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Hélio-Currículo e carta-depoimento a Heleusa Figueira Câmara | Imprimir |  E-mail

Currículo   de Hélio Alves Teixeira e carta-depoimento a Heleusa Figueira Câmara



TEIXEIRA, Hélio Alves. - Hélio Alves Teixeira nasceu no dia 29 de setembro de 1950, em Macarani, Bahia. Lavrador, pedreiro, mecânico, escritor, poeta, cordelista, compositor e contador de histórias. Recebeu Menção Honrosa no 2º Concurso Histórias de Trabalho promovido pela Coordenação do Livro e Literatura - Secretária Municipal de Cultura de Porto Alegre/RGS; Outubro de 1995 com as crônicas: “As prendas de Mamãe”, “Mão Branca e Peludo”, e Terras Alheias.” Autor de “Ventaneira: uma história sem fim” (1996) “Fuga Maluca” sobre a rebelião do PRGN, 1997. História das Matas Verdes: A Festa Misteriosa (Lit. Infanto Juvenil) (2001).


 (inserir foto)

 

Hélio Alves Teixeira (1995)

 

 (inserr foto)

Hélio Alves Teixeira (2010)

 

 


1- DADOS PESSOAIS:


Nome: HÉLIO ALVES TEIXEIRA

Data de nascimento 17/04/1954

Natural de Macarani - Bahia

RG: 02916165 77, CIC: 633 109 416 75 /20

Título de reservista: 060515-M

Cart. de Habilitação: Categoria B - Reg. 216822785

Contatos com o autor:

Endereço Residencial: Rua Tia Anastácia nº 175 B, Jardim Gurilândia, Cep 12071-570, Taubaté, São Paulo, Brasil.

Tel.: (12) 9193 6554

helioalves-escritor@hotmail.com



2 - FORMAÇÃO EDUCACIONAL


2.1 - Curso Primário

1962 a 1966: Curso Primário até 3ª série. Escola Municipal de Maracanã. Macarani - BA


3 - FORMAÇÃO PROFISSIONAL


3.1 - Lavrador

1960/1965: Trabalhador na Fazenda Boqueirão, propriedade do Sr. Raimundo Ferreira em Macarani, Ba.

1965/1968: Trabalhador na Fazenda Lagoa, propriedade do Sr. Paulo Roberto Bastos em Macarani, Ba.

Trabalhador na Fazenda Estância


3.2.- Pedreiro

Trabalhador na Construtora Yporanga em São Bernardo Campo - São Paulo


3.3 - Escritor, Poeta, Cordelista, Compositor



PARTICIPAÇÃO EM CURSOS, PALESTRAS E LANÇAMENTOS


  • 1996 (17/02 à 13/04): Participação no curso: Como ser um Verdadeiro Cristão promovido pela Igreja Metodista, em V. da Conquista, BA
  • 1996 (27/05) - Participação no curso: As Grandes Perguntas da Vida promovido pelo Instituto de Correspondência Universal em Campinas, SP.
  • 1996 Participação  como palestrante com o tema Escrita de Caminhoneiro em Conversa com o Leitor no Programa PROLER/Carcerário, promovido pelo Museu Regional de Vitória da Conquista, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista/BA.
  • 1996 Participação como palestrante com o tema: "Testemunho de um Detento na Igreja Vitória da Conquista/BA
  • 1996 (18-12) - Lançamento do livro Ventaneira: uma história sem fim na Livraria da Torre, promovido  pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos do Estado da Bahia em Salvador, BA
  • 1997( 24-01) - Lançamento do livro Ventaneira: uma história sem fim no Museu Regional de Vitória da Conquista promovido pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em Vitória da Conquista, BA.
  • 1997 (Set.) Participação especial como palestrante na Mesa Redonda do VI Encontro de Leitura do Proler/UESB em V. da Conquista, Ba.
  • 1998 (15-04) - Lançamento do livro Ventaneira: uma história sem fim. 2ª Edição na Cantina da CEUNES, promovido pela Coordenação Universitária Norte do Espírito Santo da Universidade Federal do Espírito Santo em São Mateus, Espírito Santo.
  • 1998 (17-07) - Lançamento do livro Ventaneira: uma história sem fim no Solar das Artes, promovido pelo Departamento de Educação e Cultura e Esportes, em Taubaté, São Paulo.
  • 1999  Agosto - publicação da 3ª Edição de Ventaneira uma história sem fim, viabilizada pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Universidade de Taubaté, em Taubaté, São Paulo
  • 1999 publicação do livro História das Matas Verdes: A Festa  Misteriosa (Lit. Infanto Juvenil). Publicação do autor. Taubaté, São Paulo.
  • 2001 (04/08) Relançamento do livro infanto-juvenil  História das Matas Verdes - A Festa Misteriosa, no Solar das Artes em Taubaté com o apoio da UNITAU.
  • 2001 (Out.) Participação especial como palestrante na Mesa Redonda do X Encontro de Leitura do Proler/UESB, em V. da Conquista, Ba.
  • 2003 (09 a 11 de Out) Participação especial como Contador de Histórias no XII Encontro de Leitura do Proler/UESB, em V. da Conquista, Ba.
  • 2003 (16 a 18 de Out) Participação especial como Contador de Histórias no IX Encontro de Leitura do Proler/UESB, em Itapetinga, Ba.
  • 2004 (21 a 23 de Out) Participação especial como Contador de Histórias no XIII Encontro de Leitura do Proler/UESB, V. da Conquista, Ba.
  • 2007 (23-06) Participação especial como palestrante no VIII Congresso de Ex- Presidiários. Brasília.DF.
  • 2010 (18-09) Participação especial no grupo de Práticas Sócio-Educativas em Prisões. no Encontro Regional Nordeste (I) Educação em Prisões. Salvador-BA, 16,17 e 18 de setembro de 2010.


PARTICIPAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES

  • 1999 (27-10) - Membro do Conselho da Comunidade da Comarca de Taubaté, nomeado pela Dra Sueli Zeraik Armani, Juíza Titular da Vara da Execução Penal. Taubaté, SP


PRÊMIOS RECEBIDOS

  • 1995 Outubro.  Menção Honrosa no 2º Concurso Histórias de Trabalho com as crônicas: As prendas de Mamãe”, “Mão Branca e Peludo”, e Terras Alheias” na modalidade: Lembranças e vivências de trabalhadores”. Promoção da Coordenação do Livro e Literatura  da Secretária Municipal de Cultura de Porto Alegre/RGS.


TRABALHOS PUBLICADOS

  • 1996 publicação das crônicas “As prendas de Mamãe, Mão Branca e Peludo, e Terras Alheias” in História de Trabalho - (Antologia), promovida pela Coordenação do Livro e Literatura, Secretária Municipal de Cultura de Porto Alegre, Porto Alegre /RGS
  • 1996 publicação do livro Ventaneira uma história sem fim. (Romance Autobiográfico) promovida pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Gráfica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 195 p, 1ª Edição, Vitória da Conquista, BA.
  • 1998 publicação da 2ª edição do livro Ventaneira uma história sem fim. promovida pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Gráfica de São Mateus, ES, São Mateus, Espirito Santo.
  • 1999 publicação da 3ª Edição do livro Ventaneira uma história sem fim, promovida pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Universidade de Taubaté em Taubaté, São Paulo
  • 1999 publicação do livro História das Matas Verdes: A Festa  Misteriosa (Lit. Infanto Juvenil). Publicação do autor. Taubaté, São Paulo.
  • 2001 (04/08) Relançamento do livro infanto-juvenil  História das Matas Verdes - A Festa Misteriosa, no Solar das Artes em Taubaté com o apoio da UNITAU.


7 – SOBRE O AUTOR


7.1 REPORTAGENS TELEVISIVAS

  • 1996 Entrevistas realizadas pela TV Sudoeste e TV Cabrália em Vitória da Conquista, BA
  • 1997 - Destaque no Jornal Nacional, Emissora Rede Globo
  • 1998 Janeiro participação no Programa Jogo Aberto da TV Gazeta em Vitória, ES
  • 2000 (20/10) Participação no Programa Brasil Solidário da TV SENAC em São Paulo – SP.


MATÉRIAS JORNALISTICAS

  • 1997 (08-01)  reportagem publicada no Jornal A Tarde, 2º Caderno, pg.03, Salvador, BA.
  • 1998 (31-03)- reportagem  publicada no Jornal Tribuna do Cricaré, pg. 03 São Mateus, ES.
  • 1998 (14-07)- reportagem publicada no Jornal da Cidade / Vale do Paraíba, pg. 03 Taubaté, SP /
  • 1998 (09-11) reportagem publicada na Revista Época, pg 45, nº 25


RESENHA: Ventaneira: uma história sem fim.


TEIXEIRA, Hélio Alves. Ventaneira: uma história sem fim. Org. Heleusa Figueira Câmara, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, V. da Conquista, Bahia, Brasil, 1996.

Ficha Técnica: 195 p., Literatura Brasileira, romance. Memória Brasileira. Literatura em Presídios.

Hélio Alves Teixeira é trabalhador rural; pedreiro e escritor. Autor de “Ventaneira: uma história sem fim”, publicado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia em 1996. Costumes, memória, esperanças e angústia misturam-se no texto. A vida difícil da família de lavradores que constrói casa, faz plantações em terras alheias e sempre precisa deixar estes espaços para recomeçar em outro lugar. Ventaneira foi escrito quando o autor encontrava-se cumprindo pena no Presídio Regional Adv. Nílton Gonçalves em V. da Conquista, Bahia.Por isso, eu vou dormir e acordo sonhando com a caneta entre os dedos, eu vou rabiscando numa folha de papel meu passado, minha infância, na esperança de um dia mostrar as crianças, que, um dia, eu fui criança.” (Hélio Alves Teixeira)


Mini currículo

Hélio Alves Teixeira nasceu no dia 29 de setembro de 1950, em Macarani, Bahia. Lavrador, pedreiro, motorista, corretor de imóveis, escritor, poeta, cordelista, compositor, contador de histórias, palestrante, Amigo do Proler/UESB. Em 1994, começou a participar do Proler/Carcerário, programa de incentivo a escrita e a leitura em presídios, com o apoio da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, UESB. Em Outubro de 1995, recebeu Menção Honrosa no 2º Concurso Histórias de Trabalho promovido pela Coordenação do Livro e Literatura - Secretária Municipal de Cultura de Porto Alegre/RGS, com as crônicas: “As Prendas de Mamãe,” “Mão Branca e Peludo,” e “Terras Alheias.” Em 2006 foi publicado o seu livro “Ventaneira: uma história sem fim” pelo Proler/UESB, V. da Conquista, Bahia, tendo sido republicado com o apoio da UNITAU em Taubaté, SP. Em 1999 tornou-se Membro do Conselho da Comunidade da Comarca de Taubaté, SP. Em 2001 publicou História das Matas Verdes: A Festa Misteriosa (Lit. Infanto Juvenil); e em 2010 concluiu o romance Fugindo do Inferno (no prelo).”


Currículo organizado por Heleusa Figueira Câmara: Professora de Português Instrumental e Comunicação nas Organizações. Departamento de Ciências Sociais Aplicadas - DCSA. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Vitoria da Conquista, Bahia, Brasil.


CORRESPONDÊNCIAS 1998, 2003

Primeiros anos fora da prisão e o encontro com as universidades. 1998

Taubaté, 30 de dezembro de1998


Caríssima professora Heleusa


Este relatório foi escrito exclusivamente para mostrar os apoios que tenho recebido da nossa ilustre sociedade.

Quero lembrar que cada dia que recebo um benefício, agradeço a Deus, à professora Heleusa, a Universidade e a Secretaria da Justiça, pelo empenho que tiveram para me ajudar a resgatar minha entidade, que já se encontrava perdida.

Volto a afirmar que mesmo com o apoio de todos, foi preciso eu me esforçar muito. Fazer é querer, se o indivíduo não quiser mudar de vida ninguém jamais consegue fazer ele mudar.

Eu me sinto honrado pela minha persistência pois passei dias difíceis no cárcere, ao lado de um caderno, escrevendo o meu livro, o qual não foi em vão. Por isso eu quero mais uma vez agradecer a professora Heleusa pela sua solidariedade para comigo, pois foi através do seu interesse que no mês de maio de 1997 eu tive a felicidade de receber a minha liberdade, a qual eu vinha esperando a muito tempo.

Ela foi uma pessoa que não mediu distância para me ajudar em todas as circunstâncias. Ela, além de ter me incentivado a descobrir o segredo da leitura, teve o trabalho de corrigir minhas escritas e fazer a montagem do meu livro, corrigindo-o em geral. Após ela ter feito tudo isso, conseguiu também, um patrocínio para o mesmo.

Referente ao livro, fazendo pedido para as autoridades me soltarem. Ora, como eu tinha um bom comportamento, a justiça considerou os seus pedidos, mesmo porque, além do meu comportamento, minha pena estava por vencer.

Lembro-me que um dia de Sexta-feira do mês de maio de 19997, as 5 horas da tarde, a professora Heleusa chegou no presídio acompanhada de um oficial de justiça contendo o meu alvará de soltura em mãos. Assim que as portas se abriram ela me colocou em seu veículo e em seguida nos dirigimos para o fórum daquela localidade, pois eu fui para receber instrução do excelentíssimo juiz.

A instrução que se refere é dada a todos os que saem do cárcere, par que os mesmos não venham a quebrar sua condicional. Dali do fórum, fui levado para a casa dos meus primos, Ramon e sua esposa Elisete, para morar com eles até que a justiça resolvesse o meu problema pois eu tinha saído do cárcere provisoriamente, até que o meu processo retornasse do Tribunal de Justiça de Salvador.

Naquela época, fora do presídio, sem emprego e sem teto para me esconder, comecei uma grande luta para sobreviver. Então, fora do presídio, após eu ter descansado três dias, eu fui à luta.

Num dia de Segunda-feira pela manhã eu saí pela rua com um malote de livros para vender. Lembro que eu saí pela rua, batendo nas portas das residências, lojas, etc.. Ali eu oferecia o livro e dava o meu testemunho. Creio que muitas pessoas quando ouviam a minha história, se emocionavam e comprava-o, outras, compravam por curiosidade. Lembro-me que com mais ou menos quinze dias eu embolsei R$ 1000 dos 100 livros que me restavam. Naquela época a universidade fez mil livros na sua primeira edição. Então, desses livros, foram doados oitocentos para a universidade, juntamente com a Secretaria de Justiça, para que os mesmos fossem distribuídos para escolas e presídios.

Quando eu me encontrava preso, dei ao meu irmão Edgenalho 100 livros para vender, então eu fiquei só com cem livros, para vender quando eu estivesse em liberdade.

Com um mês que eu me encontrava morando na casa dos meus parentes, eu resolvi ir morar sozinho pois queria começar uma vida nova com o meu próprio esforço. Após tomar esta decisão, aluguei uma pequena casa no bairro da Patagônia, comprei uma cama com colchão, fogão, sofá, vasilhas e cereais. Assim que ficou tudo pronto despedi dos meus primos e fui embora. No começo quando eu fui embora, pensei que as coisas iam ser fáceis, mas não foram. Quando eu fui morar sozinho, passei por muitas lutas, cheguei até a limpar casa, cuidar em comida e lavar roupa.

Assim os dias foram passando, meu dinheiro foi acabando e a preocupação foi a cada dia aumentando em mim. Temia não poder pagar o aluguel e até mesmo, passar privações devido eu não Ter mais livros para vender ou um emprego garantido.

Naqueles dias eu comecei a me sentir rejeitado pela sociedade e principalmente pela justiça porque o apoio que eu mais queria naquele momento era um emprego, pois sem trabalho a pessoa vai estar sempre vivendo de favor. Sinto dentro de minha alma o desejo de ter o apoio da justiça para trabalhar, não só da justiça, mas de toda a sociedade.

Nas condições que me encontro, julgo a justiça porque a mesma deveria amparar o indivíduo que sai de um presidio, para que o mesmo nunca mais volte para lá. Digo isto porque eu vejo em cada um dos ex-presidiários o desejo de querer mudar de vida. A maioria só não muda por falta de apoio.

Entre os milhares de desviantes eu fui um exemplo para todos mas mesmo assim ninguém se levantou o perfil para me ajudar como eu esperava. Creio que 95% dos presidiários sai do presidio e torna a voltar para lá porque não encontra apoio para viver uma vida digna. Isto não deveria acontecer no nosso país, porque assim fica difícil para a justiça controlar o crime. Eu, por exemplo, se não tivesse me convertido a Deus com fidelidade e ao mesmo tempo escrito o meu livro no cárcere, jamais eu resistiria às privações que eu venho passando durante este tempo e agonia. Aqueles que tiveram um bom princípio de vida se torna difícil enxergar a miséria dos outros. A palavra de Deus disse:” amarás a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo”. Será que os povos são cumpridores destas palavras? Quero parabenizar aqueles que cumprem esta palavra porque para estes está preparado o reino de Deus.

Ali eu fui vivendo com o pouco de dinheiro que eu ganhei dos livros, quando os mesmos foram acabando, sem ter outra alternativa, eu fui obrigado a ir morar novamente na casa dos parentes.

Enquanto isso eu não perdia tempo, toda semana eu ia no fórum saber se o meu processo tinha chegado do tribunal de Salvador. Eu estava ansioso para o mesmo chegar porque sem o processo a justiça não podia me liberar definitivamente. Na época quando eu saí do presidio, fiquei apresentando no fórum de oito em oito dias. Quando completou um mês, o Sr. Excelentíssimo Juiz Maurício Salles Brasil, juntamente com a excelentíssima promotora Guiomar me deram um documento que dizia para eu aguardar em liberdade o retorno do processo. O mesmo garante a minha liberdade sem eu precisar ir ao fórum me apresentar. Morando ali na casa dos outros, doente e sem recursos financeiros, comecei a esquentar a cabeça, aí nasceu dentro e mim o desejo de ir visitar a minha família, a qual mora no Estado do Espírito Santo. Eu não queria visitar os meus familiares só para matar a saudade, precisava também de um apoio.

Por  isso, quase em desespero, eu tomei uma decisão meio precipitada, primeiro eu fui pedir ao advogado Ruy Medeiros para fazer para mim uma solicitação pedindo a justiça uma oportunidade para ir visitar meus familiares e ao mesmo tempo conseguir recurso. Assim que ele me fez o pedido eu o levei ao fórum, o qual foi negado. Inclusive eu recebi um recado da promotora, o mesmo dizia para eu esperar com paciência pois o meu processo ia chegar dentro de 15 dias. Disse mais o portador, que assim que o processo chegasse, meu problema iria ser resolvido. Com aquela notícia eu fiquei aguardando com o coração cheio de alegria.

De quinze dias o processo demorou quatro meses, então eu achei que a justiça estava totalmente desinteressada pelo meu caso. Sem mais comentário eu peguei a minha mala e fui embora para a casa dos meus pais, que fica em São Mateus, ES.

Confesso que fui embora insatisfeito com a universidade e com a justiça porque no momento que eu mais precisei eles não me serviram. Digo isto porque quando eu me encontrava escrevendo o meu livro no cárcere, guiado pelo Proler Carcerário, todos me viam com olhos diferentes, cheguei até a pensar que a minha vida mudaria por completo devido eu ter saído do presidio com um nome. No começo eu achei que a cultura não fazia acepção de pessoas mas hoje eu vejo em muitos olhares a discriminação, só porque eu sou em escritor descoberto num presidio.

Apesar de tudo, eu seria injusto se não agradecesse a todos, mesmo havendo alguma falha por parte da sociedade, reconheço que muitos têm contribuído comigo, fazendo lançamento de livros, divulgando, etc. Inclusive neste relatório eu quero agradecer a Universidade Federal de São Mateus pelo apoio que me prestou em 15 de abril de 1998, fazendo o lançamento do meu livro.

Quero também agradecer o povo mateense, a imprensa de São Mateus, o Jornal Cricaré e a imprensa de Vitória, TV Gazeta, pelo apoio que me deram. O repórter Edu, do Jogo Aberto da Tv Gazeta, que fez para mim uma boa divulgação do evento que iria acontecer em São Mateus.

Não posso deixar de contar como foi difícil para eu conquistar a imprensa e jornal para eu fazer divulgação do lançamento do livro.

Na época a universidade me apoiou fazendo o lançamento do meu livro mas com uma condição de não se interferir com a imprensa. Então eu fui no jornal Tribuna do Cricaré, em São Mateus, aí pedi para o senhor Antônio, proprietário do mesmo, para me conceder uma cortesia fazendo a divulgação do lançamento do meu livro que estava para acontecer na universidade  daquela cidade.

Queixei para ele que eu era pobre financeiramente, por isso eu estava ali fazendo esse apelo. Assim que eu lhe contei a minha história, ele sacudiu a cabeça com gesto de admiração e em seguida pegou a fita que estava gravada o meu depoimento, e levou para imprimir, em 31 de março de 1998. Assim que lhe agradeci, sai rapidamente para a rodoviária, chegando lá comprei a passagem com destino a Vitória. No dia seguinte eu pedi ao meu cunhado Ananias para ligar para o Jogo Aberto da tv Gazeta e pedir uma cortesia para a divulgação do lançamento do meu livro que estava para acontecer. No começo o diretor, repórter Edu, negou o meu pedido. Aí eu fiquei afadigado e em seguida liguei para a professora Heleusa, em Vitória da Conquista. Assim que lhe contei que a TV não se interessou pelo meu caso ela, de imediato, me pediu para Ter calma. Aí ela me passou o nome de um amigo e seu telefone para eu entrar em contato com ele, este morava em Vila Velha, ES, estava pertinho de mim e eu não conhecia. Então eu desliguei o telefone da professora Heleusa e em seguida liguei para o seu amigo, o qual me atendeu muito bem. Após conversarmos um pouco, desliguei o telefone. Mais tarde, uma hora depois, o telefone tocou, aí o meu cunhado atendeu e em seguida me chamou dizendo é pra você. Quando eu atendi fui surpreendido pela voz da secretária do repórter Edu, ela me perguntou: você é o rapaz que pediu uma entrevista no Jogo Aberto? Imediatamente eu respondi sim, sou eu mesmo. Disse ela: a TV Gazeta vai lhe conceder o espaço amanhã, 11 horas da manhã, você vem para cá.

A voz da moça me deixou muito alegre. Aí, no dia seguinte, fui na TV expor tudo aquilo que eu tinha no coração. Falei do Proler Carcerário, como é de grande importância pois melhor prepara os desviantes para uma reflexão de vida melhor. Assim o lançamento do livro foi feito e divulgado, só não ficou mais bonito como era preciso porque a igreja falhou na hora de levar a orquestra para fazer a abertura.

Nesses eventos feitos elevo o meu coração para a universidade da Bahia, como prova de gratidão, rogo a Deus pelo reitor, professora Heleusa e os demais que me ajudaram a conhecer o valor que tem a escrita.

Então, mais uma vez eu tive a honra de poder lançar o meu livro ao lado de minha mais querida professora Heleusa. Aquele dia para mim foi um dia muito especial porque mais uma vez a universidade da Bahia estava se preocupando comigo, pois a mesma enviou a professora Heleusa para me acompanhar no lançamento do meu livro.

Assim que eu fiquei sabendo que ela viria para o lançamento do meu livro eu, juntamente com minhas irmãs, preparei um simples churrasco acompanhado com farofa, feijão tropeiro e arroz. Nós ficamos muito felizes de receber a professora Heleusa, escritora e Secretária de Educação, sinto não poder Ter feito melhor para lhe receber, devido não Ter recurso. Ela foi acompanhada do senhor José, motorista da universidade. Mesmo com a simplicidade da gente, foi um encontro maravilhoso. A professora Heleusa é gente que faz, é inteligente, amorosa e humilde.

Você que não me entende ao ler este relatório, faz mal juízo de mim achando que eu sou mal agradecido ou outro tipo de pessoa. Eu não sou nada disso, sou apenas um humilde homem que sofri no passado e não queria mais sofrer. Às vezes o meu sofrimento me leva a escrever coisas que talvez possam magoar as pessoas. Se você se sentiu ofendido com este relatório, perdoa-me por favor. Mais uma vez eu lhe peço, por favor, não queira passar por onde eu passei, não queira ficar onde eu estou. A Bíblia diz que é melhor o homem ter para emprestar do que tomar emprestado, é melhor ele ficar na cabeça do que na calda, é melhor ficar por cima do que por baixo.

Então, passando alguns dias, eu decidi ir embora para a cidade de Taubaté, SP, onde eu tenho recebido um grande apoio da sociedade. Assim que cheguei na cidade de Taubaté, procurei a Secretaria de Educação, na esperança de encontrar um apoio para fazer um lançamento do meu livro lá. Então eu fui apresentado para a professora Jara, sendo, a mesma, secretária da professora Maria Mércia e diretora do Departamento de Educação e Cultura e também sendo vice-prefeita. Assim que eu conheci a professora Jara nos botamos a conversar, aí eu lhe mostrei o meu livro, contei das minhas experiências vividas no presídio e em seguida lhe pedi para fazer o lançamento do meu livro. Sem fazer cara feia, ela disse que sim. Então, no dia 17 de julho foi feito o lançamento, juntamente com outros eventos.

Após o lançamento, a vice- prefeita Mércia ficou comovida com a minha história e convidou a TV Globo para me entrevistar e divulgar o meu bem sucedido trabalho. Mais tarde, eu conheci o professor Aldo de Aguiar, também escritor. Na época ele era dirigente da delegacia de ensino de Taubaté. Ora, assim que nos conhecemos ficamos amigos. Então um dia ele me levou a uma reunião de diretores de escola, ali eu fui apresentado para eles como um exemplo para muitos. Em seguida, ele propôs a todos que me ajudassem a vende os livros nas escolas. Então eles concordaram em vender os livros par os professores na hora do recreio. Só não era possível eu vender os livros para os estudantes, par não tomar tempo nas salas de aulas e, por outro lado, o meu livro não poderia ser vendido aos estudantes sem ser feita uma avaliação.

Com a oportunidade que tive, desejei ter livros o bastante para vender porque os poucos que eu tinha eu vendi tudo. Hoje o que mais me preocupa é a falta de emprego, porque sem ele ninguém consegue viver uma vida boa. Por isso eu deixo o meu apelo aos reitores das universidades, que se os mesmos tiverem a possibilidade de  me ajudar a editar os meus livros, eu ficarei muito agradecido.

Também eu quero adiantar que a universidade, pró- reitoria de expansão vai imprimir meus livros com uma condição: ela faz o miolo do livro e eu faço a capa. A pessoa que está me ajudando neste apoio é a professora Maria Célia Comparatto. Não sei mais nada sobre as outras pessoas da universidade porque não conheço ninguém daquela localidade.

Quero deixar também meus agradecimentos para a professora Maria Célia porque a mesma além de me fazer este favor, me recebeu muito bem em seu escritório.

Apesar dos empecilhos, barreiras, etc., Deus tem me ajudado muito, me livrando a cada dia dos laços do diabo. Tenho encontrado muitas pessoas ruins no meu caminho, mas as boas sempre estiveram do meu lado, estendendo suas mãos para mim nas minhas necessidades. Deus é tão maravilhoso que me deu uma belíssima mulher para ser minha esposa, seu nome é Maria do Carmo Silva Teixeira. Ela é um amor de mulher, antes de me casar com ela, já sinto a minha alma feliz, descobri que neste mundo nada substitui o amor. Para mim, o amor é a coisa mais bonita deste mundo!

                                                                                                                                       Hélio Alves Teixeira



1999

REPERCURSÕES DO TRABALHO DE HÉLIO

Taubaté,13 de julho de 1999



Caríssima Profª Heleusa



Meu nome é Fernanda, tenho 16 anos e estou no 3º ano do curso de Magistério. A senhora deve esta curiosa para saber qual o motivo de minha carta. Pois o motivo é apenas um: a emoção! Sim, me emocionei muito ao concluir a leitura de “Ventaneira: Uma História Sem Fim”, de Hélio Alves Teixeira.

Li até a última página desta 3ª edição e descobri seu endereço. Era quase madrugada mas eu senti-me ansiosa para contar a alguém o quanto esta história significou para mim. E não tive dúvidas, peguei caneta e papel e aqui estou para lhe dizer: obrigada! Obrigada por acreditar no ser humano e em tudo o que alguém que tanto sofreu tem para oferecer. Eu ainda nem me formei professora, nem pensei com convicção qual faculdade vou fazer. Só sei que a tenho como exemplo.

Meu pai trabalha na Universidade de Taubaté, participou na conclusão dos exemplares quando as capas chegaram da Bahia. Ele recebeu um desses exemplares e, é claro, aí lembrou da minha paixão por leitura. Logo que dele ganhei o livro, me interessei e à noite comecei a ler. Me envolvi muito desde os primeiros capítulos e considero todo esse relato como uma lição de vida. Já tive a oportunidade de ler clássicos da nossa literatura e nem estes puderam retratar tão bem uma época, um modo de vida, como este livro.

Sei que a senhora deve receber sugestões e críticas de professores graduados, pessoas importantes, e que esta minha carta pode lhe passar desapercebida mas, ainda assim, precisava lhe escrever e registrar minha emoção. Obrigada por ler. Obrigada por me dar este exemplo de solidariedade. Se algum dia eu tive dúvidas sobre a natureza de ser professor, hoje não as tenho mais e sigo firme, certa, é possível mudar o país. Farei minha parte. Obrigada!

Desejo-lhe muita felicidade!


Fernanda




2003

HÉLIO PALESTRANTE



Taubaté, 21 de outubro de 2003



Prezada amiga, professora Heleusa,


É com o coração transbordando de alegria que pego na caneta para lhe escrever. Alegria por ter uma amiga tão ilustre como a senhora. Mais uma vez quero lhe agradecer pela rica oportunidade que me deu, de poder falar, ouvir, aprender e ensinar.

Mesmo sem o conhecimento técnico, eu já levei nome de professor por muitas vezes. Muitas vezes eu disse: não sou professor, mas, dependendo do momento, eu deixo me passar por professor, mesmo, porque eu sinto orgulho pelo respeito adquirido.

Mais uma vez, quero lhe agradecer, também, pela honra que me deu de poder ir participar daquele belíssimo encontro do Proler. Pois o Proler, além de ser uma ponte, é também uma porta aberta, cuja porta, só passa por ela, o idealismo.

Professora, lá na biblioteca de Itapetinga, foi o maior barato. Lá eu contei história, declamei a minha poesia, e fiz, mais uma vez, o depoimento de minha vida. Fiz, também, calo nos dedos de tanto autografar meu livro. Lá na biblioteca, eu fui recebido como Jorge Amado, Monteiro Lobato, ou qualquer outro nome de fama, como a senhora, por exemplo.

Estes dias que passei nas oficinas do Proler, foram muito gratificantes para mim, pois as mesmas me ajudaram a ampliar mais meus conhecimentos literários, contar histórias, e etc.

Tudo que tem acontecido na minha vida, eu devo a Deus e a senhora. Devo também ao reitor Waldenor, e os demais que me ajudaram a descobrir o segredo da leitura e da escrita.

Professora, eu gostaria de escrever para a senhora uma carta com todas as perguntas, na certeza de que a senhora teria as respostas.

Se a senhora fosse morrer com 100 anos de idade, eu queria morrer com 99 anos e 364 dias, porque sem a senhora eu não saberia viver.

Que Deus a abençoe. Um abraço,


Hélio Alves Teixeira.