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Ladainhas e Vulcões | Imprimir |  E-mail

Flávio Aguiar

              
Não, caros leitores e leitoras, não falo do vulcão de nome impronunciável que recentemente transformou o espaço aéreo europeu numa cortina de fumaça, atazanando a vida do mundo inteiro e desatando um coro internacional de lamúrias e xingamentos. Embora o assunto não seja desprezível: nosso planeta está claramente com indigestão, precisando de uma ajuda, e nós, seres humanos ainda não mais que candidatos a sapiens, não estamos lá fazendo a parte que nos cabe.

Falo de um outro vulcão, contido no céu não menos cinzento das relações humanas. Dia desses fui agradavelmente surpreso pela notícia de que em Buenos Aires se realizaria o primeiro casamento de pessoas do mesmo sexo na América do Sul (ver a série de reportagens de João Peres em www.redebrasilatual.com.br , "A várias vistas").

É uma história tocante, prova de que no céu mais cinzento que seja pode haver rasgos e vislumbres de azul e sol, de estrelas e luas, de cometas e novas galáxias a explodir.

Há 30 anos Norma Castillo e Ramona Arévalo (apelido Cachita), ambas hoje com 67, vivem juntas. Conheceram-se e amaram-se na Colômbia, onde Norma estava exilada e Ramona de passeio prolongado, com a família. Largaram tudo: família, preconceitos, medos, sustos, e se uniram fervorosamente apaixonadas. Viveram felizes para sempre desde então. E finalmente em 2010 obtiveram uma licença judicial para o matrimônio.

Mas essa boa notícia logo foi turvada pela nuvem cinzenta de outra. Uma ação também judicial, em nome de "um grupo de católicos", pediu a suspensão, melhor dizendo logo de uma vez, a proibição do casamento.

Esse é o vulcão a que estou me referindo.  Essa coisa soturna, implacável, surda, ignóbil, rasteira, indicadora de um vazio existencial construído com afinco, essa argamassa de medo e ódio de viver, que é ver a felicidade alheia e se sentir agredido. "Inveja, teu nome é shame", dizia a Rosa, amiga minha que perdi de vista.

 

Porque não se trata apenas de uma questão judiciária, de proteger ou de exigir direitos devidos. Trata-se de não deixar viver. De impedir, bloquear, atazanar, prejudicar a vida onde ela se manifeste. Porque é isso que quem age assim faz dentro de si.

Não se trata apenas de que o casamento de pessoas do mesmo sexo contraria esse catolicismo rançoso, carola, ultramontano, de espírito falangista, de resto patrocinado por essa sombra de papa chamada Bento XVI (João XXIII que nos tenha em suas orações!). Trata-se de coisa mais sutil.

                   

Porque a ação contra o matrimônio de Norma e Conchita é, antes de tudo, uma ação contra o amor e a paixão, contra a fidelidade... ao amor e à paixão, coisa que só pode ser do agrado de seja que Deus for, ou não for, ou que nome tiver, ou não tiver. É coisa de quem olha o amor e se apavora.

Pessoas dessa laia pensam assim: "meu Deus (tomando seu nome em vão), e se isso acontecer comigo?". "e se eu me apaixonar?" Pode ser por qualquer pessoa, não importa se do mesmo sexo ou de outro sexo.  O Amor, assim com letra maiúscula, toma, arrebata, infringe, exige, engole, cospe, sorve, vai em frente e vai com tudo.

                   

É isso que essa gente não suporta. É ver gente de fato feliz. Aí o vulcão de seu indigesto vazio interior cospe fogo, fumaça, pedra, vidro moído, pedaços de plástico, pregos, bombas de gás lacrimogênio, cassetetes, tanques de guerra, miasmas de ácido sulfúrico que vem do inferno que têm por dentro.

O caso vai para a Suprema Corte que esperemos que seja supremamente sensata. E de resto, aquela gente merece o comentário que Norma fez: "por que não se olham no espelho e tratam de cuidar dos seus pedófilos?". Ou, dizendo por outra: que vão se queixar ao bispo.

                                                                             

Berlim, 22 de abril de 2010


Em tempo: O UOL Notícias de 27 de abril informa que, pela primeira vez, o STJ decide favoravelmente pelo registro de criança por mulheres gays. Os dois meninos são irmãos biológicos e hoje têm 6 e 7 anos de idade. Eles já são formalmente adotados por uma das companheiras, uma professora universitária, com quem vivem desde o nascimento. O casal decidiu entrar na Justiça para que eles pudessem ser registrados como filhos de ambas.