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Sombras na Correnteza*- Cyro Martins  E-mail
Estante do Autor - Ficção

Prefácio

 

Esta nota explicativa, que intitulo prefácio mais por comodismo talvez do que por qualquer outra razão, destina-se precipuamente a advertir o leitor acerca do nexo criativo existente neste romance entre o movimento revolucionário de 1923, que convulsionou o Rio Grande do Sul, durante nove meses, e a trama novelística que lhe deu corpo e forma. O fundo psico-social corresponde a uma comoção histórica real, porém, em nenhum momento, pretendi assumir qualquer compromisso com o registro histórico. Os fatos característicos e as figuras atuantes da época comparecem nestas páginas lado a lado com as personagens e as situações de pura invenção da tessitura literária. Estão de tal maneira entrosados que, em muitas passagens, fiquei um tanto perplexo, meio sem saber quem é quem, isto é, quem é fantasma e quem é gente de corpo inteiro. Como não se trata de memorial romanceado, muito menos de história, e sim de ficção, não interessa ao leitor entrar em detalhes de vida real de certos figurantes deste tablado.

Do ponto de vista da perspectiva sociológica, ponho em realce, mais que nos meus livros anteriores, os que compõem a "trilogia do gaúcho a pé" - Sem Rumo, Porteira Fechada e Estrada Nova -, a mescla anedótica brasileiro-castelhana típica do sudoeste rio-grandense. É explorado largamente o conteúdo significativo da comédia política e caudilhesca, com a generosa simpatia pelos homens e suas fraquezas, tão necessária quando se ambiciona criar no mundo da ficção.

Penso que, com este romance, dei um passo adiante no tema do "gaúcho a pé", sem todavia exauri-lo, pois, na sua abrangência, ele continua oferecendo pousada hospitaleira para outras imaginações, para outras tintas, para outras vibrações poéticas.

Creio também que, como em nenhuma outra obra do gênero, o enfoque da ficção literária se demorou com um pouco mais de largueza na complexidade psicológica da mulher fronteirista.

Quero ainda ressaltar o quanto me surpreendi ao descobrir os rincões inexplorados da minha terra e da minha gente, à medida que troteava rumo ao fundo de mim mesmo. Daí, provavelmente, a sensação de autenticidade que o simpático leitor experimentará ao trilhar essa divisa às vezes confusa entre a ficção e a realidade.

 

Porto Alegre, 5 de agosto de 1979.

Cyro Martins

 


 

 

 

*Sombras na Correnteza, Porto Alegre, Movimento, 1979, 3a. edição revista.