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Porteira Fechada, um marco
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Porteira Fechada, um marco

                                                                                     Andrea Barrios*


Eu tinha catorze anos. Estava no primeiro ano do Segundo Grau quando a minha querida professora Laci Coelho propôs a leitura de uma obra de Cyro Martins. Não lembro quais eram as opções, mas escolhi Porteira Fechada.

A campanha, eu conhecia de vista. Para ser mais precisa, da janela do carro, nas idas a Montevidéu com a família. O gaúcho, eu conhecia das comemorações da Semana Farroupilha ou de apresentações em churrascarias de Porto Alegre.

Eu era menina da cidade. Do campo, se quisesse considerar qualquer proximidade, poderia contar alguma história da infância do meu avô. Mas não vem ao caso, e são lembranças de uma vida simples, mas feliz, com cores muito diferentes das que Cyro Martins usa nas obras que li. O tom é outro, sem dúvida.

Porteira Fechada foi, na verdade, uma porteira aberta. Um abrir de olhos, o umbral para uma descoberta chocante. Entrei no cenário que Cyro Martins me apresentava e me deparei com um gaúcho muito diferente. Estava longe da imagem do gaudério forte, de poncho esvoaçante, troteando pelos pampas em seu cavalo de pelo brilhoso. João Guedes era um gaúcho triste. Senti pena. Ainda que personagem, um homem de carne e osso, que enfrentava dificuldades. Uma vítima que foi afundando na miséria causada pelas mudanças do momento histórico.

Chegou o dia da prova. Eu era boa aluna, sempre fora, e adorava literatura. Mesmo assim, as mãos gelaram de ansiedade. Sobre a classe de fórmica verde-água, a folha mimeografada exalava um longínquo cheiro de álcool ao lado do livro (a prova era com consulta).

As perguntas estampadas em roxo eram instigantes e mereciam respostas de peso. Quando as li, soube que podia responder como a obra de Cyro Martins merecia. Escrevi muito, fazendo reflexões, dando exemplos. Estava orgulhosa de mim mesma, porque me dei conta de que fazia uma análise com propriedade, elaborando minhas próprias ideias. Sabia o que estava dizendo, e do alto dos meus catorze anos, eu me senti gente grande.

Tirei nota máxima e ganhei elogio ao lado daquele dez tão redondo. Fiquei feliz com a nota e o comentário. No entanto, o que mais me emocionou foi o reconhecimento do que havia escrito. Porteira Fechada foi meu primeiro exercício de crítica, um marco na minha formação como leitora.

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* Andrea Barrios é Professora, Escritora, Tradutora e Vive-Presidentes da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil- RS. Membro do Grupo de Colaboradores do CELPCYRO.