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Do Percurso Literário de Kate Chopin | Imprimir |  E-mail

Betina Mariante Cardoso *


Quando começamos a organização do projeto editorial do livro de contos traduzidos de Kate Chopin, o diálogo entre Tradução Literária, Estudos Literários e Humanidades Médicas a partir dos contos da autora era ainda apenas um desejo das organizadoras, desejo que seria concretizado ao longo do ano de 2010 para lançamento de um livro de contos e ensaios em  início de 2011. O que não imaginávamos era o quanto o projeto realizado poderia superar nossas intenções, alinhavadas na reunião inicial. O entusiasmo e a dedicação de todos os ensaístas, tradutores e colaboradores foi tão relevante que nós mesmas, organizadoras, nos surpreendemos com a riqueza transdisciplinar do livro, através dos excelentes ensaios que foram entregues pelos convidados dos setores de Estudos Literários e de Humanidades Médicas, em conjunto com a riqueza dos contos traduzidos pelos alunos da Profa. Dra. Beatriz Viégas-Faria.

Mas por quê a conjunção entre estes setores? Digamos que  esta costura partiu do diálogo entre as áreas de atuação das organizadoras. A Profa. Dra. Beatriz, que havia coordenado a tradução dos contos de Kate Chopin, na oficina de Tradução Literária em 2005, convidou a Profa. Elizabeth Brose para a coordenação dos Estudos Literários, e convidou-me para contribuir com a perspectiva das Humanidades Médicas sobre os contos da autora, área que muito aprecio. Deu-se, então, a conjunção entre as três  áreas, em uma discussão entusiasmada e profícua em uma manhã de segunda-feira, a primeira segunda-feira de janeiro de 2010.

Traçamos temas, convidados, datas, e definimos Tradução Literária, Estudos Literários e Humanidades Médicas como área de entrelaçamento do livro. No entanto, a ligação entre Medicina e Literatura, em se tratando de Kate Chopin, existe já de início, quando é  o próprio médico da escritora que a incentiva a escrever e a levar adiante sua vocação literária. Abaixo, reproduzo alguns trechos do ensaio introdutório do livro “Kate Chopin: contos traduzidos e comentados- Estudos Literários e Humanidades Médicas”, com o objetivo de apresentar aos leitores  detalhes da vida e da obra de Kate Chopin.

 

“Se Oscar Chopin fosse supersticioso, não teria se casado com Kate, a intrigante moça que conheceu num baile no Missouri. Senão, vejamos: a tataravó de Kate foi a primeira mulher a se divorciar em St. Louis; a bisavó, a avó e a mãe de Kate tornaram-se jovens viúvas e não mais se casaram. Talvez o negociante da Louisiana tenha achado que por aquela inteligente moça de sangue creole valia a pena correr o risco. Doze anos depois da lua de mel na Europa, Oscar faleceu, deixando Kate com nada menos que seis pimpolhos – e uma dívida de doze mil dólares. Com a morte do marido, incentivada por amigos – como o obstetra austríaco Frederic Kolbenheyer –, aos 32 anos Kate sentiu-se livre para deixar aflorar o talento literário.

(...) Para saldar as dívidas, Kate começa a administrar o mercado. Tem um caso com Albert Sampite, fazendeiro charmoso, rico (e casado), fã de caçadas, bebidas e jogos de azar. Em 1884, Kate retorna a St. Louis com os filhos e começa a escrever esboços sobre a sua vida em Natchitoches. A atividade lhe serve tanto para ajudar nas despesas quanto para esquecer a tristeza.

Paralelamente, o médico Kolbenheyer a apresenta a círculos de intelectuais e encoraja suas ambições literárias. A mãe morre em 1885. Em 1887, Chopin passa uma temporada em Cloutierville; é hospedada por Marie – irmã de Oscar – e Phanor Breazeale, homem simples por quem a cunhada abandonara o noivo rico. Kate compartilha com Phanor o gosto por fumo e carteado. Kate tem o primeiro contato com os contos de Guy de Maupassant, autor que irá traduzir e cultuar.

Em 1889, Kate Chopin começa a publicar como escritora profissional. Em uma década escreve três novelas e uma centena de contos. Alcança relativo reconhecimento em vida (ela morre de hemorragia cerebral em 1904), mas fica desestimulada após a fria recepção de The Awakening, rotulada por Willa Cather como uma “Bovary creole”. O romance, que explora o tema da infidelidade de uma esposa insatisfeita, recebeu críticas severas em função do conteúdo considerado imoral na época.

Bayou Folk, livro publicado em 1894, reuniu seus primeiros contos e revelou seu talento como regionalista (isto é, ela sabe “pintar” com precisão as cores locais), ao enfocar a vida rural de Louisiana. Seus contos, enriquecidos com os dialetos regionais, abordam a cultura heterogênea do sul da Louisiana. Hoje é consenso que a obra de Kate Chopin transcende o regionalismo das cores locais para se universalizar.

Embora “regionalista”, a autora possui a habilidade de sair do universo micro para teorizar sobre a sociedade de forma mais abrangente e abordar diversas questões de natureza universal. Exímia contista, ela tratou de forma peculiar alguns temas polêmicos: dificuldades de relacionamento conjugal, discriminação e conscientização femininas, preconceito racial, frivolidade social e escravidão.

No Brasil, Chopin ganha cada vez mais importância não só no meio acadêmico, mas também no meio editorial, como comprovam as recentes traduções de At fault, novela publicada em 1890 com recursos próprios da autora, e de The Awakening (1898), considerada a sua obra-prima. Faltava um panorama de suas histórias curtas.

Para preencher essa lacuna, a Casa Editorial Luminara apresenta uma seleção dos melhores contos da escritora norte-americana, em traduções modernas, realizadas na Oficina de Tradução Literária da premiada tradutora Beatriz Viégas-Faria e acompanhadas por enriquecedores comentários das áreas dos Estudos Literários e das Humanidades Médicas.”

 

Os trechos acima são parte do ensaio introdutório  “Iniciação à Kate Chopin (tempo e espaço)”, de Márcia Knop e Henrique Guerra, no livro ‘Kate Chopin: contos traduzidos e comentados- Estudos Literários e Humanidades Médicas”. A obra será lançada em 08 de junho pela Casa Editorial Luminara, na Livraria Cultura, em Porto Alegre.

Com diversos autores renomados entre os ensaístas, o livro tem como ilustradora da capa a Artista Plástica Maria Tomaselli, e autora do texto de orelha  a Profa. Dra. Helena Bonito Pereira.

Através dos sites http://www.celpcyro.org.br e http://www.editorialluminara.com , é possível acompanhar as publicações de pré-lançamento do livro, que será lançado também em São Paulo e em outras capitais, neste ano de 2011.

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Betina Mariante Cardodo é Psiquiatra, diretora da Casa Editorial Luminara e colaboradora do CELPCYRO