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DIPLOMA AO MÉRITO CYRO MARTINS: Dr. David Epelbaum Zimerman  E-mail
Humanismo Médico

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II Simpósio Brasileiro  

sobre Comorbidades Psiquiátricas

 

29 e 30 de Junho de 2012 

NOVOTEL PORTO ALEGRE 

Av. Soledade, 575 – Porto Alegre/RS

  

 

DIPLOMA AO MÉRITO CYRO MARTINS:

RECONHECIMENTO DA CIÊNCIA E CULTURA

 

Homenageado: DR. DAVID EPELBAUM ZIMERMAN (RS)

 

Orador: DR. LUIZ CARLOS ILLAFONT CORONEL (RS)

 

 

 

 

 

            INTRODUÇÃO

 

            “Leio um artigo de um escritor de teatro, Arkadi Rajkin, publicado numa revista de Moscou. O Poder Burocrático, diz o Autor, faz com que os atos, as palavras e os pensamentos jamais se encontrem: os atos ficam no local de trabalho, as palavras nas reuniões e os pensamentos no travesseiro”. (Celebração das Bodas entre a Palavras e o Ato – Eduardo Galeano, O Livro dos Abraços, L&PM, 2011)

 

      1.         Boa parte da força de D. E. Z. , penso, essa misteriosa energia que vai muito além de sua pessoa e obra, vem de um fato muito simples: Ele é um raro exemplo dos que dizem o que pensam e fazem o que dizem.

                  A obra completa de D. E. Z. cobre, praticamente, os grandes campos da teoria, da técnica e da Clínica Psicanalítica. Irrigando de modo generoso e fecundo a chamada Psiquiatria Dinâmica, as Psicoterapias, os Tratamentos Integrados, as Grupoterapias, a Aplicação das Técnicas Grupais no ensino, na formação Humanista do Médico, no Trabalho em Instituições e Comunidades.

                  Outra característica marcante de seu trabalho, além da extensão antes mencionada, é a autoria “solo”, evidentemente, da maior parte de seus livros, pois existem aqueles aos quais emprestou seu nome e capacidade para ser um dos organizadores ou ser co-autor.

                  Em vários de seus livros insiste que este fato não significa a inexistência de autores outros capazes, e, até muito capazes para desenvolver tal ou qual tema, mas, simples e definitivamente, a busca quase obsessiva da coerência conceitual, da honestidade intelectual e da boa ética de suas convicções – Max Weber – em respeito ao Outro, seja leitor, aluno, paciente, ou simplesmente amigo.

                  A consideração e respeito ao Outro tinge, indelevelmente, seu discurso e seus desenvolvimentos teóricos, técnicos e clínicos.

                  Assim   “procura traduzir em linguagem simples e acessível a complexidade do significado dos termos e conceitos psicanalíticos evitando a linguagem, incompreensível para grande parte dos leitores da língua portuguesa.”.

                  “O trabalho de David Zimerman está alicerçado no mérito da divulgação da psicanálise, através de seus livros, artigos publicados, conferências, participação ativa em congressos, atividade didática e da prática clínica. Sempre procurou transmitir os conhecimentos psicanalíticos de forma a desmistificar a psicanálise, apresentando-a como uma ciência que trata da alma humana e não como um conjunto de seitas, em busca de adeptos.”.

                  “...uma clara tendência para priorizar uma abordagem didática, sistemática e de integração, de sorte a contemplar tanto os analistas veteranos e experientes que necessitam uma rápida consulta para relembrar ou esclarecer algum determinado termo, quanto para os leitores que estão iniciando sua formação...”. (Bernardo Brunstein, prefácio do Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise, Artmed, 2009).

                 

 

    1. REVOLUÇÃO PACÍFICA

 

                            

                  D E Z realiza em sua já longa obra de ensino, e publicações e, especialmente, de exemplos militantes, uma verdadeira revolução pacífica no amplo campo da Psicanálise, Psiquiatria e Saúde Mental. Este conceito refere-se à experiência melhor sucedida de reforma da atenção psiquiátrica que foi aquela que aconteceu no Canadá. Houve uma profunda alteração no Sistema Público de Assistência ao Doente Mental e seus familiares. As mudanças foram no sentido da ampliação e qualificação do atendimento especializado, ao contrário, do resto do mundo onde prevaleceu a desestruturação dos insuficientes recursos existentes (“Hospitalocêntrico”) e a não construção da chamada Rede Alternativa de Atenção (“CAPScêntrica) em termos quantitativos e qualitativos.

                              A nosso juízo D E Z produz uma mudança sem alardes nem “espetacularização” quando desloca de modo sutil e profundo alguns dos Paradigmas – científicos e outros – nos quais estávamos todos imersos e por assim dizer, muitas vezes, “engessados”, ou como prefiro, “manietados”. Vejamos a seguir dois deles:

                            

1º - Educar ao invés de Ensinar:

                                         “Sabe deixar espaço para que aflore o conhecimento nascente do supervisionado (do Outro), não impondo aprioristicamente, seus pontos de vista, e, - talvez sua característica mais marcadamente pessoal – sempre extraindo algo de positivo do mais caótico e inadequado de nossos procedimentos”. (Luiz C. Osório, prefácio Fundamentos Básicos das Grupoterapias, ARTMED 1993).

                                         Neste componente básico de sua atitude – como pessoa e autor – revela-se o extremo cuidado e respeito ao Outro (paciente, aluno, grupo, instituição, etc...), assim como, uma valorização de capacidades e habilidades, muitas e muitas vezes não identificadas nem valorizadas. Boa parte, certamente, de seu êxito deve-se a esta característica.

                             Este aspecto é desenvolvido em sua vida e obra como já dissemos sem espalhafatos nem arroubos narcísicos, fazendo eco a uma cultura – pós moderna – que exige “If it bleeds, it leeds” (Se sangra, acontece). Qualquer notícia, evento, científico ou cultural, sofre esta pressão, se quer “acontecer”. Nem vou mencionar que a única coisa de importância que falta à obra de D E Z é que seja escrita em Inglês para que tenha presença “global”. Senão será limitada a região lingüística portuguesa.

                             Como ele próprio diz: “... sou eclético, porém faço questão de ressaltar que não cabe confundir, como muitos fazem, ecletismo com ecleticismo. O primeiro alude ao fato de o Analista ter uma formação pluralista, com base em distintas vertentes teóricas e técnicas, sem obedecer cegamente a qualquer uma delas, por mais consagrado que seja o nome do autor, e, tampouco, sem rechaçar imediatamente, antes de fazer uma reflexão crítica, de forma a poder selecionar e adotar aquilo que, efetivamente, “fecha” com o seu jeito autêntico de ser e com a sua experiência clínica pessoal. Ao mesmo tempo, dá-se o direito de dispensar leituras que não lhe tocam, de modo que gradativamente vai criando o seu autêntico sentimento de identidade de terapeuta psicanalítico, com uma liberdade de assumir o seu estilo pessoal de trabalhar” (DEZ, prefácio Manual de Técnica Psicanalítica, ARTMED 2004).

                              Então é um trabalho sem concessão no essencial à cultura contemporânea. E, em consideração definidora do vínculo ao Outro. Não precisamos destacar que em nosso campo – Psi – desgraçadamente, ainda é muito forte a Psiquiatria de Autoridade (Russler, Psiq. Suíço). Centrada, predominantemente, no que a Autoridade pensa e não na necessidade e demanda do outro.

                            

 

2º - “Onde está a Verdade?”

                             D E Z desenvolve largamente, e, enfaticamente, a idéia de que a importância teórica e clínica para compreender os meandros da alma humana está “... no todo que resulta da forma de combinação e dos arranjos das diversas partes constituintes da totalidade, cada uma delas desempenhando algum tipo de função”.

                             Este posicionamento epistemológico permite uma visão total dos fenômenos humanos, individuais e grupais. Fornece elementos decisivos para a superação e entendimentos parciais, dissociados, e, não raramente, desumanizadores. Privando o sujeito humano de seus vínculos constituintes e determinantes.

                             Devido a esta atitude, pode integrar e criar conceitos oriundos de variadas linhagens científicas. Advêm deste fato a riqueza de seu pensamento e o descortino de novas vias de acesso terapêuticas, aulas, problemas emocionais da atualidade, tão difíceis quanto complexos em sua abordagem.

                             Penso, entre tantas inovações conceituais – teóricas, técnicas e clínicas – que uma se destaca, sei que estou correndo o risco de que esteja equivocado, e este é o Vínculo do Reconhecimento. Pena que não tenhamos tempo para desenvolver os argumentos confirmatórios deste posicionamento. Fica para outra ocasião.

                             André Green já afirmava, na década de 80, que o principal na chamada Escola das Relações Objetais, era a Relação e não os objetos. Além de uma intuição, sobre o rumo que assumia o entendimento da mente humana, era um “aponte”, um indicativo de região a ser desbravada e conhecida. Se pudesse em uma frase sintetizar o mais relevante da obra Davidiana, diria que ela nos dá a bússola e o mapeamento das principais componentes das Relações Intrapsíquicas, Interpessoais e Transpessoais.

 

3. CONCLUSÃO

                              “Para concluir este misto de recordações e pensamentos, citarei uma passagem que o “Dr. Cyro” escreveu por ocasião de uma homenagem póstuma ao seu colega e amigo Mário Martins, que representa muito de seu sentimento em estar presente neste livro como uma homenagem muito especial de seus autores:

                  “ Certa vez – faz isso muitos anos, vinte e cinco talvez – estávamos ainda no Edifício Godoy, conversávamos, Mauro, Laura Pichard, visitante, e eu. Foi um entardecer, pós-tarefa. A conversa abordava o futuro de nossas Sociedades, a de Porto Alegre e a de Montevideo. Como soe acontecer nessas conversas vadias, fomos ladeando os problemas institucionais e chegamos às nossas pessoas. Por certo, outros nos substituiriam. E os nossos retratos – disse eu – iriam um dia encher o vazio das nossas paredes do auditório. ‘Ele está muito otimista’ – atalhou Mario, dirigindo-se a Laura.

                  Não, eu estava dentro do meu ‘realismo esperançoso de sempre’. Prova-o o retrato e a placa que inauguramos hoje, festivamente...”. (Cláudio Martins, prefácio de “Como trabalhamos com Grupos”, Artmed 1997).

                  Meu caro David considere esta homenagem “um retrato e placa” festejando sua vida e obra porque tal como o “Dr. Cyro” és um incorrigível realista esperançoso e por isto mesmo não me ocorre outro pensamento que não seja aquele do Bertold Brecht: “Há homens que lutam por um dia e são bons. Há outros que lutam por um ano e são melhores. Há os que lutam por muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda vida e estes são imprescindíveis.”. És imprescindível David por isto não tenhas dúvida a que se destina esta salva de palmas: é para ti.