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A criança irresolvida -  E-mail
Além da Letra
  • Sobre a criança e os synthomas de sua imaginação

            Synthomas de Poesia na Infância é uma coletânea de ensaios da escritora de literatura infanto-juvenil e pesquisadora Gloria Kirinus, que transita na contramão de diagnósticos, em busca dos sinais/synthomas que revelam a fértil imaginação infantil, a essência de suas capacidades criativas. Nesse caso, importa-lhe mesmo observar o comportamento, não para chegar a um rótulo-diagnóstico conforme protocolos científicos, mas para ir muito além ou chegar mesmo antes deles na essência do ser criança. Fundamental é reconhecer que só a sensibilidade poética cria condições para perceber e compreender os Synthomas de poesia na Infância. Esse título curioso já nos antecipa algo a mais, um jeito especial de lidar com as palavras, atravessando sua transparência e mergulhando na opacidade da linguagem, onde habita a poesia. De fato, na busca dessa teia de sinais/synthomas, a autora, peruana que adotou o Brasil como segunda pátria e o português como língua-irmã, vai além da obviedade, recua no tempo e aproxima visões, revisita filósofos e estudiosos da linguagem, superando seu propósito inicial:

            uma incursão em outros diagnósticos, outros synthomas, menos evidentes  talvez, porque repousam na vertente do imaginário, da razão sensível, da fantasia, na conduta infantil, mas ao mesmo tempo desafiadores no sentido de  abrir caminhos reflexivos pouco explorados. (p.20).

 

            O livro resulta de longa e fértil pesquisa (mais de 10 anos), num processo de despojar-se de (pre)conceitos e imbuir-se de plena disponibilidade para a escuta do falar e a observação do fazer da criança; do pensar de filósofos e estudiosos da linguagem. Tudo tecido na trama de memórias de leituras vividas e inventadas, só possível quando, além de pesquisador, se é poeta, como é o caso de Gloria Kirinus. Daí a razão de seu texto se espraiar diante de nossos olhos e nos conduzir, com a leveza de um conto de encanto e a firmeza de uma reflexão sedimentada, pela senda de sua experiência do trabalho com a linguagem e da sutileza de suas observações sobre o universo da criança, que lhe permite tão bem escrever literatura infanto-juvenil como ensaios teórico-críticos.

            Já o sumário - anunciando "singular patologia" - indicia estarmos prestes a penetrar um contexto onírico-reflexivo, onde não falta uma ponta de humor: Rimite aguda, Delírio verbal, Estado contemplativo, Devaneio crônico, Analogia intensa, Isolamento fabuloso, Surtos de genial ingenuidade, Abundante riso, Acesso de perguntas, Catapora inventiva. Em cada uma dessas chamadas o leitor é levado a reencontrar leituras feitas e relatos de achados da autora.

 

            A relação da criança com as palavras desde cedo se revela cheia de fascínio. Antes de seus significados é a sonoridade que mexe com o ouvido e logo com o imaginário infantil, que passará a dar-lhes sentidos pessoais, independente de quais sejam os dicionarizados. E essa característica também dá liberdade à criança para criar e usar as palavras como bem queira - algo que logo descobre e vai manejando-as como os poetas o fazem, tal qual matéria-prima da poesia, jogando com elas, recriando-as, em malabarismos verbais - daí a rimite aguda. Pena que esse gosto lúdico da criança pela palavra vai-se esvanecendo à medida em que ela cresce. Como observa Gloria Kirinus:

            Esse fascínio natural que a criança sente pela palavra e toda sua dinâmica  imaginal normalmente fica reprimido na sala de aula, uma vez que os    professores apreciam somente o valor funcional e pragmático da linguagem e  ignoram todo o seu potencial estético, representado na voz da criança.

 

            Não à toa, Carlos Drummond de Andrade lamenta que a criança, ao entrar na escola, deixa de ser poeta, de fazer poesia. Exatamente porque passa a usar as palavras, deixando de brincar com elas. Que bom termos quem volte a lembrar isso a pais e educadores, como Gloria Kirinus.

                                                 Maria Helena Martins

                                         maio de 2013

                         

 

Synthomas de poesia na Infância  

 

 

 

            Que os Synthomas de poesia na infância (Paulinas, São Paulo, 2011) não fiquem recolhidos no estanque escuro da desatenção, mas que se anunciem com entusiasmo pela voz dos professores e pais, e que estes duvidem mais das ondas, dos rótulos e modismos que paralisam o saber poético.


            A infância de hoje está forrada de rótulos - hiperativa, distraída, impulsiva, rebelde... Geralmente, a criança que nasce com potencial criativo, intuitivo e intelectual é incompreendida por pais, educadores e profissionais da saúde, que identificam nela sintomas de transtornos (Déficit de Atenção - DDA ou Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH). A prova é que nunca se fez tanto encefalograma na tentativa de decodificar pensamentos e desvios das crianças.

            Nem toda criança que foge do padrão normal de comportamento deve ser tratada como caso clínico. É o que defende a poetisa e especialista em literatura, Gloria Kirinus, na obra Synthomas de poesia na infância, mais um lançamento de     Paulinas Editora. Sem duvidar dos estudos médicos sobre tais transtornos, Gloria mostra, por meio de depoimentos, relatos, entrevistas e experiências, que a dificuldade de aprender, a distração são preocupações válidas, mas não podem ser confundidas com a alegria entusiasmada e eufórica da infância livre e sem preocupações.

            E por que synthomas? Em vez de reduzir o signo “sintoma” a uma terapia negativa, atrelado ao combate, a grafia “synthoma”, escolhida por Gloria, ganha uma percepção simbólica alinhada à arte, já que syn-thoma se traduz naquilo que é lançado ou aquilo que coincide. Assim synthomas de poesia se despe da insinuação de algo negativo para se apresentar como algo que se alinha, que coincide com o imaginário. Neste caso, a poesia. Segundo a autora, a poesia está presente desde os primórdios da Humanidade e é na infância que o estar poeta se apresenta espontaneamente. Texto descomplicado, com situações e relatos engraçados, Synthomas de poesia na infância resgata a criança natural que cresce embalada pela poesia.