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O artista santanense - Hélio Fervenza - vai representar o Brasil na Bienal de Veneza E-mail
Fronteiras Culturais - Outras Fronteiras

                                              

                                                                                         Carmen Maria Serralta *

 

 

HFervenza I

HFervenza II 

Hélio

Helio Fervenza 1

 

 

 

 

            Hélio Custódio Fervenza será um dos dois brasileiros que representará, este ano, o país na mais antiga e, sem dúvida, a mais prestigiosa Bienal do mundo: a de Veneza. Hélio esteve também na Bienal de São Paulo de 2012, participando da mostra, ademais, ganhou um espaço especial para expor outros trabalhos, em retrospectiva. Sua produção artística está, pois, definitivamente reconhecida pela crítica especializada.

 

               Nascido em 1963, em Santana do Livramento, inicia no ano de 1975, estudos de desenho e pintura com o artista plástico e professor Osmar Santos na “Escuela Taller de Artes Plásticas” de Rivera e, no ano seguinte, prossegue-os na Escola de Artes (ASPES) em Santana do Livramento. Mais tarde, em Porto Alegre, frequenta cursos de gravura, desenho e pintura no Atelier Livre da Prefeitura e no Museu de Arte do Rio Grande do Sul. E, na França, realiza graduação e mestrado em Artes Plásticas na Université de Sciences Humaines de Strasbourg. Em 1995, conclui seu doutorado na Université de Paris I Panthéon-Sorbonne. Atualmente, é professor e pesquisador no Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul onde dá aulas de gravura e poéticas visuais.

 

                           Segundo conta o venezuelano Luis Pérez-Oramas - curador das Bienais de São Paulo (2012) e de Veneza (2013), - quando conheceu a obra de nosso conterrâneo, ficou surpreso por não ser ele mais conhecido no país e no exterior e, afirma: a produção artística de Fervenza foi uma das coisas mais interessantes levadas à cidade paulistana. Para Veneza, diz, a escolha deveria ser atribuída a artistas que oferecessem uma contribuição para a compreensão da arte contemporânea brasileira e, dentro desse exigente critério, foi ele selecionado e aceito.

 

                           Professor, artista, e pesquisador em artes visuais, ele une uma carreira acadêmica a uma carreira artística em que uma tem a ganhar com a outra – potencializando sua incontornável vocação reflexiva e criativa. Fervenza se insere na relação daqueles artistas contemporâneos que não apenas produzem arte, mas também teorizam sobre suas produções artísticas pessoais. Sem alarde, como é de seu feitio, porém com íntima convicção, proficiência técnica e apuradíssima percepção, ele propõe uma obra plástico-teórica desenvolvida a partir de determinadas questões e noções que, no correr do tempo, o foram atraindo artística e intelectualmente. As noções de espaço, vazio, pontuação, apresentação, mostrar/esconder são recorrentes em seus trabalhos e pesquisas. Em sua prática artística utiliza diferentes meios como instalação, fotografia, objetos, gravura, impressos, recortes em vinil adesivo, entre outros.

 

                           Hélio viveu durante anos na fronteira entre Santana do Livramento e Rivera e ela lhe deixou fundas e positivas marcas. Confessa que as noções de fronteira, de dentro/fora, de (in) determinação de limites estão muito presentes no seu trabalho.

 

                           Na verdade, nosso artista jamais se afastou afetiva ou artisticamente da vida fronteiriça e lembra, por exemplo, a importância dos dois anos de estudos com Osmar Santos. Nos anos 1984/86 participou dos 6º. e 7º. “Salón de Artes de Rivera.” E em abril de 1987, expôs “Desenhos” - na então Galeria Ponto d’Arte Promoções de nossa cidade - junto a “Gravuras” de autoria de Maria Ivone dos Santos - sua companheira de vida e de muitos projetos artísticos realizados em comum. Ilimites é um deles (1996/97), concebido conjuntamente por ele, por Maria Ivone e pelo artista uruguaio Felipe Secco. Essa proposta ocorreu na fronteira Santana/Rivera, mais precisamente, no Cerro Chapéu (distante uns vinte quilômetros das duas cidades). A noção, e a vivência de fronteira em pleno campo, criando uma situação de indefinição, foi, diga-se, decisiva para esse trabalho, daí o nome ilimites. Outra proposta - Transposições do Deserto – foi também desenvolvida nas duas cidades (2003). Tratou-se de uma realização coletiva entre duas escolas: a santanense Rivadávia Corrêa e a riverense Rodó. O artista-pesquisador estava naquela ocasião mais interessado nas culturas, características e relações entre os moradores de ambos os lados da linha divisória do que propriamente na singularidade do lugar. Foi este um processo que se desenrolou com tal autonomia que terminou fugindo à interferência de seu autor, alguma coisa lembrando (noutro contexto, claro,) caminante no hay camino se hace el camino al andar....

 

                        Nada mais interessante do que ouvir o próprio Fervenza quando nos fala da fronteira Santana do Livramento-Rivera e seus primeiros contatos com as artes plásticas. Razão suficiente para transcrever uma página do “Registros sobre deslocamentos nos registros da arte” escrito para o livro Dispositivos de registro na arte contemporânea, lançado em 2010.

 

                        Como tudo isso começou?

                        Para mim, e do que me lembro, pode ter começado nas idas e vindas de um lado para o outro da fronteira, diante da qual vivia e que separava as cidades de Sant’Ana do Livramento, no Brasil, e Rivera, no Uruguai. Na adolescência, entre outras coisas, atravessava-a uma vez por semana, a fim de estudar pintura na Escuela Taller de Artes Plásticas, cujo ambiente, para mim, era fascinante e indescritível. Daquilo que me lembro, talvez tenha começado mesmo quando, de outras vezes, passava para o outro lado para comprar publicações em fascículos nas livrarias existentes. Reunidos e colecionados pacientemente, um a um, integrariam volumes encadernados sobre a história da arte. Data dessa época o contato e a descoberta – por meio de fotografias reproduzidas e impressas – de obras de artistas como Paul Klee, Wassily Kandinsky, Piet Mondrian, Juan Miro, Joaquín Torres Garcia e Antoní Tápies, com as quais me confrontei em museus uns dez anos depois. Para mim, desde então, a arte e o fazer arte parecem estar relacionadas à travessia de uma fronteira, mesmo que esta esteja ao meu lado, diante de mim, dentro de mim: ir para o outro lado, mudar de estado, deslocar posições, alterar registros. As diferenças podem ser mínimas, mesmo um espaço ou tempo mínimo, fração, estalo, piscar de olhos. Importa que, a partir de um lance mínimo, tudo mude. E talvez já não volte o mesmo.

                    

                        O artista e professor francês Jean Lancri explica que o pesquisador em artes plásticas opera sempre no campo do conceitual e do sensível, entre teoria e prática, entre razão e sonho. Hélio transita muito à vontade entre esses dois registros. Não de graça, nosso conterrâneo tem sido considerado um profundo pensador da arte visual e um artista sensível na apreensão do mundo que o circunda.

 

                        As Bienais de São Paulo e Veneza colocaram Hélio Fervenza em um novo patamar artístico. Que suas raras qualidades pessoais – destaco aqui a respeitosa humildade com que ele encara a arte e o seu fazer artístico - lhe sejam cada vez mais generosas!