Carta de Augusto Meyer |
Fortuna Crítica |
Sobre Um menino vai para o colégio:
Rio, 8/11/43
Primo Cyro
Poeta Leiria enviou-me há tempos uns lindos versos crioulos sobre o tema do Boi Barroso e quero responder com a oferta do livreco. A tua carta é a primeira que recebo daí do sul e imagina como fiquei contente... E agora é ocasião de repetir o que eu dizia ao Lino e comecei a escrever numa carta gorada - gostei muito, mas muito, da primeira parte do teu último livro: Campanha. É uma coisa que nasceu bem, que aconteceu, que nem parece escrita. Li e reli com uma comoção que não cabe nestas pobres linhas. Pensei então no moço estudante que visitei naquela pensão balzaqueana da Várzea; enchia o quartinho nu com a imaginação rica, lendo em voz alta uma página cheia de poesia e verdade... Era a Alma gaudénia. Ora, quem saberá dizer o sentido, a inflexão, o encanto especial dessas horas de encontro com o poeta de sempre, renovado nos outros, nos mais moços? E o quartinho humilde? E a dona... que esperava o noivo eterno? (reconheci-a logo: era a mesma que me intrigava tanto nos meus tempos de guri, na Praça da Matriz). E as estrelas da Várzea?
Como vês, primo Cyro, tudo isso é indestructível e está lá dentro da gente, à espera de uma palavra, de uma imagem, de um nada para renascer. De vez em quando vem à tona e é preciso então desenrolar uma prosa comprida com os fantasmas interiores. É preciso também ser fiel à humilde verdade dessas coisas.
Muito obrigado pela carta. Não te esqueças de transmitir ao poeta Leiria o recado: em breve mandarei os exemplares.
E o Antero? E Aureliano? Como vão passando esses velhos?
Sempre o
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