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Meu início na Medicina e na Psiquiatria - Sérgio Paulo Annes  E-mail
Humanismo Médico - Artigos

 

 

 

  A  convite da colega Carmem E. Keidann, Editora da Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul para que relatasse um pouco da experiência por mim adquirida na minha formação médica geral e em especial na especialidade relativa á clínica e internações psiquiátricas nos últimos anos da década de quarenta e início dos anos cinquenta:

Sou da Turma Médica do ano de 1947, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a UFRGS.

Na época não havia Cursos para formação de psiquiatras. Tornávamo-nos psiquiatras com a ajuda de um Professor que nos aceitava como aprendizes. Era como costumo chamar, “uma formação artesanal” e não como hoje ocorre em “uma linha de montagem”, por assim dizer, em Cursos com programas de ensino, vários mestres e anos de formação. Assim é hoje o Curso de formação de psiquiatras que teve início com os Drs. Paulo Guedes e David Zimmermann.

Meu início na Psiquiatria foi com o Professor Celestino Moura Prunes que, com suas aulas na cadeira de Medicina Legal, dadas no Instituto Médico Forense, nos encaminhava para a Psiquiatria. Foi ele, sem sombra de dúvida o melhor professor que eu tive em minha formação médica psiquiátrica.

Manifestei meu desejo de me dedicar à Psiquiatria ao Professor Dr. Décio Soares de Souza que, junto ao diretor Dr Jacinto Godoy, permitiu que eu frequentasse o Hospital São Pedro.

Fui levado pelo Professor à presença do Dr. Godoy que de início opôs resistência alegando que não queria pessoas estranhas frequentando o Hospital. O Prof. insistiu e terminou conseguindo a aquiescência do Dr. Godoy. O Dr Décio procurou, no Hospital, o Dr. Victor de Brito Velho para que com ele eu fosse sendo introduzido no contato com os pacientes internados. Como o Dr. Brito Velho não foi encontrado fui levado ao Dr. Mario Martins que atendia na Enfermaria de mulheres, no Hospital. O Dr. Mário me recebeu muito bem e me permitia assisti-lo enquanto atendia seus pacientes e assim fosse tendo um maior contato com eles. O Dr. Mario me aconselhava livros que eu deveria ler e me estimulava a entrevistar pacientes tomando notas em suas respectivas pastas.

Os livros que inicialmente consultei foram: uma Propedêutica Psiquiátrica do Prof. Dr. Nobre de Mello, o Manual de Psiquiatria do Prof. Dr Mira y Lopes, a Propedêutica Clínica Psiquiátrica e o Tratado de Psiquiatria do Prof. Dr. A. Vallejo Nágera.

O Hospital São Pedro passou a ser e ainda deve ser um Hospital Escola, já que, na minha época, as aulas práticas de psiquiatria eram ministradas em suas dependências, pelos Drs. Paulo Guedes e Ernesto La Porta. Os dois dividiam as turmas e a mim coube ter aulas práticas com o Prof. Paulo Guedes. O Professor titular, Dr. Décio dava as aulas teóricas no anfiteatro da Santa Casa.

Os tratamentos hospitalares ministrados eram, principalmente, após revisão clínica, a eletro-convulso-terapia, -- a convulsoterapia com cardiazol já estava sendo abandonada -- a insulino-terapia (Sakel) com coma, as duas associadas e borrasca vascular induzida pela injeção de acetilcolina - que eu assisti, aplicada no Hospital Espírita, pelo dr. Pedro Rosa mas que eu nunca apliquei. No tratamento da neuro-lues, ainda era utilizada a malarioterapia associada com injeções de arsênico, bismuto e mercúrio, antes da chegada da penicilina, o que ocorreu na década de quarenta. Os anti-psicóticos químicos tiveram seu aparecimento, entre nós, nessa época.

O Dr. Mário recentemente chegara de Buenos Aires onde fizera sua formação psicanalítica com o Prof. Dr. Angel Garma. Posteriormente chegaram à Porto Alegre os Drs. José Jaime Lemmertz, Cyro Martins e Celestino Prunes. Os dois primeiros de Buenos Aires e o último do Rio de Janeiro. Com estes quatro analistas  citados teve início o Núcleo de Formação de Psicoterapia de Porto Alegre que posteriormente formou a Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre.

As instalações no HSP eram precárias a ponto de, nas enfermarias, ser comum a utilização de uma cama para dois pacientes. Foi o que presenciei na enfermaria de mulheres.

A enfermagem era composta pelas freiras, irmãs de caridade da Ordem de Notre Dame.

Esperei, após formado, pelo concurso que era prometido ser feito para psiquiatra da instituição, mas que não acontecia. Certa vez o Prof. Décio de Souza me levou ao Palácio do Governo onde pleitearia minha nomeação junto ao Governador Walter Jobim. O Governador deixou-nos à sua espera por tempo que o Prof. julgou demasiado, indo embora. Mais tarde houve nomeações de três psiquiatras, todos muito capazes, mas o Concurso não saiu.

Fui para o interior, por problemas econômicos, já que não conseguira vaga no HSP. Lá, por interferência do Prefeito, Israel Farrapo Machado fui nomeado pediatra do Posto de Higiene. O chefe político do local, Deputado Dr. Tarso Dutra havia prometido ao Prefeito um Pediatra para o Posto de Higiene e eu fui indicado por ele para ocupar o lugar.

Consegui, mais tarde, uma transferência para Porto Alegre, para o Hospital São Pedro.

Ainda como “extra numerário mensalista” permaneci até fazer um concurso para psiquiatra em uma Autarquia Federal. Fui aprovado deixando o cargo Estadual, pois na época não era permitido ocupar dois cargos públicos – “acumular” como era chamado. Não sei se esse critério ainda perdura. No exercício da especialidade atendia o Ambulatório, pela manhã, – situado no Edifício Santa Marta em frente ao Edifício da Alfândega -- e os internados em três Hospitais, o São Pedro, o Espírita e o São José. Posteriormente, outros médicos foram incluídos nos quadros da Autarquia, mas o critério era o político, mediante “pistolão”.

Um colega pediatra, com “pistolão”, me contou, na época, que lhe foram oferecidos duas oportunidades na instituição, uma como oftalmologista e outra como psiquiatra e que optou pelo segunda “que era só conversa” pois como oftalmologista “a coisa seria mais complicada”.

Alguns anos após, em virtude do acúmulo de pacientes e das dificuldades de manejá-los e com a possibilidade de me aposentar, já que o Presidente Costa e Silva criara uma lei aposentando os que na época da guerra – segunda guerra mundial – tivessem 30 anos de serviço público e houvessem servido em zonas chamadas “de guerra”. Estas, no Rio Grande do Sul atingiam o litoral e a fronteira. Para a aposentadoria foram computados, o tempo de Serviço Militar – eu havia feito o Tiro de Guerra, o Núcleo de Oficiais da Reserva (NPOR) Estágio para Oficial que foi feito no Terceiro Batalhão do Oitavo Regimento de Infantaria sediado em Passo Fundo – O concurso e o Estágio feitos no Hospital de Pronto Socorro da Prefeitura de Porto Alegre, onde trabalhei durante o ano de 1947. Foi computado ainda, tempo em que fui Interno durante três anos, de 1945 até 1947, no Hospital da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, no Bairro Cristal, na Enfermaria de Cirurgia. Nesta, inicialmente auxiliava o Dr. Leone Scalco e posteriormente o Dr. Gilberto Netto Velho.

Passei então a aposentado no Serviço da Autarquia, isto em 1968. Desde que me formei tive meu consultório particular.

Em 1954, havia iniciado minha análise com o Dr. Mário Martins e dali em diante passei a fazer psicoterapia de orientação analítica e psicanálise.

A formação de analistas fora instituída com o reconhecimento da International Psychoanalytical Association e o Grupo de Estudos Psicanalíticos que aqui formávamos foi reconhecido como Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre no ano de 1963, ano em que terminei minha análise com o Dr. Mario Martins.

Como psicanalista venho trabalhando desde então em Porto Alegre/RS.

Porto Alegre, 2007.

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