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A derrota do Brasil para o crack
Saúde Mental - Alerta Médico

Antônio Geraldo Da Silva

(Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

 

Em dezembro fez dois anos que o governo federal lançou o programa Crack, é possível vencer. No entanto, infelizmente, a vitória não é uma realidade. Nem mesmo está próxima. Em recente entrevista, o ministro da Justiça disse que o programa foi o segundo em verbas aplicadas pelo ministério. Essa afirmação é assustadora, pois, dos R$ 4 bilhões prometidos pelo governo para o combate ao crack, apenas R$ 368 milhões foram de fato empregados. Recente pesquisa da Universidade Federal de São Paulo estima em 2,8 milhões de usuários de crack em todo o país. Esse numero dobra a cada dois anos. Afinal, como as autoridades estão enfrentando essa que já é a mais grave epidemia da história recente do Brasil? Trata-se de uma derrota em três frentes: política, estratégica e de saúde pública.

 

Política porque, segundo deputados da base aliada da presidente Dilma Rousseff, apesar de o assunto ser uma prioridade, há resistência interna dentro do próprio governo que ela lidera; o segundo escalão do Ministério da Saúde é contra o programa Crack, é possível vencer, inclusive defendendo a liberação das drogas. No ministério da Justiça, dois secretários tiveram que deixar suas funções depois de declarações desastrosas acerca do assunto. Uma torre de Babel: há uma corrente ideológica ligada ao governo, que defende o contrário do que a presidente fala.

 

Se a articulação política é uma questão grave, a estratégia de proteção de fronteiras é ainda mais urgente. O Brasil não planta uma única folha de coca. Como então temos tanta droga circulando dentro do país? Depois que Evo Morales - pasmem, presidente da Confederação dos Cocaleiros - assumiu a Presidência da Bolívia, a área planta de coca aumento quatro vezes, totalizando quase 50 mil hectares. Sua política de liberar o plantio por lá ja criou um pico do consumo de crack por aqui. Além disso, o Uruguai acaba de legalizar a maconha, sem ninguém ter certeza de como isso impactará a saúde e a segurança do país e, em última instância, do continente. A maconha não é uma droga simples, é uma bomba de aditivos e componentes químicos que causam comprovados transtornos mentais.

Outros países que fizeram movimentos semelhantes foram obrigados a recuar. A Suécia, por exemplo, é o país que mais reprime o uso de drogas e conseguiu eliminar a tempo a epidemia de crack que tomou conta do país logo depois da malsucedida legalização das drogas.

 

O terceiro escorregão do governo ocorre no terreno da saúde pública. A educação é capenga. A universidade de Michigan fez um estudo com a duração de 35 anos sobre o consumo de maconha nos Estados Unidos. Nesse período, notaram que, quanto maior a percepção do risco, menor o consumo. Ou seja, informação é fator primordial. Quando há informação cruzada - de que a maconha não faz mal - aumenta o consumo e o número de dependentes. Cerca de 37% dos jovens que usam maconha ficam viciados. É uma loteria cruel, especialmente com essa faixa etária, ainda não madura o suficiente para ter a dimensão das consequências dos seus atos. E que não tem acesso às informações das verdadeiras ações deletérias dessa droga maldita.

Há uma incompreensão de que a dependência química é de altíssima complexidade. Enquanto o tratamento da dependência de crack no sistema privado é digno e com boa resposta, o dependente pobre está entregue à própria sorte, ao despreparo da maioria dos serviços da rede pública.

 

O governo reconhece que ainda não entendeu o problema do crack. A política pública não pode ser só internação compulsória, pois parece ser apenas a preocupação de "limpar as ruas". Qual a consequência do tratamento? O que fazer com esses dependentes depois da internação? Como reinseri-los na sociedade de forma produtiva? Quais as diretrizes de tratamento? A Associação Brasileira de Psiquiatria já se colocou e se coloca à disposição do governo federal para esclarecer dúvidas e colaborar nas diretrizes a serem seguidas. Até agora, nada. Devem saber o que estão fazendo.

A única constatação possível é que o Brasil enxuga gelo quando o assunto é o combate ao crack e outras drogas.