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Literatura e História em Gaúchos no Obelisco, de Cyro Martins - Fábio VArela do Nascimento  E-mail
Fortuna Crítica

 

 Fábio Varela do Nascimento

 

Apresentação


            Getúlio Vargas, um dos nomes mais importantes quando se trata da Revolução de 1930, escreveu em seu diário uma sentença que me fascina: “Dizem que o destino é cego. Deve haver alguém que o guie pela mão”.

            Eu diria que essa mão invisível e poderosa começou a guiar o meu destino quando li os livros de história do Brasil herdados de um avô político que não conheci. Essa mão também pode ter influenciado meus caminhos quando deixei a timidez de lado e comecei a frequentar a biblioteca do Colégio Frei Getúlio, lá em Bom Jesus, nos Campos de Cima da Serra.

            A tal biblioteca me fez conhecer autores como Rubem Fonseca, Jorge Amado, Moacyr Scliar, Dyonélio Machado, Josué Guimarães, Luiz Antonio de Assis Brasil, Cyro Martins, Erico Verissimo, Machado de Assis, Eça de Queirós, Garcia Márquez, Hemingway e Dostoiévski.

            Aquela biblioteca também me fez sair da pequena cidade onde vivia. Além de viajar a Ilheús e a São Petersburgo, a Santa Fé e a Macondo, ao Gulf Stream e a Quaraí, me mudei para Porto Alegre – uma bolsa mais do que salvadora me trouxe à Faculdade de Letras da PUCRS.

            Durante o curso, tive a oportunidade de ingressar, como bolsista de iniciação científica, no DELFOS – Espaço de Documentação e Memória Cultural da PUCRS. Lá, no sétimo andar da Biblioteca Central, por quase quatro anos, convivi com professores e colegas significativos na minha formação acadêmica. As relações humanas que estabeleci no DELFOS, por si só, já valeriam a experiência. Porém, além dessa convivência, entrei em contato com os acervos de escritores que conhecia – Moacyr Scliar e Cyro Martins – e que não conhecia – Paulo Hecker Filho, Oscar Bertholdo, Moysés Vellinho, Reynaldo Moura, Zeferino Brazil.

            No final da graduação, dividida entre o DELFOS e o prédio 8, busquei escrever uma monografia sobre literatura e história na obra O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Os recortes do meu orientador, prof. Luiz Antonio de Assis Brasil, e minhas preferências históricas me levaram a escolher a figura de Getúlio Vargas em Reunião de família V e os comentários das personagens Rodrigo, Floriano, Terêncio e Roque em relação à atuação do político nos episódios entre 1928 e 1930. No meio da elaboração da monografia, quase abandonei a ideia, pois estava deslumbrado com as possibilidades literárias e históricas que o livro Gaúchos no obelisco oferecia – a obra percorre, com suas personagens históricas e fictícias, o período da vida política gaúcha e brasileira que vai de 1929 a 1937, abrangendo, assim, episódios como a formação da Frente Única Gaúcha em torno do nome de Vargas para a presidência da República, a eleição presidencial de 1º de março de 1930, a Revolução de 1930, a laçada, pelos gaúchos, do Obelisco da Avenida Rio Branco, o governo estadual de Flores da Cunha, de 1930 a 1937, a Revolução Constitucionalista de 1932, a Constituinte de 1934, o golpe do Estado Novo de 1937.

            Não pude desenvolver a pesquisa naquele momento. Estava adiantado com o trabalho sobre Reunião de família V e tive que postergar a ideia. Quando ingressei, na mesma universidade, no mestrado em Teoria da Literatura, Gaúchos no obelisco tinha tomado conta da minha cabeça. A dissertação seria sobre esse livro que, além de se mostrar frutífero para a análise da relação entre literatura e história, não tinha sido foco de estudos mais detalhados.

            A professora Maria Eunice aceitou a orientação e, desde o primeiro semestre de 2012, começamos a pensar no desenvolvimento do trabalho.

            Por ideia da professora, voltei ao DELFOS para desenvolver atividades como bolsista, dessa vez, da Capes. Lá, entre vários afazeres, comecei a dar atenção à biblioteca que compõe o acervo Cyro Martins. Mais uma vez, a mão guiou o meu destino: entre seus mais de três mil títulos, encontrei um que foi decisivo para a elaboração da dissertação – Simpósio sobre a Revolução de 1930. Folheando as páginas do livro, constatei que Cyro havia participado, em outubro de 1980, do evento ocorrido na UFRGS, e que a sua fala se restringiu à leitura de um texto literário, uma crônica intitulada “3 de outubro”, que foi publicada, no mesmo ano, no livro A dama do Saladeiro. Era o mote que eu precisava para iniciar a discussão sobre literatura e história na obra de Cyro.

            A partir do livro do Simpósio, escrevi o primeiro capítulo da dissertação, que recupera os caminhos políticos que levaram ao outubro de 1930 no Brasil e recupera o outubro de 1980 em Porto Alegre, na UFRGS. No final desse item, falando da participação de Cyro Martins no evento, encaminhei o trabalho para Gaúchos no obelisco, meu foco de pesquisa.

            No segundo capítulo, me preocupei com a questão da referencialidade dentro do romance. Como produto literário que se amarra à história, considerei que o livro era dotado de certa quantidade de referentes que o ligavam à realidade histórica, sendo eles: localização temporal, localização espacial, personagens históricas, agremiações partidárias. Nesse capítulo, ainda salientei que tais referentes históricos, inseridos dentro de uma obra de ficção, não podem ser despidos de sua roupagem histórica.

            Se, no segundo capítulo, abordei os aspectos históricos de Gaúchos no obelisco, no terceiro, contemplei os literários, me detendo nas personagens. Analisei, em primeiro lugar, João Silveira, personagem mais saliente na obra, que tem ligação com muitos dos episódios históricos presentes no romance. Depois, optei por uma divisão em núcleos, observando as personagens que abandonaram o interior do Estado para fazer a vida na capital, as famílias dos combatentes mortos no 3 de outubro, os moços que foram para o Rio de Janeiro nas águas da revolução e os senhores que, bêbados, comentavam a situação política no Estado e no País durante a década de 1930.

            Após esses capítulos, fechei a dissertação com a afirmação de que, sendo possibilidades, literatura e história se manifestam harmonicamente dentro de Gaúchos no obelisco. Além de seu valor literário, o livro trata a história de maneira diferenciada, pois a confirma ao utilizar datas, locais e personagens históricas, a reinterpreta através do olhar de suas personagens ficcionais e, também através delas, a distorce.

Para encerrar, digo que os objetivos da dissertação – expandir a fortuna crítica da obra; analisar o entrelaçamento entre literatura e história em Gaúchos no obelisco; constatar as técnicas utilizadas para a inserção da história na narrativa e examinar seus elementos literários – foram cumpridos.

            Ainda preciso salientar que este trabalho, de maneira alguma, esgota as possibilidades de pesquisa envolvendo Gaúchos no obelisco que, por sua riqueza, se mostra fértil para futuros estudos.


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