Edgar Koetz: arte, coerência e liberdade |
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Celso S. Koetz
Vou falar o que minha memória me conta. Não são estórias idealizadas, mas histórias vividas, transmitidas em longas tertúlias pelo artista. Edgar tinha um talento inato precocemente revelado. O aprendizado técnico veio através da profissão no campo gráfico da Livraria do Globo. Não foi um pintor clássico de telas e paletas. Formou-se na luta. Mas foi coerente com suas idéias e objetivos, mesmo com perdas pessoais. Em Buenos Aires, onde além de sua atividade em editoras e jornal, mantinha um ateliê, casualmente bem em frente onde um brasileiro ilustre, mais conhecido como escritor, mas que tinha suas veleidades como pintor, também mantinha um ateliê: Monteiro Lobato. Como pintor, um absoluto acadêmico, que tentava de todas as formas induzir Edgar a adotar a técnica, que segundo ele, seria muito mais lucrativa. Lobato estava asilado em Buenos Aires por insistir na existência de petróleo em solo brasileiro, o que contrariava os interesses então imperantes. Por coincidência, um outro amigo de Edgar também sofreu as conseqüências de sua luta pelo petróleo brasileiro: o major Fortunato, herói da FAB na Itália, participante do Clube da Gravura do RG, expulso da FAB por suas posições e só muitos anos mais tarde reabilitado. Edgar, portanto, teve bem próximo de si dois exemplos da injustiça perpetrada pelo poder sem freios. Quando do golpe militar de l964, anteviu o que estaria por vir. Talvez nem tivesse tido possibilidade de se reabilitar. Uma conjunção de fatores trouxe-o à vida, propiciando a série “Alienados, 1964” e depois muitas outras obras marcantes no curto espaço de menos de 5 anos, até seu falecimento. |