Wanderley M. Domingues*

Foi realizado em São Paulo, nas datas de 2, 3 e 4 de abril, o IV Simpósio Internacional de Atualização Sobre o Autismo. Esse evento foi promovido pelo Centro Pró Autista/SP em parceria com a Sociedade Paulista de Pediatria, Comitê da Cadeia Produtiva da Saúde da FIESP, Abenepi Nacional, Abenepi Capítulo Paulista, Depto de Psiquiatria Infantil da UNICAMP e Pucamp. Ele contou com a presença de 312 profissionais das várias áreas da saúde - pediatras, neurologistas, psiquiatras, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, professores especializados, músico terapeutas e arte terapeutas, além de pais de portadores de autismo e demais interessados. O sub tema enfocado foi “O Diagnóstico e a Intervenção Precoces”.

A preocupação principal dos organizadores foi a de discutir os critérios diagnósticos seguros e existentes até o presente momento, com vistas ao tratamento mais eficaz e precoce possíveis para essa condição clínica, que compromete de forma tão grave o desenvolvimento infantil.

Ao contrário do que se pensa atualmente, o autismo infantil não é doença rara. Sua incidência é estimada, segundo as estatísticas mais conservadoras, em 1 portador para cada 1000 nascimentos, número esse comparável à Paralisia Cerebral Infantil, que acomete tantas crianças em nosso meio.

Muitos conhecimentos têm surgindo nas 2 últimas décadas a respeito dos fatores causais do autismo, dos seus vários subgrupos clínicos, dos mecanismos biológicos envolvidos e das novas possibilidades terapêuticas. Novos conhecimentos provenientes das pesquisas da genética biomolecular, melhor conhecimento funcional dos receptores de serotonina, GABA e dopaminas, assim como experiências com novas e diversas práticas terapêuticas devem surgir nos próximos anos e, seguramente, deverão contribuir para a melhoria de vida aos portadores dessa condição clínica tão devastadora do desenvolvimento infantil.

Atualmente várias reportagens nos órgãos de comunicação de massa têm trazido informações de que o autismo estaria se tornando uma epidemia, tendo em vista o surgimento de muitos casos na população em geral. Essas informações têm sido questionadas pela comunidade científica mundial, que considera o aumento do número de casos atuais como decorrentes de uma melhor capacitação dos profissionais da saúde em identificar tal condição clínica.

Sabe-se hoje que o autismo não é um quadro clínico uniforme. Ele se apresenta com uma multiplicidade de aspectos clínicos, passando a ser entendido como “Doenças do Espectro Autista” existindo evidências consistentes de múltiplos fatores causais congênitos e/ou adquiridos, capazes de determinar os diferentes fenótipos da doença.

Sua identificação precoce é imperiosa, porque se sabe atualmente que, se tais pacientes não forem identificados e tratados precoce e convenientemente, acabam evoluindo para a Deficiência Mental e/ou Doença Mental. Daí a necessidade de instrumentos de identificação confiáveis para os profissionais envolvidos no atendimento de crianças e suas famílias, o mais cedo possível.

O Centro Pró Autista de São Paulo tem envidado esforços enormes na melhoria da qualidade de vida desses pacientes e de suas respectivas famílias. Vem atuando desde o ano 2000, através da assistência aos portadores de autismo, no ensino e na pesquisa. Suas ações têm visado o estudo dos procedimentos diagnósticos e de tratamentos, bem como suporte às respectivas famílias.

Desde o início de suas atividades, realizou cursos e simpósios com a participação de especialistas de renome internacional e nacional- Dessa vez, contou com a presença de David Posey (Indiana/USA), Carlos Gadia (Dan Marino Center/ USA), Catherine Barthélémy, Pascale Dansart e Catherine Mahé (Universidade de Tours/ França), Fernando Arita (Santa Casa/SP), Wanderley Domingues (Centro Pró Autista/SP), Maria Rita Passos(Genoma USP), Márcia Pradella-Halinan (Instituto do Sono- Unifesp), Maria Clara Nassif, Heloisa Goodrich (Centro Pró Autista/SP) e Cristiana Rocca ( Ipq do HC da FMUSP).

Foram abordados nesse simpósio temas relacionados aos critérios diagnósticos, quadros clínicos, mecanismos envolvidos, presença de outras condições clínicas e psiquiátricas associadas, desenvolvimento psicológico no autismo e novas possibilidades terapêuticas. A alta qualidade científica presente foi amplamente elogiada pelos participantes, suscitando, em decorrência, um grande incentivo para novos encontros multidisciplinares, pelo Centro Pró Autista de São Paulo.

-----------------------------------------------------

* Médico Psiquiatra e Psicanalista. Diretor Técnico do Centro Pró-Autista de São Paulo. Coordenador do IV Simpósio Internacional de Atualização sobre o Autismo.

Leia também desse Autor:

O Autismo e sua relação com a Psicanálise

Psicanálise e Neurociência Cognitiva