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Apreender ou Aprender | Imprimir |  E-mail

Marcello Blaya


Fui assistir a uma conferencia, na UERJ, de um professor com todos os diplomas possíveis, que nos falou do tabaco na saúde. A maravilha da fala me fez ir à sala atrás do palco para um abraço de parabéns ao conferencista, que encontrei esparramado numa poltrona, fumando. São decorridos 25 anos desse fato mas desde então tenho lembrado muitas vezes que saber é diferente de fazer.


O AURELIO me informa que apreender é apossar-se, agarrar ou assimilar mentalmente. E aprender pode significar “3. Tornar-se apto ou capaz (de fazer) de alguma coisa, em conseqüência do estudo, observação, experiência, advertência, etc.”


Um bebê recém nascido está programado para ser um bípede ambulante. Aos 18 meses ensaia o que está programado no seu DNA e tombos (galos na testa e joelhos lanhados) ensinam o que é a lei da gravidade. Isaac Newton ficou famoso por enunciar essa lei mas cada criança, graças aos tombos e sem enunciar a lei, faz o que não enuncia.


Quando termino meu cereal de manhã dou a sobra de leite  para minha cadela pastora. Quando me vê indo para o gramado onde está deitada, lambe os beiços na espera. Pavlov teve a mesma experiência:  quando ia dar nacos de carne para seus cães notou que mesmo sem a carne, só com o barulho de seus passos, os cães salivavam. Era um cientista observador e repetiu a experiência com apitos na hora da comida. Depois só o som sem a carne, fazia os cães secretar saliva e suco gástrico. Humanos também tem reflexo condicionado e mostra que o fazer nem sempre passa pelo discurso.


Apreender é facílimo; aprender, fazer o conhecido é difícil. Acompanhei fumantes, meu irmão e meu sobrinho,  pessoas muito inteligentes que poderiam fazer o mesmo que o conferencista mencionado. Mortes prematuras, conseqüência do tabaco. Os fabricantes são obrigados a colocar nas carteiras  avisos dos danos do fumo: fácil de ler e apreender, difícil de aprender. E os que apreenderam dizem que é fácil deixar de fumar: “param” 30 vezes por mês.


Hoje participo de reuniões do Grupo Viva e vejo que discursar é fácil e mostra a facilidade de apreender. A meta desses encontros é trabalhar no aqui e agora, observando o vivido para usar o observado e dar o tombo que ensina. O/a observador/a sério/a e

corajoso/a pode ajudar as/os demais com um “galo” na testa ou um “lanhado” no joelho, como faz a gravidade com o aprendiz infantil. O difícil explica o abandono de muitos participantes.


Usa-se a expressão “mãe judia” (idisch mama) para caracterizar situações onde as/os participantes não são nem judias, nem mães. A “mãe judia” é a  pessoa que quer que seu filho ou aluno, aprenda a caminhar ou o que for, sem galos nem lanhados. O resultado dessa “bondade” é trágico. A mentira evita o tombo e a dor, a curtíssimo prazo, e mais tarde provoca danos sérios, as vezes letais. O tombo a curto prazo dói mas vacina para dores graves pelo resto da vida. Como explicar o contraste?


Nascemos onipotentes, podemos fazer tudo segundo o nosso desejo e só o tombo nos ensina os limites de nossa relação com a realidade.

E na vida adulta, como são os tombos? Alguns são apenas avisos, outros trágicos. A hipertensão, o estresse, a frustração, o pânico e a insônia são avisos dos possíveis desastres. Quando meu corpo, a outra pessoa ou o mundo não correspondem ao que espero deles, pois o onipotente que acredita que “pode mandar em tudo”, ao descobrir que suas ordens não são obedecidas, faz surgirem os avisos.


Se o avisado não aprende, o tombo seguinte pode ser trágico: falência, divórcio, overdose, morte com automóvel, enfarte, derrame, diabete, câncer, Parkinson, Alzheimer, etc.


Colhe-se o que se planta. O tempo de aprender é na infância, adolescência e juventude, os primeiros 40 anos. A maioria das mortes ocorre entre 40 e 80 anos, para os que não morreram antes de overdose e velocidade. Sabiam que isso poderia ocorrer mas como não haviam aprendido e sim apreendido, não transformaram saber em fazer, em ser. Afirmam que drogas, fumo e velocidade mata outros, mas não a eles.


Quando ocorre uma epidemia, como gripe ou  dengue, apenas algumas pessoas adoecem enquanto outras, no mesmo grupo, não. Os “apreendizes” tem um modo de viver, buscando evitar “lanhados” e “galos”, mentindo para si mesmas/os e para os outros, mas no médio e longo prazo a mentira encontra o tombo. O aprendiz aprende e graças aos tombos avisos desenvolve uma forma de viver que evitará os tombos trágicos e letais. Abandonar o “eu posso tudo” exige capacidade e humildade: é o caminho para ser velho e não decrépito.


A experiência do AA e do Grupo Viva mostra quão difícil é aprender e como é fácil apreender. Podemos apresentar o prato de sopa para a criança faminta mas só ela decide se irá comer ou não. Se conselhos fossem bom os supermercados teriam prateleiras para vendê-los. Livros e grupos de auto-ajuda preparam a sopa mas a experiência mostra que apenas alguns se dispõem a aprender pois dói, exige humildade e não dá resultados imediatos. Apreender é fácil, dá “resultados” na hora e não diminui a arrogância do “eu posso tudo”, comigo não acontece, sou perfeito.


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