X Jornada CELPCYRO

img banner

Informe CELPCYRO

Cadastre-se e receba nosso INFORME
Nome
E-mail*
Área de Atuação

Redes Sociais

  • Twitter
  • Windows Live
  • Facebook
  • MySpace
  • deli.cio.us
  • Digg
  • Yahoo! Bookmarks



Projeto: FRONTEIRAS CULTURAIS E CULTURA FRONTEIRIÇA | Imprimir |  E-mail

Ligia Chiappini


NA COMARCA PAMPEANA: OBRAS EXEMPLARES

O projeto acima, consiste basicamente, conforme já informamos no I Forum, realizado em agosto do corrente ano, num esforço de atualização dos estudos de literatura e cultura gaúcha e gaucha, em tempos de globalização, através da abordagem comparativa de textos brasileiros, argentinos e uruguaios, considerados exemplares da tensão nacional, regional, transnacional, nos séculos XIX e XX, retrocedendo, quando necessário, à segunda metade do século XVIII. Esses textos são aqui encarados como expressão simbólica da fronteira. A relação entre regiões e nações é interna e externa a estas. E a comarca pampeana (o termo é propositadamente tomado crítico literário e cultural uruguaio, já falecido, Ángel Rama), como unidade cultural supra-nacional, fronteiria por excelência, foi escolhida como objeto privilegiado para estudar as tensões de um mundo considerado pós-nacional.

Trata-se de investigar, através de obras literárias (no sentido estrito e no sentido amplo) como se constróem e desconstróem as identidades nacionais e a que elas (as identidades e as obras) servem em circunstâncias e contextos, marcados pela dialética da continuidade e da mudança. Nesse sentido, um dos temas privilegiados é as sucessivas mortes e ressurreição do gaúcho e do gaucho como expressão simbólica de processos sociais comuns aos três países, embora guardem em cada um especificidades a analisar e interpretar.

O projeto foi apresentado ao programa PROBRAL da CAPES  (Brasil) e DAAD (Alemanha) . Se aprovado [ o que ocorreu em janeiro de 2004], permitirá estabelecer um intercâmbio mais freqüente e intenso entre os pesquisadores acima citados, mas também entre eles e pesquisadores mais jovens, que estão desenvolvendo projetos específicos de doutorado ou pós-doutorado, no âmbito da problemática e do corpus variado do projeto geral. São eles: Helga Dressel (doutoranda, FU), Flávia Carvalho (candidata à doutoranda, FU), Luz Marina Yupan Cardenas (doutoranda, FU), Adriana Acosta (candidata à doutoranda, FU), Eoná Moro (doutoranda, USP), Ronaldo Silva Machado (doutorando, UFRGS), Marcel Vejmelka (pós-doutorando, FU) , Patrícia Weis-Bomfim (pós-doutoranda, FU).

O apoio dessas e, eventualmente, de outras agências de fomento, que vierem a financiar bolsas individuais para projetos vinculados a este será sempre desejável e bem vindo. Mas o importante é tocar a pesquisa, apesar de todas as dificuldades, com ou sem esses apoios, principalmente por parte dos pesquisadores seniors, que, trabalhando em tempo integral em instituições de ensino e pesquisa, tem nesta uma parte importante de sua obrigação, concebendo-a de modo estreitamente vinculado às atividades de ensino. Assim é que vamos todos lendo, refletindo, trocando idéias pessoal ou virtualmente, aproveitando encontros, seminários, foruns, nacionais e internacionais, coolaborando com livros e revistas, que também podem ser virtuais, para aprofundar um ou outro ponto do nosso largo e significativo corpus. Encontros anteriores a este já mostraram alguns resultados, através de publicações já concluídas, como Fronteiras Culturais (Brasil – Uruguai- Argentina), ou em fase de conclusão, como é o caso do livro Pampa e Cultura: de Fierro a Netto, sobre o qual mais detalhes poderão ser fornecidos por Maria Helena Martins, co-organizadora comigo  do Seminário Internacional que o gerou (Berlim julho de 2002).

Encontros posteriores, em Amsterdam e no Chile e outros planejados para os anos 2004 e 2005, onde o tema fronteiras estará sendo discutido com estudiosos de diversas áreas do saber, possibilitarão também que continuemos a avançar em nossas pesquisas individuais, como contribuição de cada um ao projeto comum.

No que me diz respeito, além de trabalhos já publicados sobre a gauchesca platina (Fausto de Estanislao del Campo e Martín Fierro, de José Hernández), um estudo comparativo entre João Simões Lopes Neto e o uruguaio Javier de Vianna e um texto sobre Sepé Tiarajú como um fenômeno pós-colonial avant la lettre (no prelo) pretendem contribuir para a pesquisa conjunta. Da mesma forma, cursos que venho propondo na Universidade Livre de Berlim podem ser oportunidade para novos artigos e para captar o interesse de candidatos a mestrado e doutorado, como por exemplo, sobre a música popular do Pampa, contrastada à música popular do sertão brasileiro ou sobre a representação do índio no Brasil, Uruguai e Argentina, entre outros.

O importante é não parar de pesquisar, pensar, ler e discutir o assunto. Só assim uma pesquisa pode desenvolver-se individualmente e em grupo. Mas para isso é preciso resistir. Hoje mais do que nunca, nas Universidades de todo o mundo, pesquisar é resistir. Para que os jovens perseverem é preciso que tenham o exemplo dos mais velhos. E estes, nos quais me incluo, naturalmente, precisam resistir. Sobretudo aos apelos fáceis da vulgarização e da mercantilização da pesquisa universitária  que hoje atinge as Humanidades como já há tempo atingiu as chamadas ciências exatas. Já se discutiu muito esse processo de ajuste das Universidades ao mercado, com sacrifício do nível do ensino e da pesquisa e de sua autonomia. Houve quem nomeou o processo com uma metáfora significativa: mackdonaldização. No Brasil, Maria Helena Chauí já esclareceu muito da tendência e do seu ritmo acelerado em nossos dias, através de palestras e publicações. Também no Brasil, entre outros, Flávio Aguiar deu contribuições importantes para a análise de um fenômeno decorrente do empresariamento da universidade, qual seja, a transformação do professor-pesquisador em gerente de verbas, ou da chamada terceirização (o que aqui na Alemanha se apresenta como busca quase obsessiva dos chamados Drittemittel). Assim, os recursos externos acabam sendo mais relevantes como critérios de avaliação da produção universitária e do pesquisador do que a qualidade da pesquisa e do ensino.

É difícil, mas resistir é preciso. Há que pesquisar, ler, refletir e escrever; ler e discutir os trabalhos dos alunos, nem que seja na calada da noite, quando nos deixam em paz, depois de exaustivas e vazias reuniões para elaborar propostas que possam atrair euros, reais ou dólares, ou para discutir, por exemplo, a transformação dos cursos universitários em escolares e facilitadores BA s  ou MA s, que, principalmente na área de Humanas se baseiam na ilusão de que, facilitando e rebaixando o ensino e a pesquisa, formar-se-ão pessoas mais adequadas ao mercado de trabalho.

Pois bem, pesquisas como esta e os pesquisadores e pesquisadoras nela envolvidos estão na contramão dessa tendência. Resistir ao empresariamento da Universidade é também resistir às pautas de pesquisa ditadas pela mídia e, freqüentemente, endossadas por agências de fomento no Brasil e no Exterior. Resistir é procurar ser conseqüente e coerente com uma história de pesquisador, ciente de seus limites e possibilidades, o que implica em não aderir a temas novos a cada momento apenas porque eles estão na ordem do dia na mídia ou nessas agências. E, quando, por coincidência, o tema com que trabalhamos -- além de ser escolhido pela sua relevância científica e social, bem como pela curiosidade intelectual de pesquisadores que prezam a coerência e a competência antes de mais nada--,  também vira moda (como é o caso das fronteiras hoje), o que importa é seguir remando contra a corrente, procurando ultrapassar as abordagens meramente oportunistas e superficiais, visando ao aprofundamento das questões propostas e a resultados que possam ser úteis a médio e longo prazo, mesmo quando o tema em questão sair de moda e for substituído por outro mais diretamente vinculado à agenda midiática do dia.

Esse é o nosso compromisso e um princípio básico do nosso projeto fronteiriço.

Ligia Chiappini
Catedrática de Literatura e Cultura Brasilieiras (Brasilianistik) no Instituto Latinoamericano da Universidade Livre de Berlim

Equipe do Projeto
Coord. Ligia Chiappini (FU-Berlin)  e Sandra Nitrini (USP-São Paulo)

Pesquisadores associados na Alemanha: Horst Nitchack (Universidade Humboldt –HU e FU berlin), Werner Thielemann (HU-Berlin), Sabine Schlickers (Univ. de Bremen).

Pesquisadores associados no Brasil: Flávio Aguiar (USP-Centro Ángel Rama), Maria Helena Martins (Centro Cyro Martins-Porto Alegre e Centro Ángel Rama-USP-São Paulo), Gilda Neves da Silva Bittencourt (UFRGS- Porto Alegre), Léa Masina (UFRGS-Porto Alegre).

Assessores de outras áreas ou de outras cidades/países: Sandra Pesavento (UFRGS-História), Olinda Alessandrini (Música), Tabajara Ruas (cinema), Tiago de Oliveira Pinto (Música), Harald Thun (Lingüística), Pablo Rocca (Univ. de la República, Montevideo), Élida Lois (Univ. de Buenos Aires e Conicet, Buenos Aires), Ángel Núñez (Fundación Hernandarias, Buenos Aires).