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Raras edições, poucos leitores, uma confraria* | Imprimir |  E-mail

Reportagem de Bruno Garschagen**



A história dos livros estaria incompleta sem um capítulo dedicado àquele tipo de leitor que vê nas obras, além de fonte de conhecimento e de prazer estético, um objeto. O interesse de montar um acervo especial é anterior ao próprio livro em seu  formato atual. O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) foi o maior compilador de
livros na forma de rolos do século IV a.C. Sua paixão o transformou num percursor do bibliófilo moderno, e sua biblioteca teria servido de modelo para a de Alexandria,
no Egito. Mas Aristóteles foi só o primeiro.



exemplares de edições especiais publicadas pela confraria


"Gosto de livros desde criança", diz o engenheiro eletrônico José Salles Neto, mineiro de Araxá radicado em Brasília, que há dez anos fundou uma confraria para
reunir os aficcionados e publicar livros com apuro artesanal. Já foram editados 17 títulos desde a criação da Confraria dos Bibliófilos do Brasil, formada hoje por 370
associados. São intelectuais, empresários, artistas, jornalistas e profissionais liberais. Entre eles estão Horácio Lafer Piva (ex-presidente da Fiesp), Sálvio de
Figueiredo Teixeira (ministro do Superior Tribunal de Justiça), Ricardo Semler (empresário), Paulo Betti (ator) e os banqueiros José Safra e Pedro Moreira Salles.


O mineiro José Salles Neto, presidente da Confraria dos Bibliófilos
do Brasil, em sua biblioteca particular, em Brasília


A confraria começou a se formar em junho de 1995, quando Salles enviou para quatro grandes jornais um pedido de publicação de uma nota que falava de sua
intenção de formar um grupo de amantes do livro. Às 23h30 do mesmo dia da publicação, Salles recebeu o telefonema daquele que seria o primeiro associado.
Do outro lado da linha, o então vice-presidente da República, Marco Maciel, queria detalhes do projeto. Maciel virou confrade e anos depois membro da Academia
Brasileira de Letras.

Nos dias seguintes, outros importantes bibliófilos aderiram ao grupo: José Mindlin, Waldemar Torres e Décio Drumond, um dos maiores colecionadores de edições raras.

Legalmente, a confraria é uma associação sem fins lucrativos. Reúne pessoas que apreciam especialmente livros como objetos de arte. Os livros editados pelo grupo

são elaborados por processos gráficos e de acabamento não convencionais e têm tiragens limitadas, de 300 a 500 exemplares. "Uma confraria que se preze deve

produzir edições limitadas, o que as torna diferenciadas e valorizadas até do ponto de vista monetário", explicou o presidente da entidade, que tenta manter uma

média de três livros lançados por ano. São sempre obras de autores brasileiros e ilustradas por artistas plásticos. Quando possível cada exemplar é assinado pelo

escritor e/ou pelo ilustrador.

A escolha dos livros é feita mediante uma eleição anual entre os confrades com base numa lista de dez opções de autores e obras específicas sugeridas pelos

membros. "Geralmente buscamos privilegiar autores que têm uma data significativa em comemoração", diz Salles. "Nosso próximo livro, por exemplo, será Noite, novela do Erico Verissimo."

Os títulos já lançados pela confraria abrigam desde escritores consagrados (Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, Menotti Del Picchia, Câmara Cascudo, entre outros)

aos menos badalados (Luís Jardim, Breno Accioly e Dyonelio Machado).

Salles, cuja biblioteca pessoal tem cerca de 15 mil volumes, sem contar o acervo de uma gibiteca com cerca de 3 mil exemplares, vibra ao falar dos livros editados pela

confraria. "Brinca-se que para o verdadeiro bibliófilo a leitura é o item mais secundário de um livro, e isso talvez seja verdade."

O processo de produção é basicamente manual, o que explica a demora na confecção de cada unidade e o preço - R$ 130 por exemplar. "Ainda assim não é

muito alto, levando-se em consideração suas características. Um best-seller, com tiragem de 5 mil exemplares, editado em gráficas modernas e com baixo custo, é

vendido por cerca de R$ 50", afirma Salles. As obras da Confraria dos Bibliófilos do Brasil são feitas sob encomenda. A impressão é feita colocando-se folha por folha

(cada página leva cerca de 19 horas para ser feita contra as 15 mil páginas produzidas por minuto nas gráficas modernas). O acabamento inclui costuras e

encadernação feitas manualmente em cada livro.

Por princípio, a confraria ignora as modernas técnicas de produção editorial. São essas qualidades vindas da confecção artesanal, garante Salles, que definem o

livro de uma confraria: uma obra que seja também um objeto de arte.

"Tenho gostado muito das edições", elogia o escritor e funcionário público aposentado Ruddy Mattos, confrade de número 30 que mora no Rio de Janeiro. Mattos soube da confraria ao ler um anúncio publicado no jornal. Colecionador de livros desde os 13 anos, orgulha-se de ter em sua biblioteca de 3 mil volumes a

primeira edição de Quincas Borba, de Machado de Assis, com dedicatória do escritor para a bela Amélia Machado Cavalcanti de Albuquerque, a viscondessa de

Cavalcanti.

Um dos elementos que particulariza os livros editados pela confraria é a ilustração.

Todos os títulos lançados trazem gravuras, xilogravuras, aquarelas, vinhetas, desenhos e gravações. "Geralmente, buscamos ilustradores notáveis", diz o

presidente. Além de artistas contemporâneos, a confraria conta com ilustradores com carreiras estabelecidas, como Poty, Marcelo Grassmann, Babinsky e

Darel Valença Lins.

Autor de seis capas de livros de Gabriel García Márquez, Darel fez ilustrações e foi também diretor técnico, entre 1953 e 1966, da Sociedade dos Cem Bibliófilos do

Brasil, entidade que inspirou a criação da confraria e de várias outras organizações similares extintas. Atualmente, além da confraria, há também a Associação dos Bibliófilos do Brasil, que realiza eventos periodicamente.

( cf. íntegra da reportagem em http://www2.uol.com.br/entrelivros/reportagens/raras_edicees_poucos_leitores_uma_confraria_imprimir.html)


Como entrar na confraria

A Confraria dos Bibliófilos do Brasil tem 370 membros e ainda há 30 vagas. José
Salles Neto, presidente da organização, diz que, assim como a tiragem dos livros,
o número de associados é limitado. Por isso, há uma seleção para decidir, entre
os interessados, quem se tornará mais um dos confrades. Salles explica que a
escolha é feita com base no perfil do candidato. "Não é nada muito rígido e não
tem uma fórmula objetiva." Há uma conversa informal, que pode ser por telefone
ou por e-mail, com o pretendente para conhecer a relação dele com os livros.
Quem quiser se candidatar a uma das vagas disponíveis deve entrar em contato
com a confraria pelo telefone (61) 3435-2598 ou pelo endereço eletrônico
conbiblibr@yahoo.com.br
.

 

A biblioteca dos confrades

1996
O Quinze, de Rachel de Queiroz. A edição tem oito xilogravuras feitas por Abraão Batista.

1997
"A hora e vez de Augusto Matraga", conto extraído do livro Sagarana, de Guimarães Rosa. A edição tem sete gravuras de Poty Lazzarotto.

1998
Juca Mulato, de Menotti Del Picchia. A edição tem seis xilogravuras feitas pelo artista Paulo Couto.

7 contos de Herman Lima, seleção de contos do escritor cearense. A edição tem sete ilustrações do artista plástico cearense Sérvulo Esmeraldo e uma aquarela na sobrecapa (impressa em serigrafia) feita pelo artista Aldemir Martins.

1999
Prelúdio da cachaça, de Câmara Cascudo. A edição tem oito xilogravuras feitas pelo gravador popular J. Borges.

Poesias de Augusto dos Anjos, com seleção e apresentação de Ferreira Gullar. A edição tem dez ilustrações de José Antonio Van Acker.

2001
Vidas secas, de Graciliano Ramos. A edição tem oito ilustrações de Glênio Bianchetti.

Galinha cega, Mansinho e outros bichos de João Alphonsus, seleção de contos do escritor mineiro. A edição tem quarenta ilustrações,sendo vinte xilogravuras, do artista plástico sergipano Leonardo Alencar.

2002
Pureza, romance do escritor paraibano José Lins do Rego. A edição tem dez ilustrações e vinhetas do artista plástico paraibano Flávio Tavares.

A polaquinha, romance de Dalton Trevisan. A edição tem oito ilustrações do artista Darel Valença Lins.

2003
Maria perigosa + cinco contos de Luís Jardim, antologia de contos do escritor pernambucano Luís Jardim. A edição tem ilustrações do artista plástico pernambucano Eduardo Araújo.

100 vezes Bandeira, antologia de poemas de Manuel Bandeira. A edição tem ilustrações da gravadora Renina Katz.

2004
Dez contos selecionados de Clarice Lispector, antologia de contos de Clarice Lispector. A edição tem ilustrações do gravador Marcelo Grassmann.

João Urso e outros contos de Breno Accioly, antologia de contos do escritor alagoano Breno Accioly. A edição tem ilustrações do pintor alagoano Pierre Chalita.

2005
Os ratos, romance do escritor gaúcho Dyonelio Machado. A edição tem ilustrações do artista Enio Squeff.

* Reportagem publicada em ENTRE LIVROS - Edição 4 - agosto de 2005.

**Bruno Garschagen é de Cachoeiro de Itapemirim (ES).