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O desatador de Nós e as Humanidades Médicas - Betina Mariante Cardoso | Imprimir |  E-mail

 

Jocelyn Alberton Spolaor Jr., 54 anos, é médico pediatra em Porto Alegre. Como escritor, “O Desatador de Nós” é sua publicação de estreia, tendo escrito outros textos ainda não editados. Em sua narrativa, Jocelyn exerce a imaginação, o olhar observador sobre o fenômeno humano, a perspicácia e algumas pitadas de ironia sobre fatos rotineiros. De ouvido atento às histórias e seus hipertextos e com boa disposição para a prosa com o leitor, convida-o para embarcar nesta aventura em um vilarejo muito pitoresco, e, ao mesmo tempo, tão semelhante a lugares conhecidos de nosso universo contemporâneo.

A mescla entre o real e o imaginário, a atmosfera antiga e atual, o micro e o macrocosmo dos cenários e personagens instigam o convidado a construir todas as leituras possíveis que sua criatividade e memória sugerirem. Ao avisar, no início, que “esta é uma obra de ficção...”, o autor provoca a curiosidade e a dúvida, dando início ao bom-humor aliado a uma crítica mansa e inteligente.

O processo de escrita de “O Desatador de Nós” foi desenvolvido entre 2008 e 2009, período em que lera, entre outras obras, “O conto do amor”, de Contardo Calligaris, e “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, livros em que o autor teve confessa inspiração. Participou da Oficina de Escrita Criativa de Marcelo Spalding, dando continuidade ao interesse pela escrita literária, e, em fevereiro de 2011, teve início o projeto editorial do presente livro pela Casa Editorial Luminara, editora com foco em Literatura, Humanidades Médicas e na interface entre ambas.

Sobre esta interdisciplinaridade? Pois bem, salienta-se cada vez mais o papel da Literatura como ferramenta de ensino, de aprendizagem e da prática contínua de médicos, estimulando a vivência cotidiana do Humanismo Médico, tema abordado com excelência pelo médico e escritor Cyro Martins. A Literatura e as demais artes propiciam, no profissional de saúde, o  desenvolvimento significativo das capacidades de simbolização, percepção, abstração, comunicação/linguagem e sensibilidade, entre outras.

A intersecção, deste modo, tem este escopo: permitir a compreensão e a “leitura” do humano em sua integralidade, mediante a formação e o reconhecimento de médicos sensíveis, atentos e dispostos a perceber e a aceitar as vicissitudes humanas e aquelas inerentes ao binômio médico-paciente. E esses são os atributos necessários para o cuidado, o respeito e o ato de tratar.

Em linhas gerais, as Humanidades Médicas postulam que, por meio de todas as leituras possíveis, ficcionais e não-ficcionais, literárias e das outras artes, amplia-se a forma de perceber o paciente, com todas as escutas possíveis que sua história poderá fornecer.

A área “Literatura e Medicina” constitui, de acordo com a bibliografia médica internacional, uma subdisciplina dos Estudos Literários e parte das Humanidades Médicas, mas essa é uma interface muitíssimo antiga, que passou a ser estudada como área do conhecimento apenas a partir do final do Século Vinte.

Essa transformação deu-se pela tomada de consciência sobre o papel do aprendizado das Humanidades para os estudantes de Medicina, integrando-as, cada vez mais, à essencial construção científica. O conjunto final compõe a necessária visão sobre o paciente como fenômeno humano: o modelo bio-psico-social. De fato, a aliança entre essas ‘artes’ permite o desenvolvimento de indivíduos com formação científica e humanística, riqueza necessária tanto à sua construção individual como à sua identidade médica.

Então, vejamos: a literatura melhora o sujeito médico em sua sensibilidade, vivência emocional e perceptiva do mundo, e a recíproca é verdadeira: a relação médico-paciente é única em suas características, e a possibilidade de conviver com os pacientes e com suas famílias, suas histórias e seus tempos pode acrescentar ao médico um olhar profundo para o humano, melhorando sua capacidade de perceber, de sentir, de relacionar-se com o outro e consigo mesmo, ampliando seus horizontes, perspectivas e labirintos.

 Por sua vez, lendo e escrevendo, traduzindo percepções, o indivíduo-médico-escritor-leitor busca alicerçar sua humanidade mais profunda, dando vida a uma plêiade de personagens e de cenários inusitados, produto de sua inventividade e de sua visão de mundo: nesse círculo residem as Humanidades Médicas. É neste campo que o escritor-médico e o médico-escritor criam personagens, roteiros, desafios e finais surpreendentes: na sua dimensão como humano, com sua capacidade de criar e de expressar-se, de contar e de ouvir histórias.

É neste campo, afinal, que o Jocelyn escritor nos apresenta “O Desatador de Nós”, produto de sua imaginação criativa, de leituras, de memórias, e da percepção de situações reais no cotidiano (e naqueles “nós apertados”) de cada um. Nessa interface entre o real e o imaginário, a criação e as lembranças, os finais contundentes e os inesperados, está a caneta, traduzindo toda a amplitude de histórias e de tipos humanos com que nosso autor nos presenteia