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Dolce Vita e suas histórias econômicas E-mail
ERA DIGITAL - Criações Internéticas

 

 

 

 

 

         Dolce VitaDolce Vita

 

     Depoimento da Autora

"Em abril de 2009 passei a publicar meus textos em um site assinando como "Dolce Vita". Meu pseudônimo é fruto da paixão pela sétima arte. No ano seguinte, vieram os contos curtos. Acredito que a internet é o espaço ideal para abrigar narrativas brevíssimas. Não parece haver muita disposição para leituras de textos longos on line.

O cinema me ensinou a pensar na importância da economia ao se contar uma história. Um microconto com algum valor diz muito em duas linhas. Este é um verdadeiro desafio para quem se propõe a contar uma história recorrendo à síntese.

Ao longo do tempo aprendi a conviver com todo tipo de reação diante dos meus contos. O leitor é livre para ver o que deseja numa história. E a internet reproduz esta liberdade ao extremo. Não pretendo me prender a gênero algum, mas enquanto mantiver minha página, darei preferência às narrativas curtas."  Dolce Vita


      Exemplos dessas narrativas curtas  


DUAS MULHERES

A primeira mulher vivia alegre porque o marido adivinhava tudo que ela queria. A segunda, justamente, por ele nem desconfiar.

 

A MULHER INSATISFEITA
Escrevia cartas imaginárias, e ainda reclamava nunca ter recebido resposta.

 

O DESILUDIDO

― Eu te amo.
― Vai passar.

 

SEM PONTO NEM VÍRGULA
De tanto fazer discursos, morreu falando com as paredes.

 

E ASSIM NASCEU UMA MULHER MASOQUISTA

Ingrid Aparecida estava tão carente que passou a confundir beliscão com carinho.

 

O PEDIDO

Faz uma cara feliz, mãe?
Por quê?
Pra variar um pouco...

 

AMARGO
Hoje só tem arroz.
E nem é doce...

 

A OUTRA

O que ela tem que eu não tenho?
Vinte anos.

 

O PARANOICO FELIZ

A sorte o perseguia.

 

AS BELAS ADORMECIDAS

Queria seduzi-lo naquela tarde. Sentada na varanda, imitou a pose de sua atriz predileta. Ele estava tão atrasado que as pernas da mulher adormeceram.

 

                                                                                         ........

 

Mini e micro-contos estão na medida para a internet. Essa economia, nascida por conta de exigências de espaço/tempo na web e seus frequentadores apressados, incentiva a criação de signos linguísticos como abreviaturas e signos pictóricos (emoticons). A maioria dos internautas escribas ainda permanece nesse estágio. Felizmente, há os que dão um salto de qualidade e saem dessa penúria para formas de expressão que resultam em manifestações com características estético-literárias. Este é o caso de textos de Dolce Vita, cuja amostra acabamos de ler.

Ingrediente sutil para qualificar um escrito - da receita culinária ao ensaio filosófico, além da ficção - é o senso de humor. Mal se insinuando... nada de muito evidente. Nisso reside, a meu ver, o apelo maior desses textos de Dolce Vita que, mesmo antes de nos determos no que dizem, nos chama atenção o modo como se salientam visualmente na tela, quase tanto quanto os haikais eletrônicos, dos quais a autora amplia possibilidades de leitura com a parceria de imagens visuais. Assim,  levam a nova(s) leitura(s), pois dificilmente deixamos de retornar ao já lido para uma apreciação mais detida, para aproveitar melhor as entrelinhas, as sugestões. (MHM)

=====

OS DIAS DE CÃO ACABARAM


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    (foto e texto reproduzidos com autorização da Autora)


Apesar de nebuloso, o sonho com a mulher ruiva era um sinal. Naquela manhã, Baltazar decretou o fim dos dias de cão. E saiu de casa determinado a encontrar aquela que prometera trazer sua alegria de volta.

Caminhou sob o sol escaldante ao longo da avenida que cruzava o bairro. A buzina estridente de um carro caindo aos pedaços e os palavrões do motorista desviaram sua atenção. Irritado, Baltazar olhou para trás. A mulher com quem sonhara estava logo ali, do outro lado da rua.

Baltazar quis ajoelhar-se em plena calçada e agradecer aos céus, mas teve medo de perder a ruiva de vista. Ela acabara de sair de um automóvel luxuoso acenando para o homem sentado ao volante. Baltazar esperou até que o carro dobrasse a esquina, e correu em direção à ruiva. Ao tocar o ombro da mulher, ela virou-se assustada. No instante seguinte, antes mesmo que Baltazar tivesse tempo de abrir a boca, ela parecia tranquila:

— Ah! Já sei. O tal sonho. Você é o quinto a ter esse sonho comigo.

Baltazar arregalou os olhos.

— O que isso quer dizer?

— Que você chegou muito atrasado.

                                              -------------------

 

 "Os dias de cão acabaram": esse título cria expectativas, ainda que a expressão pareça lugar-comum. O parágrafo inicial, apesar ou por causa da determinação esperançosa do protagonista do relato, põe o leitor de sobreaviso para uma gag ou uma piada. Até porque a foto que acompanha o texto sugere essa possibilidade. Também se percebe que a combinação de frases mais longas com mais curtas impregna o escrito de uma cadência especial  e enfatiza o inusitado. E esse jogo tanto pode dar o toque de humor ao narrado, quando deixa no ar um travo amargo de ironia. Aliás, é assim também que a autora constrói a imprevisibilidade do escrito, ficando a um passo do onírico, da piada, do absurdo, provocando o riso inevitável diante da desgraça alheia ...

Se assim acontece nessa narrativa curta, também se estampa nos mini/micro-contos. Só que, no caso do "cão", a expectativa de algo importante toma de pronto o leitor, pela agudeza e precisão do golpe, levando à necessidade de reler o escrito para se recuperar do inesperado e apreciar efetivamente o que foi lido.

Quando esses discursos compactos interagem com ou se originam em expressões visuais, como fotos, resultam em contos "inspirados na ilustração" ou ilustrações narradas/contadas, proporcionando iluminação mútua, ampliando e aprofundando possibilidades de leitura. Mais ainda quando temos também a oportunidade de ouvi-las, como é o caso de  "Os dias de cão acabaram." ( Maria Helena Martins)