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IN MEMORIAM - David Epelbaum Zimerman E-mail
Saúde Mental - Depoimentos, Documentos, Entrevistas

             

                                                DAVID EPELBAUM ZIMERMAN (1930 - 2014)

              

               Há dezesseis anos, num sábado de verão, em Atlântida, meu pai abriu a Zero Hora, e viu a própria fotografia estampada no “Caderno Vida”, acompanhada de uma laudatória reportagem, por ocasião de seu falecimento. A homenagem, mais do que merecida, referia-se a um iminente colega psicanalista, de nome muito semelhante. A foto, porém, era equivocada. E em meio à tristeza pela partida do colega e amigo, meu pai foi capaz de reconhecer o lado inusitadamente risível da situação. Afinal, dizia ele, quantas pessoas podem ler sobre a própria morte no jornal? “Quem já não fantasiou a esse respeito ?”, brincava ele. Há uma semana, porém, chegou, de fato, a vez de meu pai, David Epelbaum Zimerman. Psicanalista. Escritor. Professor. Supervisor. Amigo. Colega. Pai para tantos...


               Nascido em 1930, em casa, no bairro Bom Fim, em Porto Alegre, de parteira. Outros tempos. Tempos em que os jardins das casas tinham árvores frondosas, como aquele butiazeiro famoso na família, que dava frutos do tamanho de uma bola de tênis. Acredite quem quiser. Quarto filho de uma prole de seis, esperava-se de David que cedo ajudasse no orçamento doméstico, e se juntasse ao próprio pai no ramo do comércio. Mas o guri tinha uma veia rebelde. Saudavelmente rebelde. Soube, cedo, reconhecer seu sonho: ser médico. Mais de uma vez ouvi comentários elogiosos de seus colegas do tempo de faculdade, ressaltando a surpreendente capacidade que ele tinha de sintetizar as idéias do grupo, e dar sentido ao aparente caos. Reconhecendo esse traço em meu pai, um amigo o convidou a trocar a incursão que fazia na pediatria pela psiquiatria. Marcelo Blaya apresentou a meu pai o mundo fantástico da psicanálise, que tornou-se sua grande paixão, superada, apenas(e talvez), por sua eterna paixão tricolor. Estudando, escrevendo, atendendo no consultório, dando supervisão, realizava-se; amava o que fazia. Só isso já seria muito a se admirar, um grande exemplo. Mas havia mais.


               Bem ao seu estilo didático, destaco algumas qualidades que, penso, tornavam-no tão especial, valendo-me de quatro “C”s. Coerência (sua vida, obra e trabalho se interligavam e se complementavam de forma natural e verdadeira). Continência (acho que a expressão “todo ouvidos” foi criada para ele). Coragem (para ser autêntico, e , eventualmente, diferente dos demais, pagando, muitas vezes, um preço por isso). Conhecimento (sólido, acumulado por décadas de estudos).


               Os quatro “C”s terminaram, e eu tenho muito mais a dizer. Posso acrescentar mais alguns, quem sabe, criatividade, carisma, carinho... Mas terei que finalizar. Como finalizou a vida de meu pai. Só quem fica sabe a dor que sente, pai. Se nos fosse dado um momentinho a mais, eu iria te falar dos milhares de telefonemas, emails, homenagens que tens recebido, de todos os cantos do Brasil. Iria te falar de como disseminaste amor e conhecimento, e que os frutos do reconhecimento chegam numerosos e promissores. Queria te falar do quão querido e inspirador tu foste em vida, e do quão duro está sendo testemunhar teu ingresso na imortalidade. O último “C”, o da continuidade, é uma promessa, e uma certeza.

             

             Em nome de minha mãe, Guite, de meus irmãos, Leandro e Alexandre, e de toda a nossa família, agradeço a vocês, amigos e colegas, que tanto prestigiaram meu pai em vida, e permitiram que ele fosse o professor, aprendiz, pensador, orador, profissional, e grande homem que foi, e ainda é em nossos corações.

              

                                                                                                                                       Idete Zimerman Bizzi