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coringa


A Esquizofrenia e o sofrimento humano

 

                                                                                                  Wanderley Domingues*

 

Quem assistiu ao filme O Coringa pôde vivenciar uma experiência bastante densa de impressões e sentimentos transmitidos pelo Diretor Todd Phillips e o Ator Joachin Phoenix, com roteiro de Todd Phillips e Scott Silver, no que tange ao universo mental do personagem Arthur Fleck, um comediante falido, filho de Penny Fleck e com a qual é obrigado a conviver. Trata-se um adulto relativamente jovem, que enfrenta questões graves de sobrevivência física e mental. Bastante emagrecido, vivendo de sub emprego como palhaço, em um reduzido mundo social de trabalho, sem amigos, obrigado a cuidar de uma mãe adoentada e incapaz de auto cuidados, com ideações delirantes  e sem contato com o mundo real a não ser com o filho, ao qual expunha suas enormes esperanças de receber retorno de suas cartas a um patrão para quem havia trabalhado durante 30 anos e de quem precisaria de auxílio financeiro para sobrevivência de ambos e de quem nunca recebe resposta de suas cartas.

O enredo do filme, os cenários, o jogo de luzes, o colorido, a trilha sonora transmitem a solidão de Arthur, seus desesperos, suas frustrações, suas dores físicas e mentais, a falta de perspectivas, apesar de seu esforço de superação do seu estado de quase miserabilidade, tanto física quanto mental. Seu universo mental se apresenta carregado de uma emocionalidade intensa, confusa, delirante, carregada de pensamentos negativos, ideação suicida, tendo que sobreviver sempre ameaçado de ser demitido, e enfrentando a realidade em uma cidade deteriorada, caótica, imunda, com muitos crimes sendo cometidos, muitos deles imotivados. A pouca e precária ajuda médica e psicológica de bairro, de que dispunha, lhe foi retirada, por falta de recursos financeiros oficiais, segundo versão da psicóloga que tinha. Teve suspensa toda medicação da qual fazia uso.

Sofria violências físicas diárias nas ruas, em função do seu sub emprego de palhaço e dos seus maneirismos. Em casa delirava, dançava, tinha visões de que seria um grande, famoso e respeitado comediante. 

O desfecho da estória é pungente: supunha-se filho natural, mas foi adotado pela mãe, tendo sofrido inúmeros abusos físicos dos vários padrastos que havia tido. Suas crises depressivas eram igualmente pungentes, assim como suas crises de violência reativa, com um mundo mental cheio de confusões reais e imaginárias.

É um filme que retrata com muita seriedade e proximidade a realidade de uma pessoa acometida daquilo que se convencionou chamar, na Medicina, de Esquizofrenia Paranóide Delirante. Um mundo mental que tende para o caos lógico e emocional, onde o portador se vê ameaçado, abandonado, assustado, extremamente solitário e acossado de todos os lados por inimigos imaginários e reais, cuja consciência sucumbe, sem poder distinguir  o verdadeiro e o imaginado. A pessoa fica presa em um mundo caótico, sem saída, eivado de extrema dor mental. Esses são os fatos quando se avalia uma pessoa que perdeu a capacidade de julgamento e de discernimento, o que gera uma angústia de estar se percebendo em desacordo com a realidade que o circunda. Prevalece a concretude nas suas observações, como se fossem expressões da realidade e que são distorções de percepções.

Essas situações clínicas têm uma incidência em torno de 1% na população, variando evidentemente quanto ao comprometimento dos estados mentais. Trata-se de uma disfunção que ocorre a partir da adolescência, podendo ocorrer também, em menor número em crianças a partir dos 7 anos de idade. 

A esquizofrenia é uma doença cerebral crônica que afeta 1% da população mundial e se manifesta entre os 15 e 35 anos.

Os sintomas de esquizofrenia podem incluir delírios, alucinações, problemas de raciocínio e concentração e falta de motivação. No entanto, quando esses sintomas são tratados, a maioria das pessoas com esquizofrenia melhora muito com o tempo.

             Segundo informações da Associação Brasileira de Psiquiatria, a doença tem predominância no sexo masculino e nem sempre é diagnosticada no seu início. Existem os chamados ‘sintomas precoces’ que podem aparecer meses ou anos antes da doença se exteriorizar – e em alguns dos casos esses sintomas são confundidos com depressão ou outros tipos de transtornos semelhantes ao da esquizofrenia.

Esquizofrenia – Definição

Trata-se de um transtorno mental crônico e grave que afeta o modo como uma pessoa pensa, sente e se comporta.  Provoca alterações no comportamento, indiferença afetiva, pensamentos confusos e dificuldades para se relacionar com pessoas. Pessoas com esquizofrenia podem parecer que perderam o contato com a realidade. Embora a esquizofrenia não seja tão comum como outros transtornos mentais, os sintomas podem ser muito incapacitantes.

Tipos de Esquizofrenia

  • Esquizofrenia simples: A esquizofrenia simples apresenta mudanças na personalidade. O paciente prefere ficar isolado – o que inibe seu convívio social –, é disperso aos acontecimentos do dia a dia e insensível no que diz respeito a afetos.
  • Esquizofrenia paranóide: O isolamento social também está presente na esquizofrenia paranóide – ou paranóica, como é conhecida. O portador da doença enfrenta problemas como falas confusas, falta de emoção e tende a achar que está sendo perseguido por pessoas ou espíritos.
  • Esquizofrenia desorganizada: Conhecida também como ‘esquizofrenia hebefrênica’, esse tipo é caracterizado por um comportamento mais infantil, respostas emocionais descabidas e pensamentos sem nexo.
  • Esquizofrenia catatônica: O paciente diagnosticado com esquizofrenia catatônica mostra um quadro de apatia. Pode ficar na mesma posição por horas, causando também a redução da atividade motora.
  • Esquizofrenia residual: Existe a alteração no comportamento, nas emoções e no convívio social, mas não na frequência dos demais tipos.
  • Esquizofrenia indiferenciada: Pacientes que não se enquadram perfeitamente em um dos tipos de esquizofrenia, contudo, podem desenvolver algumas das características citadas acima.

Atualmente sabe-se que existem predisposições genéticas para a doença e que eventos que ocorrem ao longo da vida podem suscitar o surgimento da mesma, a partir de alterações nos mecanismos dos neurotransmissores, especialmente dos sistemas dopaminérgicos frontais, sistema serotoninérgicos, GABA, NMDA, adrenérgicos e serotoninérgicos, entre outros.

O tratamento da Esquizofrenia é medicamentoso, havendo na atualidade vários fármacos suficientemente úteis para seu controle. As demais condições clínicas, que usualmente a acompanham, tais como a Depressão, os transtornos de Sono e os Transtornos da Ansiedade, são também passíveis de tratamento medicamentoso, que pode  reduzir o impacto da Esquizofrenia em seus portadores. A Psicoterapia colabora com os pacientes, no sentido de promover uma melhor organização mental, assim como oferecer um bom suporte emocional.

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* Wanderley Domingues é Médico Neurologista, Psiquiatra e Psicanalista/SP

   São Paulo, novembro de 2019