Raras edições, poucos leitores, uma confraria* | | Imprimir | |
Reportagem de Bruno Garschagen** A história dos livros estaria incompleta sem um capítulo dedicado àquele tipo de leitor que vê nas obras, além de fonte de conhecimento e de prazer estético, um objeto. O interesse de montar um acervo especial é anterior ao próprio livro em seu formato atual. O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) foi o maior compilador de
O mineiro José Salles Neto, presidente da Confraria dos Bibliófilos
A confraria começou a se formar em junho de 1995, quando Salles enviou para quatro grandes jornais um pedido de publicação de uma nota que falava de sua Nos dias seguintes, outros importantes bibliófilos aderiram ao grupo: José Mindlin, Waldemar Torres e Décio Drumond, um dos maiores colecionadores de edições raras. Legalmente, a confraria é uma associação sem fins lucrativos. Reúne pessoas que apreciam especialmente livros como objetos de arte. Os livros editados pelo grupo são elaborados por processos gráficos e de acabamento não convencionais e têm tiragens limitadas, de 300 a 500 exemplares. "Uma confraria que se preze deve produzir edições limitadas, o que as torna diferenciadas e valorizadas até do ponto de vista monetário", explicou o presidente da entidade, que tenta manter uma média de três livros lançados por ano. São sempre obras de autores brasileiros e ilustradas por artistas plásticos. Quando possível cada exemplar é assinado pelo escritor e/ou pelo ilustrador. A escolha dos livros é feita mediante uma eleição anual entre os confrades com base numa lista de dez opções de autores e obras específicas sugeridas pelos membros. "Geralmente buscamos privilegiar autores que têm uma data significativa em comemoração", diz Salles. "Nosso próximo livro, por exemplo, será Noite, novela do Erico Verissimo." Os títulos já lançados pela confraria abrigam desde escritores consagrados (Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, Menotti Del Picchia, Câmara Cascudo, entre outros) aos menos badalados (Luís Jardim, Breno Accioly e Dyonelio Machado). Salles, cuja biblioteca pessoal tem cerca de 15 mil volumes, sem contar o acervo de uma gibiteca com cerca de 3 mil exemplares, vibra ao falar dos livros editados pela confraria. "Brinca-se que para o verdadeiro bibliófilo a leitura é o item mais secundário de um livro, e isso talvez seja verdade." O processo de produção é basicamente manual, o que explica a demora na confecção de cada unidade e o preço - R$ 130 por exemplar. "Ainda assim não é muito alto, levando-se em consideração suas características. Um best-seller, com tiragem de 5 mil exemplares, editado em gráficas modernas e com baixo custo, é vendido por cerca de R$ 50", afirma Salles. As obras da Confraria dos Bibliófilos do Brasil são feitas sob encomenda. A impressão é feita colocando-se folha por folha (cada página leva cerca de 19 horas para ser feita contra as 15 mil páginas produzidas por minuto nas gráficas modernas). O acabamento inclui costuras e encadernação feitas manualmente em cada livro. Por princípio, a confraria ignora as modernas técnicas de produção editorial. São essas qualidades vindas da confecção artesanal, garante Salles, que definem o livro de uma confraria: uma obra que seja também um objeto de arte. "Tenho gostado muito das edições", elogia o escritor e funcionário público aposentado Ruddy Mattos, confrade de número 30 que mora no Rio de Janeiro. Mattos soube da confraria ao ler um anúncio publicado no jornal. Colecionador de livros desde os 13 anos, orgulha-se de ter em sua biblioteca de 3 mil volumes a primeira edição de Quincas Borba, de Machado de Assis, com dedicatória do escritor para a bela Amélia Machado Cavalcanti de Albuquerque, a viscondessa de Cavalcanti. Um dos elementos que particulariza os livros editados pela confraria é a ilustração. Todos os títulos lançados trazem gravuras, xilogravuras, aquarelas, vinhetas, desenhos e gravações. "Geralmente, buscamos ilustradores notáveis", diz o presidente. Além de artistas contemporâneos, a confraria conta com ilustradores com carreiras estabelecidas, como Poty, Marcelo Grassmann, Babinsky e Darel Valença Lins. Autor de seis capas de livros de Gabriel García Márquez, Darel fez ilustrações e foi também diretor técnico, entre 1953 e 1966, da Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, entidade que inspirou a criação da confraria e de várias outras organizações similares extintas. Atualmente, além da confraria, há também a Associação dos Bibliófilos do Brasil, que realiza eventos periodicamente. ( cf. íntegra da reportagem em http://www2.uol.com.br/entrelivros/reportagens/raras_edicees_poucos_leitores_uma_confraria_imprimir.html)
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