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Em busca da "Vibração"  E-mail
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                                                                                                                                                                                                                                                                              Fábio Varela do Nascimento*

       

    O número 1 da série Autores Gaúchos dedicado a Cyro Martins traz informações significativas sobre a vida e a obra do escritor e psicanalista. Uma das partes do número que mais esclarece os caminhos percorridos por Cyro é a “Cronologia”. Nela, não aparecem apenas as datas grandes, que indicam o nascimento, a formatura, a primeira publicação. Na “Cronologia”, as menores informações oferecem rastros para que o pesquisador tente reconstruir o percurso intelectual do autor alvo de seus estudos. Em um primeiro momento, essas pistas se mostram como a ponta de um fio que, se puxado e investigado, desvenda uma tessitura maior e mais rica.

                Com a “Cronologia” de Cyro Martins, não é diferente. Em uma de suas páginas, abaixo do retrato dos Martins tirado em janeiro de 1925, aparecem as notas correspondentes aos anos de 1923, 1924 e 1925. Na primeira delas, de 1923, está escrito que “Cyro Martins, Dante de Laytano, José Salgado Martins, Percy de Abreu Lima, Francisco de Almeida Maciel, Aparício Cora de Almeida, ainda estudantes de preparatórios, fundam um grêmio literário para ler e discutir suas produções em prosa e verso”. Aqueles jovens que dividiam quartos de pensão e aspirações literárias buscavam um público. Eles tinham de socializar suas produções de qualquer modo e a leitura e a discussão, dentro de um grêmio literário, era o que estava ao seu alcance naquele ano de revolução. A nota sobre o ano de 1925, porém, traz uma novidade em relação à socialização dos escritos dos rapazes: “O Grêmio literário publica a Revista VIBRAÇÃO”.

                Se o tal grêmio publicou um periódico, o nome de Cyro deveria estar entre seus colaboradores. Era preciso ir em busca da Vibração e saber quais textos de Cyro apareceram na revista.

                Na Coleção Júlio Petersen, mantida pela Biblioteca Central da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, foram localizados os dois primeiros – e, talvez, únicos – números de Vibração: revista de literatura e illustração. Ao contrário do que dizia na “Cronologia”, o número inaugural de Vibração veio a público em julho de 1926. Segundo os diretores da revista – Victor Graeff, César Santos e Alexandre Ribeiro – a Vibração surgiu do “entusiasmo de uma falange de moços estudantes”. Cyro fazia parte dessa falange e, entre os textos de Eduardo Guimaraens, José Salgado Martins, Darcy Azambuja, João Otávio Nogueira Leiria e as fotografias dos “Templos de Ensino” do Rio Grande do Sul, aparecia, na página 25, sua contribuição, um pequeno conto intitulado “Viagem noturna”.

                Na história narrada em primeira pessoa, o viajante noturno troteia com o seu pingo através do pampa. Esse lugar imenso e sedutor é o foco do texto. O jovem Cyro não tinha medo em utilizar adjetivos para qualificar o seu espaço original. O pampa, durante a noite, era silencioso, sonolento, adormecido, iluminado. A poeticidade com que o Cyro rapaz descreve o pampa já é uma amostra do escritor sensível e arraigado aos pagos que se firmaria no cenário literário gaúcho anos mais tarde.

                Sensibilidade, aliás, não falta na outra contribuição de Cyro para a Vibração. Em “Na estrada”, publicado no segundo número da revista, entre setembro e outubro de 1926, surgem outra vez o pampa e o viajante, mas, nessa narrativa, as luzes se deslocam da paisagem para o interior do personagem. Jango não sofre apenas com a distância da viagem. O que mais abala o protagonista é a passagem do tempo, que tirou sua juventude, sua saúde, sua “china arisca e querendona” e traz, aos poucos, os contornos da morte.

                Além de mostrar o entusiasmo da mocidade gaúcha que, na segunda metade da década de 1920, queria escrever e desejava ser lida, os dois exemplares de Vibração revelam um jovem Cyro já apegado ao pampa e sensível aos rumos do habitante do campo. Esses aspectos do escritor iniciante e outros mais só podem ser percebidos com a leitura de “Viagem noturna” e “Na estrada” – que voltam ao público agora.

 

 

 

* Fábio Varela do Nascimento é Doutorando em Teoria da Literatura PUCRS/Bolsista CNPq, cuja tese em elaboração é também sobre obra  de Cyro Martins

http://lattes.cnpq.br/4587113398031609