CRISTINA MACEDO e o SARAU LITERÁRIO DA ZONA SUL - Porto Alegre | | Imprimir | |
A vivacidade e a desenvoltura que alimentam o SARAU LITERÁRIO ZONA SUL, há 10 edições, estão com Cristina Macedo - contista, tradutora e professora de línguas – que relata aqui um pouco dessa proeza
CELPCYRO - Como e quando surgiu a idéia do Sarau? Cristina Macedo - A idéia de um sarau literário vinha amadurecendo há algum tempo, quandoo poeta Rodrigo Garcia Lopes, meu parceiro na tradução de "Ariel", da
poeta norte-americana Sylvia Plath, avisou que estava vindo a Porto Alegre,
passar uns 4 ou 5 dias. Isto aconteceu em julho de 2008. Inclusive é curioso:
trabalhamos por quase 2 anos nos poemas de "Ariel", à distância. Só
viemos a nos conhecer pessoalmente, depois do livro publicado. CELPCYRO – A história do Sarau se liga a eventos circunscritos a grupos cujas afinidades são a literatura, as artes em geral, um certo gosto pela boemia, pelo prazer de ouvir e ser ouvido. Como se dá a seleção do repertório, a relação entre literatura e outras artes nesse contexto? Cristina Macedo. Acho que a literatura/poesia em um bar, ou cafeteria, ou ainda, restaurante, como tenho feito, permite uma descontração que um palco, por exemplo, não oferece. Quanto ao repertório, faço um ou dois encontros com o escritor antes do evento, e criamos juntos um roteiro. Seleciono cerca de 25 ou 30 poemas, que serão lidos, pelo poeta e por mim, na noite do sarau. CELPCYRO - A itinerância – um dos aspectos originais do evento - foi pensada desde o início? Tem a ver com variação/ampliação de público e maior facilidade para realização? CELPCYRO – Isso também quer dizer que tua intenção é reunir pessoas com interesse pela literatura que possam vir a se conhecer, trocar idéias? Cristina Macedo - Gostaria de dizer que meu principal objetivo é a divulgação da literatura e, consequentemente, de escritores e poetas, sobretudo gaúchos. Já recebi, como convidados, além de Rodrigo Garcia Lopes e Ademir Assunção, Liana Timm, Élvio Vargas, Paulo Roberto do Carmo, Sergio Napp, José Eduardo Degrazia, Sidnei Schneider e Mario Pirata. Na 9ª edição recebi um grupo de intelectuais, que lançou o livro de ensaios, poesia e contos, Arca de Impurezas: Dione Detanico, Élvio Vargas, Lenira Fleck, Liana Timm, Maria Helena Martins, Neusa Matte, Renata Rubim, Tania Mara Galli Fonseca e Vânia Falcão. Nesta edição eu participei como autora também, porque faço parte desta equipe. Enfim, na 10ª edição, o poeta convidado é o gaúcho Jaime Medeiros Jr. A partir da 4ª edição, introduzi a música no sarau. Faço um bate-papo com o poeta, acima de tudo lemos sua poesia, e depois faço um fechamento com a música: em geral convido violonistas e cantores, com ênfase na música popular brasileira. Quando consigo relacionar o poeta com a música, é uma perfeita combinação, como no caso de Sergio Napp. Depois de nossa leitura, a cantora foi Ângela Jobim, que havia gravado um CD com músicas e letras do Napp. Também já convidei um casal de dançarinos de tango, para um pocket show após a literatura. Foi uma surpresa o sucesso do evento.
Cristina Macedo - O público que frequenta o sarau, vai pelo sarau. Isso é
CELPCYRO - O que é mais difícil para que esse empreendimento dê certo? O Cristina Macedo - Acho que a divulgação é um fator muito importante para o sucesso do sarau.Gosto daquele convite personalizado, onde falo, mesmo que via internet, individualmente com cada convidado. Cultivo este carinho com as pessoas que frequentam o sarau, gosto de recebê-las com toda a atenção, para que queiram sempre voltar. E tenho conseguido isso. Já tenho um público bem fiel. O mais gratificante, para mim, é, em primeiro lugar, meu papel de performer: isto é, descobri com o sarau, o quanto gosto de ler poesia. Junto a isso, megratifica muito divulgar o trabalho de nossos poetas e escritores. Por fim, também é maravilhoso ver e sentir as pessoas realmente ouvindo boa literatura. E se deliciando com isto. CELPCYRO – A escritora Cristina Macedo, nos contos de Arca de Impurezas (Território das Artes, 2008), traz um texto enxuto; provocam desconforto sua fluência e introspecção agudas. Principalmente não deixa ao leitor amparo para quando o fim chegar. Como te sentes lendo o que escreves? Cristina Macedo - Que interessante essa tua pergunta! Acho que ainda me surpreendo durante a construção do conto, porque minha personagem acaba sempre sem saída. Vislumbro, as vezes, outras possibilidades, mas o tema do suicídio é recorrente e perturbador. Depois do conto escrito, procuro, na leitura, sentir se consegui passar para o leitor esse desconforto de que falas. Nunca vou saber exatamente, mas, a idéia é bem essa. |