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CELPCYRO 15 Anos - Depoimento de Roberto Bittencourt Martins PDF Imprimir E-mail

 

 

   “Nós, estudiosos, como agentes do futuro, temos deveres e privilégios. Os deveres se referem ao destino coletivo. O destino não se enfrenta de olhos fechados.”

 

   Palavras como essas, ditas por Cyro Martins em “O mundo em que vivemos”, têm certamente servido como  bússolas (ou GPSs, numa versão mais atual) para os rumos seguidos pelo Centro de Estudos de Literatura e Psicanálise Cyro Martins em seu percurso que dura já quinze anos. A instituição teve seu nascimento oficial cerca de dois anos após a morte do escritor, médico e psicanalista. Mas terá sido gerada antes, como é fácil imaginar, se pensarmos nos deveres que os estudiosos, “agentes do futuro”, devem manter em relação ao destino coletivo para enfrentá-los de olhos bem abertos. E são esses olhos bem abertos, embora marejados no olhar da hora do adeus final, que Cyro nos legou. Juntamente com aquelas outras frases, transcritas por Celito De Grandi e Núbia Silveira nas paginais finais de sua biografia: o conselho - “não se preocupe, se ocupe” - e a constatação, triste, mas lucidamente realista, - “que infelicidade, estou acabando”...


   Essa infeliz realidade será, contudo, parcial. Suas idéias, formuladas em tantos ensaios, artigos e conferências, e as construções de sua imaginação, criadora dos romances e contos em suas ficções, elas permanecem, trazendo a nós o privilégio de conhecê-las, revê-las e repensá-las. Não acabaram, portanto, todos esses pensamentos pensados por ele sobre o mundo em que vivemos e sobre as pessoas que somos.  Pelo contrário, suas idéias permanecem vivas e ativas, capazes de gerar novas reflexões, concordantes ou mesmo discordantes, e de desdobrar-se em novas criações, que nelas terão seu suporte. Assim, os olhos continuam abertos, aptos para perscrutar o Destino, esse futuro em constante transformação. E com a mente, o mais livre possível do peso dos preconceitos.  E, desse modo, disponível para o acréscimo de novos elementos trazidos à reflexão. O caráter cambiante da realidade se impõe (“Trinta anos de relação Médico Paciente”, por exemplo”), mas a essência psíquica do ser humano segue sendo a mesma, não obstante as vestes distintas que possa apresentar.   

 

    Por tudo isso, creio que o Centro de Estudos de Literatura e Psicanálise, com a carga humanista que Maria Helena soube tão bem infundir-lhe, tem sido ao longo desses quinze anos um “agente do futuro” atuante, tendo seu olhar aberto para os desafios trazidos pelas novas configurações trazidas pelo destino. Ao longo desses quinze anos, foi ampliando suas perspectivas. Em eventos , como os Simpósios, o primeiro deles dedicado à Arte e Ciência, seguido por outros voltados para o Humanismo Médico, para a relação entre Arte e Doença Mental, para a Medicina na Era das Neurociências, para as questões da Violência e Doença Mental e para as Transformações na Relação Médico-Paciente sofridas durante os últimos trinta anos. Eventos esses que, guardados agora no Site, poderiam no passado ter ganho corpo concreto na publicação de várias revistas e anais.


   Ao lado desses múltiplos eventos, foram criados projetos educativos e pesquisas, tais como aquela – notável - do Celpcyro Vai à Escola, ou como aqueloutra, igualmente marcante, desenvolvida nas Regiões da Fronteira entre Brasil, Uruguai e Argentina. E quantos bens culturais – site, livros, filmes, disco – foram sendo produzidos pelo esforço desses anos todos.  Prêmios literários trazendo o estímulo para novos autores, prêmios culturais sendo assim justamente recebidos. Sem esquecer, é claro, a difusão e o estudo não só da vasta obra de Cyro Martins, mas da literatura sul-riograndense de modo geral. Nesses quinze anos de atividade e de difusão, num raio amplo que vai do Prata à Alemanha,  penso que o CELP Cyro Martins tem sabido desenvolver as preocupações que seu patrono manifestou em sua obra. Cultura, Arte, Ciência, Psicanálise, Humanidade, Medicina, Psiquiatria – e toda a complexa lista de nossa condição humana.


   Não posso, é claro, por gosto próprio, deixar esquecidos os temas literários. Impossível situá-los todos aqui. Mas, numa observação pessoal, devo lembrar o prazer que senti, agora há pouco, ao ler a séria  pesquisa de Carmen Maria Serralta sobre a nada conhecida (ou mesmo, ignorada pelos brasileiros) estada de Borges no Brasil e em Livramento em 1934. Meu prazer nasceu de várias fontes: Borges é um de meus autores preferidos e descobri-lo em 1960 me trouxe enorme satisfação. E, muito embora um de seus personagens (o pai de Emma Zunz) tenha morrido em Bagé, nunca poderia pensar nele, Jorge Luis Borges, na rua dos Andradas, em Livramento, vendo um crime que o impressionaria, nas proximidades da casa em que morava meu avô santanense (pai de Mário, grande amigo de Cyro), perto do Cine-Teatro Colombo, onde assisti a tantos faroestes  e Iwo-Jimas - só onze anos mais tarde... Essa observação, pessoal e  talvez irrelevante para os demais, me conduz a mais uma consideração sobre o vigor do CELPCyro: ele nos dá elementos para pensar, lembrar e imaginar... Penso que, nesses quinze anos, terá sido essa sua missão, a missão que lhe deram Maria Helena e seus colaboradores, como Cláudio. Léa Masina e tantos e tantos outros. E que tem seguido, nesse trajeto, de certo árduo, mas generoso, os rumos inspirados pelas idéias de seu pai: fazer-nos refletir, fazer-nos usar nossas mentes na observação e na fantasia e, sobretudo, fazer-nos sentir com clareza nossos sentimentos, condição imprescindível para a existência da solidariedade do humanismo – e, portanto, da sobrevivência da humanidade.    

                Rio, 31 de julho de 2012.