobrir as causas dos conflitos armados e dos desentendimentos diplomáticos. Não compreendem a comunhão fraterna; cuja sintonia de sentimentos tem como fim preservar os valores espirituais e proteger as conquistas da civilização. São inabilitados em preservar culturas que se extinguem e exercem influência, por outras formas emergentes, nas novas gerações .

Diante de tais malogros resta apenas o recurso mágico-animista de recorrer às benesses do destino como tábua de salvação, já que os destacados e improdutivos esforços da ONU e de outras instituições públicas e privadas têm sido inoperantes, mas, não de um todo, ineficazes. O esforço máximo das nações compara-se ao do beija-flor que levava no bico uma gota d’água para apagar um incêndio no paiol.

Freud em Futuro de Uma Ilusão acentua que, em relação ao destino, até os Deuses se mostraram inaptos e falhos para debelar catástrofes, e diz o seguinte: “Se eles próprios haviam criado o Destino, então seus desígnios deviam ser considerados inescrutáveis”.

Alvoreceu a noção no espírito do povo mais bem dotado da antiguidade, de que Moira, Deusa suprema do destino, estava acima de todos os deuses e nem ela evitou desgraças e calamidades.

No citado trabalho, Freud acentua as diferenças, as semelhanças e os antagonismos entre civilização e cultura. Partindo de tais premissas tentarei abordar o tema referente aos dois enunciados e as preponderâncias que exercem sobre a agressão e a violência universais. E, em especial, a ação da mídia falada, escrita e televisionada como fator de fomento, impulso e incitamento às ações criminais. Não será nímio acentuar a complexidade e a extensão do tema a ser explanado mais amplamente, dada a limitação do tempo.

Quem vos fala neste momento vale-se do direito que lhe outorga a oportunidade de bordejar o tema, dado o seu passado de jornalista, função que exerceu em vários jornais do Rio de Janeiro, entre eles no extinto Correio da Manhã. Nessa faina adquiriu algum conhecimento e um pouco de experiência e aprendizado, que lhe concederam o direito de analisar os assuntos como psicanalista e comentá-los como jornalista.

A ação da mídia, em tal contexto, reveste-se de características complexas, por que diante de uma cultura generalizada de propagar o exibicionismo, como praxe de imprimir notícias detalhadas e amplas sobre ocorrências policiais, exerce, na maior parte das vezes, mais estímulo do que prevenção às próprias atuações criminais, como exemplificarei a seguir.

Os efeitos e consequências dessa modalidade de divulgação, comumente com matizes sensacionalistas que os profissionais da mídia realizam com os mais altos propósitos de informar e esclarecer os meandros do crime, não raro funciona como uma massagem narcisística no antro do criminoso. Todo ele não discrimina o bem do mal, o amor do ódio. O seu desprezo pela vida, pela honestidade, pela decência e pela honra, inexistem inteiramente no seu próprio ser. Assim é que o noticiário desabonador, que embora o incrimine e o rebaixe, apenas o exalta e o eleva, por que, entre outros aspectos, fazem com que introjete as denúncias e as acusações como um aplauso às suas atuações delituosas, muitas vezes e, paradoxalmente, assumindo um sentido antagônico ao que em realidade pretendem.

Certas manchetes sobre a atuação negativa do delinquente significam uma exaltação à coragem, à bravura e ao seu destemor.

O noticiário sensacionalista estimula e induz comparsas e aspirantes ao crime e a delinquência, e os encorajam a seguir a mesma trajetória do capo que se transforma em “herói”. Para esses, a ausência nas publicações torna-se insuportável. Surge a inveja em relação aos que estão em evidência. Então, os “esquecidos” da mídia, revoltados e feridos na vaidade e no narcisismo começam a executar quaisquer crimes, dos menores aos maiores, por conta da identificação com o que está em destaque, e pela frustração de não serem tão protegidos e afagados quanto eles.

O sociopata nutre um profundo desprezo pela honradez, pela moral, pela honestidade e pela vida. Ele é amoral, paranoico e onipotente. É insensível diante da dor e do sofrimento alheios. Não possui sentimentos humanos nobres, desconhece a compaixão, o respeito pelo outro, e a culpa, que é sempre projetada no mundo externo.

Os sentimentos de amor, solidariedade e respeito por outros seres, humanos ou irracionais, permanecem congelados. Para não sentirem dor e culpa, que são sentimentos projetados na vítima, recorrem a uma forma de anestesia interna.

Assinalar condições patológicas e reprováveis, e designá-las com o epíteto que lhes pertence, significa o mesmo que proferir encômios e louvores à coragem e à bravura, e, ainda, estimulá-los a galgar as culminâncias do crime, que assumem o significado de um aplauso.

Tais procedimentos os instigam a acirrar disputas e posições de mando entre os asseclas e adeptos. Em suma, determinados noticiários em torno da bandidagem resultam em eficaz ibope e elevam a sua autossuficiência, e eles passam a desfrutar entre seus pares um elevado conceito e destacado prestígio. O assassino projeta na vítima um aspecto seu que ele deseja destruir, e quando ele a abate vive o ato como uma parte sua que ele “mata” por projeção, por que o alvo, sempre o outro, se transforma em continente.

A enunciada hipótese possivelmente possa esclarecer por que o assaltante dá cabo da vítima mesmo na inexistência de uma reação defensiva da presa, além do seu sadismo, que está implícito. Sabe-se que em todo sádico existe uma parcela de masoquismo, que em todo perverso, além de uma dimensão profunda e inconsciente de culpa, existe um propósito de reparação. Quando consegue conscientizar tais condições recalcadas abre espaço para uma possível regeneração, desde que ele encerre a condição de sublimar.

O advento da máquina e outros engenhos e pertences responsáveis pela transformação das atividades humanas, que os primitivos não possuíam, arvorou-se em móvel de angústias que são descarregadas através de ações criminosas. O século XX em especial, destacou a predominância dos impulsos de morte, evidenciou a presença de um profundo desprezo pela existência do homem e pelos instintos de preservação da espécie.

A máquina, como símbolo de mutação social, psicológica, antropológica, cultural e globalizadora, cumpre um papel preponderante na agressividade universal. Refiro-me a sua ação como elemento de desumanização dos seres humanos e de incremento à tirania e à escravidão que a técnica simboliza. A agilidade, a presteza e a rapidez dos meios de comunicação incidem sobre o crime e armam o criminoso para agir com mais presteza e eficiência, num ritmo caleidoscópico.

Não se põem em dúvida o papel preponderante do computador no concernente a rapidez e presteza que oferece e subsidia os seus utilitários. Mas, tais prerrogativas não lhe exime da responsabilidade de influenciar negativamente sobre a memória e a ideação. O grande auxílio, no que se refere à ligeireza, em contraste com o desusado método caligráfico, não lhe suprime a condição de “terceirizador do pensamento”.

Nos programas de edição de textos, letras e parágrafos aparecem e reaparecem, e a paginação é apresentada automaticamente. Os seres humanos atuais estão subjugados, dependentes e cativos da tecnologia. O aperfeiçoamento do robô como sucedâneo da imagem e da configuração plástica do homem e de sua imagem, está criando uma nova dimensão representativa da espécie, e até pretendendo adjudicar-lhes condições sentimentais e sensoriais. Há robôs que riem e choram. E, segundo um de seus criadores, exercem a condição de pensar. Tais propósitos transmitem-nos a impressão de que na ausência de amor e solidariedade e da ação desumana, que despencaram em cheio sobre o universo, o homem está empenhado na faina de humanizar o computador, de imprimir-lhe traços análogos aos dos seres viventes, e registrar algo de humano para o cadastro da história. O espectador, escravizado às exibições televisivas, vassalo de uma cultura alicerçada na trilogia “sexo, violência e sangue” como símbolos e atração das massas, em torno das divulgações midiáticas sobre o crime e a sexualidade desenfreados e sem controle, coloca-se numa incômoda posição, entre a angústia e a curiosidade, entre o sinistro e a sexualidade, que tais mensagens encerram.

Vejo em tais propósitos, de dotar objetos externos de condições análogas aos seres humanos, o intuito de restituir, de imprimir-lhes o afeto, a ternura e o amor, que vêem-se ausentes na vida atual, como grãos de areia escorrendo de uma ampulheta.

A hipótese seria a de que seus criadores buscam se afirmar perante a história, para que ela preserve e guarde um registro antagônico ao status imperante, e não consignar apenas o deplorável e melancólico estado de inafetividade, egoísmo, indiferença e alheamento. Parece ser que a aspiração da indústria da cibercultura visa aliviar o mundo da eterna luta em busca de um pensador.

Dr. Mariante discursando

 

O papel das religiões


A generalidade das religiões oferece aos seus fiéis a perspectiva de continuar a vida após a morte. Com algumas variáveis, encerram o sedutor atrativo de uma existência eterna e paradisíaca, mediante a autoimolação ditada por reclamos patrióticos. O melhor exemplo recai sobre o “homem-bomba” que é geralmente personificado por adolescentes, aos quais os espertos em técnicas terroristas subministram prolongados e penosos ensinamentos, incluindo até lavagem cerebral, para os convencerem de que a morte vale a pena, e de que o único meio de guindá-los ao paraíso é imitar o paranoico assassino de Oslo. No estágio de aprendizagem o aluno perde a consciência de si mesmo e passa a seguir os ditames do self, convertido e já direcionado ao implacável ataque criminoso suicida, já agora agindo com a identidade do mestre. Se o criminoso-terrorista mantivesse a identidade primeva, não consumaria o atentado.

Então, o mensageiro do ódio e da vingança, pleno de coragem e intrepidez, enfrenta a morte com igual predisposição de quem preserva o ato de viver. Segue para a morte com a certeza premonitória de uma ressurreição.

Não raro o emissário leva junto à bomba colada ao corpo o sabor do triunfo e da vindita, sobre os ímpios inimigos da fé. No rápido andar até o Éden, sob o impacto de alucinações auditivas, soam-lhe acordes celestiais, em homenagem a heroicidade. O cadafalso que o espera assume a emulação de um templo engalanado.

O prosseguimento dessas táticas de guerra substitui um batalhão por uma unidade, por que sozinho consegue aniquilar milhares, e a ação poderá ser vivida como a representação do “soldado desconhecido”, transfigurado no “homem-bomba” que lá do céu vai “contemplar” as homenagens póstumas das flores depositadas em seu túmulo.

Diante de tal procedimento, as perspectivas de automatizar os métodos de ação psicótica baseada em princípios de compensação e recompensa paradisíaca, estão se difundindo amplamente. O exercício dessa execução tende a valorizar mais a morte do que a vida, por que encerra um expressivo componente paranoico e onipotente, ensejando ao aspirante ao heroísmo a possibilidade de ser dono do seu destino e de usufruir a condição de planejar a própria morte com vistas à existência, ao perdão e a glória eternas, equiparando-se destarte à condição e a imagem de Deus. A sedução de viver a vida depois do término da existência num ambiente de pleno estado de prazer e regalias, sob a tutela de milhares de virgens a disposição do SHAHIO (herói mártir que se imola) está em franco desenvolvimento e a contar com mais adeptos à disposição do terrorismo universal.

São essas, a meu ver, as principais causas da angústia coletiva. E uma das reações para evitá-la, ou contorná-la, está centralizada na expansão da homossexualidade. Mas antes de evidenciar alguns aspectos do complexo tema, devo esclarecer, que minha posição a respeito, é exclusivamente a do psicanalista, que é a de analisar, sem julgar, anatematizar, rechaçar ou concordar.

A hipótese que postulo sobre o conturbado tema é a de que a homossexualidade, e principalmente a sua expansão generalizada e global vista do ângulo psicanalítico, opera-se, entre outras causas, por uma reação contra a angústia, contra o temor da extinção do planeta, que a qualquer momento poderá transformar-se em partículas indivisíveis e fragmentadas. Hiroshima, Nagasaky e Fukoshima falam mais alto.

Concluindo, diria que o casamento gay, além das garantias legais que subministra aos seus integrantes, é a conscientização de fantasias inconscientes de estabelecer uma geração híbrida e infecunda que visa estancar a procriação humana. A junção dos mesmos sexos, no ato matrimonial, seria uma reação profilática, uma proteção contra a superpopulação mundial, que põe em risco a continuidade da espécie. E, tal procedimento, poderia ser traduzido por uma virtual mensagem: “Se somos como ele, e ele é como nós, de nós não nascerá ninguém”. Para quê? Qual propósito encerra o ato de colocar mais integrantes no mundo? Para extinguir-se à míngua de oxigênio, para sucumbirem vítimas da violência, da ação do HIV, do assassinato de crianças pela fome e para serem vitimados por balas perdidas e outros flagelos que assolam a nossa espécie?

Traços psicológicos do assaltante


Todo o assaltante é um suicida virtual inconsciente e até consciente. O ataque à vítima é um acontecimento geralmente previsto, planejado e calculado para render o adversário. A hipótese de ele ser um suicida está fundamentada na possibilidade da reação da vítima, no revide da polícia, que é sempre factível. A maioria dos assaltantes, no ato de assaltar, está sob o impacto de profunda tensão, são tomados por expressivo temor e envoltos numa enorme angústia que descarregam através da agressão violenta e fatal, o que comumente ocorre. Creio não estar afastada a hipótese que, por medo da morte, encarregue alguém de suicidá-lo.

O assalto pertence a uma categoria de crimes bastante diferenciados, por ser configurado como um ataque traiçoeiro, repentino e impetuoso; que confunde, atemoriza e desorienta a vítima, geralmente desprevenida. O assalto configura mais uma abordagem à traição e uma emboscada súbita que envolve, assusta e promove uma sideração na mente da vítima.

Eis porque ela constitui uma modalidade que ofusca, paralisa e obscurece a percepção e a condição de pensar. Diante de um temor profundo, a obnubilação apaga completamente a percepção da realidade. A arriscada investida criminosa encerra ainda outros sintomas como o espanto, o pavor e o pânico.

Diante de tais circunstâncias, não raro a vítima reage instintivamente com movimentos arrebatados e reflexos, o que assusta ainda mais o agressor, que a vê como ameaça e não se faz esperar para acionar o gatilho. Tais reações do criminoso ocorrem principalmente por que, via de regra, ele está em estado segundo, fora da realidade.

Muitos desfechos fatais dessa forma de crime cabem, às vezes, à ação intempestiva da polícia; que representa o terceiro incluído na cena do crime.

O estado de tensão, a angústia e o medo apagam ou debilitam a capacidade de atenção e reflexão.

Nesse momento, que poderá durar apenas um instante, é frequente a ocorrência de um curto circuito mental entre assaltado e assaltante.

Presumo que, se a polícia se conscientizasse de tais sintomas, se fosse instruída por noções psiquiátricas respeito do crime e da personalidade do criminoso, muitos casos fatais seriam evitados.


Considerações sobre o crime


Não será possível negar que entre as inúmeras causas e consequências da proliferação assustadora da expansão criminal no universo figure, em primeiro plano, a ação do discurso político, especialmente daqueles que exercem influência e sedução nas massas.

Creio que em tal sentido, não se olvidou uma terrível mensagem, de um ex-presidente dos U.S.A no seguinte teor: “bombardearemos... o país tal (‘prefiro não citar o nome da nação ameaçada, por respeito a ela e para não constranger seus habitantes’) até transformá-lo em pedra”.

Penso que o sentido e o significado da mensagem dispensam qualquer comentário. Esses e outros pronunciamentos, oriundos de líderes universais, positivamente não exercem influência nos espíritos equilibrados e pacíficos, servem apenas aos portadores do ódio e aos adeptos do extermínio tão generalizado no mundo em que vivemos.

O que estamos propondo é uma outra visão, oposta a que predomina na atualidade sobre o crime e a criminalidade. Tal postura não deverá por certo significar que se esteja sugerindo a redução das penas ou que se vá dispensar regalias e benesses ao criminoso. O que se está sugerindo é uma nova diretriz que anule ou modifique o arraigado propósito e a intenção latente ou manifesta de castigo e de vingança, com o intuito de substituí-las, de regenerar, educar, conduzir e orientar.

Presumo que a adoção de um conceito diferente sobre o criminoso, contribuiria para ampliar melhores conhecimentos a respeito do crime. Certamente estenderia a visão dos que se empenham direta ou indiretamente em solucioná-lo.

Enquanto perdurar tal concepção e modo de pensar sobre o crime, o problema continuará sendo o que sempre foi: uma diátese social e um enigma sociológico. Enquanto esse enigma não for decifrado, continuaremos como prisioneiros, atrás das grades de nossas próprias casas.

 

A formação reativa e a sublimação

Sabe-se que a formação reativa é um mecanismo de defesa da personalidade, que traduz uma conduta e um hábito psicológico oposto e antagônico a desejos e fantasias reprimidas. Caracteriza-se especialmente pelo entrechoque de conflitos instintivos em pugna dentro do self.

Tais sintomas poderiam ser assim definidos: o que o instinto pede a consciência impede, ou ainda, o que o Ego sente, o Super Ego anula.

Os exemplos são numerosos. Em síntese, poderia citar apenas alguns. Entre eles o excesso de pudor, como sendo a contrapartida de uma fantasia inconsciente de exibicionismo, ou até mesmo de prostituição; o ritual de limpeza, como réplica de um sentimento interno de sordidez; ou uma pessoa com intensa propensão para incendiário, que poderá impedir tal eclosão instintiva tornando-se um eficiente soldado do corpo de bombeiros; um criminoso em potencial, que poderá coarctar a irrupção da tendência patológica ingressando na polícia, porque, de certo modo, a organização policial e seus congêneres representam uma dimensão controladora e repressora da propensão criminosa. Nela os integrantes sentem-se amparados e protegidos, e até estimulados para a realização de fantasias latentes ou desejos manifestos de ordem criminosa. Nessas conjunturas, o indivíduo considera-se amparado, protegido e até mesmo estimulado para cometer toda a sorte de deslizes, desonestidades e até mesmo o próprio crime contra a pessoa e contra a sociedade, porque, entre outros motivos, ele considera-se amparado pela lei.

A exceção ocorre quando o policial sublima as inclinações criminosas e adota uma conduta retilínea, honesta e digna. Isto é, quando tais inclinações são estancadas e substituídas por outros valores, e permanecem apenas na fantasia e no desejo. Em tais casos mantém controle dos instintos. Quando não consegue, descamba para a contravenção e o crime. Estará assim caracterizado o “fracasso da repressão”. O melhor exemplo é da ruptura das comportas de uma represa.

O ser humano, ao exercer a sublimação através de uma atividade artística, de um trabalho criativo, de um labor assistencial, de uma ocupação filantrópica, de um ofício religioso e místico e, até, mágico, estará descobrindo uma forma de substituir impulsos e tendências criminosas, por atividades sociais construtivas. Esses impulsos conservam-se latentes dentro do Ego. E tiveram início em épocas remotas do desenvolvimento emocional primitivo da criança que, ao não lograr uma canalização exitosa, poderá transformar-se num perturbado mental, num delinquente, num ser antissocial ou num temerário criminoso.

O século XX registrou os mais terríveis e chocantes episódios, as mais expressivas tragédias e os mais profundos desequilíbrios entre os grupos.

Pôs a descoberto a identidade nuclear de um criminoso, de uma individualidade e de um grupo e, de certa maneira, apontou-nos em especial nas execuções terroristas, como consequências das revelações.O século da aceleração, da rapidez que revolucionou o pensamento e a cultura, e abalou as estruturas da civilização, não brindou segurança, nem tranquilidade aos seus habitantes.

Esse torvelinho é pautado por ocorrências simultâneas, algumas de caráter benéfico e outras atentatórias à existência, fazendo com que as ações humanas desfilem como imagens caleidoscópicas, não contribuindo para tranquilizar nem acalmar a angústia universal, não fornecendo tempo para pensar.

Nesta época de rapidez e açodamento fala-se rápido e pensa-se pouco diante do predomínio da taquicardia da palavra e da bradicardia do pensamento.

No embalo das descobertas, dos achados e das conquistas científicas, que ocorrem também em tempo célere, convertem-se em fenômenos obsoletos. As flamantes descobertas, em breve espaço de tempo, passam a figurar no arquivo morto. A essas somam-se as contingências, que nos levam a questionar a higidez de um “lapsus memoriae”, que acarretam mais inquietação e angústia e a desconfiar da nossa aptidão intelectual.

 

Senhoras e senhores:


Antes de concluir esta palestra, peço vênia para acrescentar considerações finais sobre a gravíssima questão da violência reinante na atualidade, e endereçá-las, especialmente, aos indiferentes, aos impassíveis, aos desligados e aos que a negam, sob a ação profunda de uma amaurose, como portadores de uma cegueira emocional.

O jovem século atual, acreditem ou não, está à mercê de um conflito nuclear, que pode ocorrer a qualquer momento. Basta apenas que um louco, como o assassino de Oslo, aperte o botão, ou que um líder carismático reviva os credos mortíferos oriundos do Palácio de Veneza e da Cervejaria de Munich.

Qualquer ataque pressupõe um contra-ataque. Um ataque com armas nucleares não seria revidado com as comblenhas de Canabarro ou as lanças de Bento Gonçalves, nem com as flechas Charruco.

Mensagens como essas são consideradas inúteis, estéreis, românticas a traduzirem apenas expressões idealistas e sonhadoras.

Diante de tais conceitos coloco-me no lugar do beija-flor e prefiro continuar sonhando, para levar uma gota d’água a um imenso lago, na convicção de que sem ela, o seu volume já não será mais o que foi.

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* Palestra de Abertura do Seminário O IMPÉRIO DO CRIME - 22 e 23 de agosto de 2011 - NOVOTEL - Porto Alegre - 

** Médico Psicanalista, jornalista e escritor, Diretor do Jornal MenteCorpo,  Proponente e Coordenador do Seminário O IMPÉRIO DO CRIME (Porto Alegre, 22 e 23 de agosto de 2011)