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SEM RUMO 70 ANOS DEPOIS | Imprimir |  E-mail

Carlos Jorge Appel *



Os conflitos da revolução de 1893, conhecida como federalista, e a de 1923, são frutos das mudanças que ocorreram na planta econômica na fronteira agreste do Rio Grande do Sul com o Uruguai. O historiador Décio Freitas, ao analisar a decomposição da unidade básica da produção agropastoril gaúcha, a estância, detecta o fim de um ciclo.

O término da I Guerra Mundial (1914-18), a falência do Banco Pelotense e o fechamento dos principais frigoríficos em nossas cidades fronteiriças constituem indícios significativos de que o sistema tradicional de produção da campanha gaúcha evidenciava sua exaustão e entrava em colapso. As unidades produtivas do campo, sobretudo as pequenas e médias estâncias, sofreriam as conseqüências dessa crise agropastoril. Todo um modo de produção, vigente no Rio Grande do Sul desde o início do século XVIII, esgotara a sua utilidade e funcionalidade.

Parar rodeio, aramar campos, escolher e encaminhar o gado para o abate, funções que marcavam o dia-a-dia do peão na base do processo produtivo da estância, como o conhecemos nos contos de Simões Lopes Neto (Contos gauchescos, 1912), chegara ao fim do ciclo. A mão-de-obra excessiva seria expelida dos limites da estância para a periferia das grandes cidades.

Cyro Martins, nascido em São João Batista, no interior de Quaraí, no início do século XX (1908), iria vivenciar essas mudanças e criaria um amplo painel ficcional para dar forma a esse novo mundo. Os gaúchos, sem pilcha e sem cavalo, portanto, sem auto-estima, tornam-se símbolos de decadência, de perda de identidade e de perspectiva; transformam-se em “ruínas vivas”, conforme metáfora criada por Alcides Maya em seu romance escrito em 1910.

Sem rumo, primeira narrativa longa de Cyro Martins, que aparece em 1937, incorpora em seu personagem central, o ex-peão Chiru, todas as mazelas da crise que assola a campanha gaúcha no início do século XX. Despersonalizado, empobrecido e sem rumo, Chiru se transformaria em símbolo do gaúcho-a-pé.


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* Carlos Jorge Appel é professor, crítico literário e Diretor da Ed. Movimento