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Para Cyro Martins  E-mail
Novos leitores - Artigos

                                               

                                                                              

                                                                           Vera Regina Gerzson*

 

Sempre tive a curiosidade de saber como alguém nascido no início do século XX, precisamente em 1908, na isolada região da campanha, sai de lá, desbrava outros mundos e deixa uma obra tão significativa sobre a alma humana. Cyro Martins para mim é uma incógnita, um enigma. Uma história que eu sempre desejei conhecer, talvez por ter nascido também na campanha e saber que lá por aquelas bandas, quando bate o vento norte, levantando a terra seca, os guris e as gurias viajam longe...

Imagino que deitado à beira de um açude, o filho do seu Apolinário e da dona Felícia foi encantado pelo infinito do horizonte pampeano. Talvez fosse um final de tarde, daqueles em que o pôr-do-sol vermelho intenso tonteia a visão, quando o piá de Quaraí entediado de brincar com gadinho de osso e pandorgas ― que só iam até onde a vista alcançava ― teve o presságio de que colocaria aquelas terras definitivamente no mapa da psiquiatria e da literatura.

Acho que só o cinamomo atento, o galo velho, companheiro do guri e os sapos que começavam o murmurinho noturno, guardaram o segredo do que aconteceu naquele momento. Provavelmente iluminado pelos primeiros vaga-lumes que anunciavam a noite quente, o menino soltou o pensamento e captou, campeando no ar, almas penadas, sofridas e doloridas pedindo o seu socorro. Surgiram ali suas primeiras cismas sobre a condição humana. E foi entrelaçando o mundo do Pampa e a dor da existência, que o psiquiatra e o escritor foram campo fora, atravessando as tênues fronteiras entre a lucidez e a loucura, a realidade e a ficção.

As assombrações e as lendas povoavam naquela época, a imaginação dos nativos do campo, distante 590 km de Porto Alegre.  Por lá a vida não era fácil, mas o imaginário era fértil. Diferente dos outros gaudérios obcecados pelos enterros de dinheiro e pelo sonho obstinado de encontrar panelas de ferro enormes, transbordando de moedas de ouro, Cyro Martins criou seu próprio tesouro. Aos 15 anos já escreve seus primeiros artigos e contos e a partir daí compartilha seu valioso talento observador, nas narrativas literárias e no legado psiquiátrico que atravessou o século. Hoje vive nas obras e no que ensina pelo mundo. A cada leitura nova descoberta de Cyro, da ficção, da psiquiatria, do Rio Grande, do pampa...

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*Vera Regina Gerzson - Jornalista, Relações Públicas, Mestre e doutora em Educação, professora na FABICO/UFRGS. vgerzson@uol.com.br