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Encontro CUIDANDO DO CUIDADOR - 20 de abril de 2013 E-mail
Humanismo Médico - Eventos

O "sofrimento profissional" e espaços para tratá-lo

 

                                                                                                    Michele Valent *

O Encontro no último dia 20 de abril reuniu pessoas interessadas no cuidado ao cuidador: como estão essas pessoas, essa classe que começa a ganhar contornos profissionais e que está sujeita a um considerável estresse emocional e físico no seu fazer diário? Estudos demonstram prevalências de até 90% de sintomas depressivos em cuidadores únicos de pessoas demenciadas. Notícias veiculadas na grande mídia alertam para episódios de agressão e maus-tratos de crianças e idosos por seus atendentes. Profissionais de saúde e educação estão entre os principais atingidos pelas doenças mentais ocupacionais. É visível que esta problemática demanda ações de caráter urgente.

 

A psicodinâmica do trabalho, campo teórico embasado na obra do francês Christophe Dejours, pode contribuir na elucidação das causas do sofrimento profissional e no exame das defesas psíquicas que impedem a conscientização deste sofrimento, tornando o trabalho rígido e despersonalizado. Reunindo conceitos das áreas da psicanálise, da sociologia e da ergonomia, essa linha investigativa acessa diretamente a forma como está organizado o trabalho e, por meio da ação comunicativa, elucida os pontos críticos a serem conscientizados e então trabalhados. Da mesma forma, buscam-se os elementos de prazer no trabalho, as chamadas “zonas vivas”, que devem ser expandidas e aproveitadas ao máximo. O trabalho é, a um só tempo, fonte de realização, de expressão e de construção da identidade, mas também pode ser causa da eclosão de adoecimento mental, quando a quantidade de sofrimento extrapola a capacidade do sujeito de defender-se dele.

 

Atividades como a promovida pelo CELPCYRO são exemplos do “espaço da palavra” sugerido como a intervenção-chave nessa linha de pesquisa. É em momentos de reunião do grupo de profissionais que o sofrimento ganha um nome – primeiro passo para combatê-lo – e que se transcendem as queixas individuais na busca por uma “cura” de toda a classe profissional, identificando e transformando mecanismos defensivos coletivos, como a recusa em reconhecer-se frágil, passível de adoecimento ou a coisificação do receptor dos cuidados, a fim de evitar uma identificação sofrida com a dor e a decadência do outro. Ao grupo, cabe amadurecer a sistematização e a formalização deste espaço, apropriando-se de modo consistente dos meios já existentes (como a revista O Cuidador, por exemplo), ou criando novos simpósios, talvez na forma de grupos de estudos permanentes ou atividades integradoras das diversas entidades já ativas. Urge ir além da enunciação de tudo o que está errado e aceitar a construção de um ambiente profissional saudável, partindo dos princípios da auto-determinação da ação humana e da prática da razão comunicativa.

 

 * Michele Valent  é Médica psiquiatra e Mestre em Administração