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Cyro Martins: cem anos | Imprimir |  E-mail

Cláudio Meneghello Martins*

Pela passagem do seu 84 aniversário, em seu “Discurso de Tira” de agradecimento em certo ponto coloca:

     ....” Mas o que desejo ressaltar é que o principal, depois de estarem Adão e Eva prontos, embasbacados com as delícias do paraíso, Deus não ordenou: falar! Esse foi o primeiro ato falho universal do criador. Cometeria outros no decorrer dos milênios. Não os trarei à tona neste momento. Mas é insopitável a pergunta acerca do primeiro. Que desígnios ocultos estariam acoitados nesse conflito do Senhor? Esse segredo não foi nunca desvendado e nem o será jamais, mesmo porque, a esta altura dos tempos, a idade do Senhor já não é compatível com uma análise...”

Esse trecho sintetiza a importância e seu interesse pela compreensão do ser humano, através da observação das múltiplas figuras que passaram por sua infância de menino campeiro da fronteira até a sua adultez, mais tarde retratados em sua obra ficcional extensa, associados ao desvendar da curiosidade científica pelos estudos da psiquiatria e psicanálise.

       Forma-se em 1933 em Medicina na que virua a ser UFRGS, retorna a Quaraí  e aí clinica por três anos, quando sente que o marasmo da pequena cidade fronteiriça lhe inquietava. Em depoimento pessoal, pensou em tomar alguns ares mais “civilizatórios e intelectuais” na vizinha Alegrete. Entretanto, o seu rumo foi bem mais distante, pois em 1937 foi estudar Neurologia no Rio de Janeiro, retornou em 1938 para participar do primeiro concurso público para Psiquiatra do Hospital Psiquiátrico São Pedro com ares de concurso para cátedra universitária. Junto com mais três colegas, entre eles Mário Martins, é aprovado.  A partir daí sua carreira médica direcionou-se na ampliação do conhecimento das doenças mentais, tanto através da sua formação psicanalítica, iniciada com sua ida para Buenos Aires em 1950 e retorno em 1954, quanto a sua intensa participação associativa como um dos fundadores e presidente tanto da Sociedade de Psiquiatria do RS como da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre.

       Foi um defensor do “humanismo psicanalítico”, assim se posicionando:” O humanismo psicanalítico é um estímulo a que pensemos sem metafísica sobre a condição do homem em face do universo e sobre a verdade das relações humanas. Portanto, é uma tomada de posição contra o falso, o espúrio, o arbitrário, várias vezes disfarçados de pensamento científico.”

Com essa forma de pensar colaborou significativamente na formação de várias gerações de médicos e psicoterapeutas, tanto como professor, analista e uma liderança inata no desenvolvimento científico.

        Clinicou ininterruptamente por 62 anos, quando adoeceu aos 87 anos. Lembro-me de sua tenacidade ao final da vida, quando me solicitou que lhe auxiliasse avisar aos seus pacientes que teria que lhes pedir uma licença médica, pois se sentia sem forças...

         Transmitiu o seu conhecimento e idéias através de vasta obra ficcional e de ensaios psicanalíticos, além de inúmeras participações de Congressos Nacionais e Internacionais de Psiquiatria e Psicanálise.

          Quando questionado como conseguia produzir tanto, referia que era um escritor do “rabo das horas”.

         

Neste ano oficialmente decretado pela Governadora Yeda Crusius, ANO CYRO MARTINS, talvez uma das mensagens que possa ficar para os seus colegas de profissão, seja a de que, para um bom terapeuta poder auxiliar ao seu paciente, é preciso desenvolver “um bom senso de realidade, humor e poesia”.

                   

           Fica o convite a todos que se interessarem por conhecer  mais a obra de um dos expoentes da cultura gaúcha e brasileira do século XX, que entre na página do Centro de Estudos de Literatura e Psicanálise Cyro Martins (www.celpcyro.org.br).

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* Cláudio Meneghello Martins, filho de Cyro Martins, é Médico Psiquiatra – Membro efetivo APRS; Coordenador Saúde Mental do CELPCYRO; Chefe do Serviço de Psiquiatria do HMIPV, em Porto Alegre.