João Gomes Mariante**
O título em epigrafe, bem que poderia ser utilizado como plataforma titular das sendas percorridas por Cyro Martins, nas andanças literocientíficas, que percorreu no seu longo andar.
Nessa trajetória, no leito da rota palmilhada, foi deitando sementes destinadas a fecundar a terra para o nascer da vida, do saber, da literatura, da saúde mental, da ciência e das artes, inspirando, lançando novas ideias, indicando outros caminhos à sua geração e às gerações que hão de vir.
Cyro Martins foi um destacado apologista da psiquiatria dinâmica e, em torno dela, cerrou fileiras, a fim de transmitir uma visão mais ampla da psicopatologia, da doença e do doente, no seu psiquismo inconsciente, como objeto de investigação e principal campo de trabalho.
O saudoso autor de Caminhos e de vastas realizações intelectuais entre literatura, psicanálise, psiquiatria e matéria de cunho científico e cultural, além de inúmeras incursões nos mais complexos temas e a todos eles tratados com talento e maestria, conquistou a aprovação unânime de quantos tiveram a ventura de conhecê-lo.
A maioria dos seus escritos de sábios conceitos encerram um de seus autênticos predicados, que recaem sobre a sua extraordinária capacidade de inculcar ideais.
A sensatez de seus conceitos, sempre abrangentes e de fácil incorporação, até mesmo pelas camadas menos cultivadas, foi sempre sua linha de conduta.
Em suma, Cyro foi sempre um ser humano simples, sensato, que transmitia ideias atiladas e óbvias, mas com tinte pessoal, eivadas de um sabor de originalidade.
O grande expoente da intelectualidade gaúcha, em priscas eras, de uma época neurotizante, viu-se envolto no processo de mutações profundas, mas sem entregar-se às circunstancias que muitos contemporâneos abraçaram e às quais muitos intelectuais a elas se escravizaram, bem como não aderiu a certos estrangeirismos de alguns puritanos adeptos da filosofia e do ranço do Velho Mundo.
Cyro foi um homem de coragem que, sempre, não só enfrentava os desafios, como até os favorecia e estimulava-os para poder desembainhar a espada toledana para réplica e tréplica de sua poderosa energia mental.
Ele foi um ser humano que enfrentou abrolhos, sem enrolar as velas e nem deitar a âncora ao mar.
Como profissional, por sua inata independência à crítica ideológica, e à individualidade do seu universo mental que sua aptidão habitava, e que jamais o levou ao desanimo ou a contrapartida de uma desistência, ou a um encabrestamento.
Nenhum ladrar impediu o passar de sua extensa caravana.
Cyro foi, em toda sua existência, admiravelmente coerente e exemplar modelo.
No ano de 2008, nascido em 05 de agosto de 1908, se vivo fora estaria comemorando um centenário, neste 05 do corrente mês, faria 105 anos.
O livro Caminhos, publicado em 1993, está completando 20 anos. O livro é um tratado de ensaísta literocientífico; é abrangente, pletórico de conteúdos consistentes, que instruem, ensinam e atingem o ser humano em seus conflitos mais profundos.
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* Caminhos. Cyro Martins. Porto Alegre, Movimento, 1993.
** João Gomes Mariante é médico psicanalista e escritor, diretor do Jornal MenteCorpo.