Poemas de Cristina Macedo |
Escritores Gaúchos |
A sensualidade esvoaça sobre os versos de Cristina Macedo, entre apelos, confrontos, “espera de florescimentos”, interditos. Palavras soltas pela ausência de pontuação dançam sob nossos olhos, ecoam nos ouvidos, repetidas, quase escapam. Mas ficam à espera do ritmo e respiração de cada leitor para intensificar ou relaxar seus timbres, ressaltando significados embalados pela sua sonoridade. Aliterações e assonâncias fazem a música dos versos, curtos como soluços, ansiando por saber de si. (Os contos de Cris (tenho o privilégio de conhecê-los há algum tempo) não desabrocham, nem arrebentam, nem arrebatam. Desestabilizam o leitor. Rompem com expectativas a ponto de deixar quem lê boquiaberto, se sentindo entre enganado e surpreendido. São narrativas de quem sabe manejar com as palavras sem pejo e sem culpa. Aguardo expectante a publicação dessas narrativas.) Quando deparamos sua feição poeta, a autora mostra seus poemas como quem entreabre uma porta – frestas –, por onde o leitor vislumbra sensualidade envolta em sensibilidade. Descobre-se então um gosto vibrante pelos fazeres dos sentidos no corpo, uma atração pela natureza ora perto ora distante, enquanto a poeta desabafa, num diálogo sutil e pungente com um interlocutor mudo, indiferente? E assim ela vai explorando seus dotes e conquistando o leitor para seu universo ... Maria Helena Martins
revés meus carmins minha santa meus ritos minhas palavras
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reflexo poeta-me os lábios
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paisagem sol é pressão saliva no sulco desperta rugidos
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náusea de onde vem esta náusea sei de delírios e vertigens
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marítima maresia heresia pele nunca
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frestas devaneios ali vãos alheios veios cais a sereia devaneios ali
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emaranhado corpo porto táteis desencontram teias urdem pensamentos poucos no absinto
Cristina Macedo |