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Sombras na Correnteza - Cyro Martins  E-mail
Estante do Autor - Ficção

 

 

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O comércio mantinha-se aberto e vendendo muito, porque, como o peso uruguaio subira de repente nos últimos dias, a castelhanada vinha em massa abastecer-se no Batista. Por tudo isso, a atmosfera da cidade era uma mescla de alegria e apreensão. Os comerciantes, mesmo os maragatos, no balcão mostravam cara preocupada para os fregueses, sobretudo depois de notarem que um semblante assim excitava para compras, pois as pessoas ficavam dominadas por um indefinido temor de que os gêneros alimentícios acabassem. Lá dentro, entretanto, no escritório, no depósito ou quando abriam a gaveta, todos eles, governistas e oposicionistas, exultavam. Atribuíam a queda do mil réis ao movimento revolucionário e daí as vendas de endoidecer, pelos preços que bem entendessem, os castelhanos sempre achavam barato e não havia mercadoria que chegasse. Se a briga não engrossasse demais, a ponto de atrapalhar as carreteadas de Alegrete para o Batista, e se durasse um ano, a fronteira estava feita. Pucha, afinal! (p. 79-80)

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No Passo do Garupá, ainda no município de São João Batista, se deu o encontro das duas forças, a do cel. Dagoberto Carvalho com a do cel. Honório Lemes, major de 93, que logo passaria a general. Houve uma certa cerimônia nesse momento, que Dagoberto enfatizou como histórico. As duas tropas fizeram alto e os chefes se adiantaram, acompanhados de seus respectivos estados-maiores. Todos bem montados, os pingos escarceando e espumando na peiteira. A força de Honório, que ainda não enfrentara nenhuma refrega, estava inteira. Seus homens ansiavam pela hora de se experimentar na coxilha. Já a gente de Dagoberto, com o transtorno do incêndio do saladeiro, que fora além das medidas previstas, se mostrava meio abichornada. Honório notou.

-Pelo jeito, parece que o cel. está em campanha há um mês.

Dagoberto relatou o incidente do incêndio.

-Coronel, na minha força, eu não tolerarei uma barbaridade dessas. Não saímos a campo para escangalhar a riqueza do Rio Grande, e, sim, pra derrubar a ditadura.

Dagoberto se agarrou na cabeça do serigote e mordeu o lábio para não destratar o velho caudilho. Honório foi adiante:

-Eu esperava que o senhor trouxesse uma coluna de, pelo menos, trezentos homens, mas, pelo visto, talvez não alcancem a duzentos.

-Espero mais, coronel. Até chegarmos a Uruguaiana se incorporarão mais uns cento e cinqüenta. Deixei pra trás três homens de confiança encarregados da organização desse contingente. E quais são os seus planos de campanha, cel. Honório?

-Vamos atacar Uruguaiana, porque não podemos nos dirigir pra o centro do Estado sem primeiro limpar a fronteira. E na fronteira, você sabe, o foco principal de resistência dos chimangos é Uruguaiana. O Flores da Cunha não vai se entregar assim no mais. Além da disposição de luta, deve ter recebido bom armamento, fuzis e, quem sabe? até metralhadoras. Precisamos levar isso em conta, dr. Dagoberto.

-E o sr. espera que outros grupos se incorporem à sua tropa, de hoje para amanhã?

-Outros, não. Deverá chegar, duma hora pra outra, o contingente do deputado Gaspar Saldanha, vindo do Alegrete.

-Quantos combatentes?

-Olha, não devem ser muito mais do que os seus lanceiros.

-Até cercarmos Uruguaiana teremos mil homens, coronel?

-Uns mil e quinhentos, calculo. Mas, cadê armas? O Flores eu sei que tem quatrocentos homens, porém armados e municiados.

-Que faremos, então, sem armamento igual ao do inimigo que, além do mais, vai escolher o local do combate e nos esperar entrincheirado?

-Nós vamos repontar a chimangada a grito, a pelego, à pata de cavalo e à ponta de lança, dr. Dagoberto! -saltou, incontido, o tenente Zeferino Vargas.

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Excerto do romance Sombras na Correnteza. Porto Alegre, Movimento, 1979, 3a. ed. revista.

Links Relacionados:

- Prefácio do autor
- A década de 20