O escritor Luiz Sérgio Metz nasceu em 1952, em Santo Ângelo, Rio Grande do Sul, onde viveu sua infância e juventude. Escreveu em 1995, Assim na terra, cuja epígrafe, primorosamente escolhida, é um anúncio da impressão do Pampa:

Leio, quase toda noite,
E no inverno vou ao sul.

O Enterro dos mortos. Thomas Stearns Eliot

Esta estrofe, de Terra desolada, em inglês Wasteland, poema de T. S. Eliot, canta o Pampa desolado na memória do narrador. O leitor passará então a ser conduzido em uma jornada, sob a estação do inverno, através de impressões pessoais, pelo Pampa, o Sul de onde veio: “Canções de erguidas gargantas..., rugosos punhos enlaçados em rodilhas de couro, cederam e se sucederam sob o mesmo céu e desapareceram, ficando em uma de minhas casas um velho quadro... onde um homem sorve um mate numa manhã muito fria e descampada...., estou crescendo. Desta casa vejo a outra distante, entre luzes e livros. Quando estou em uma estou em outra, trazendo coisas que representam na distância, que está veloz, desarrumada... aspectos apenas de um tempo no outro. (METZ, 1995, p. 15)”

O Sul é uma memória que a “cultura” apreendida na cidade escondeu em algum recanto, e para revisitá-lo faz-se uso da linguagem metafórica: são sombras. “Longe, para trás, ficou o significado, a infância e sua sombra misteriosa.” (METZ, 1995, p. 126). A linguagem de sombra, utilizada, é uma impressão do Pampa ilustrada em escrita poética, metafórica. “Gomercindo pediu-me para escrever, para escrever no Pensário, e escrever sobre o Sul.” (METZ, 1995, p. 94). “Tradição não é grossura”. Ia bordando isso com as loncas, ouvindo sua voz me dizer que as grandes obras estavam no centro das melhores recordações do povo em resguardada cordoalha oral.” (METZ, 1995, p. 110).

Assim na terra é uma cavalgada de retorno, pelo Pampa, uma reconstrução do ser através das palavras, impressões impressas em uma grande metáfora de saudade.

Maurício Chemello
é Mestrando em Teoria da Literatura – PUCRS -
mfchemello@yahoo.com.br