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O Gaúcho: tipo social de tríplice representação | Imprimir |  E-mail

Antonio Hohlfeldt


A figura do gaúcho atravessa a fronteira dos atuais países - Brasil, Argentina ou Uruguai. Assim sendo, tomamos três diferentes textos literários para estudar como esse gaúcho foi visto, ficcionalmente, em diferentes momentos, por diferentes escritores.


Começamos com Martin Fierro, de José Hernandez: ali vemos o modo pelo qual o projeto de modernização, seja da Argentina ou do Brasil, retirou o tipo original da pampa de seu entorno, jogando-o, primeiro, contra os habitantes indígenas e, depois, deixando-os absolutamente marginalizados, socialmente falando. É o caso de Martin Fierro que, transformado à força em soldado, é jogado contra os índios do sul pampeano. Ao voltar, encontra a casa transformada em tapera, a mulher que desapareceu e a família destruída. A segunda parte da obra, A volta de Martin Fierro, tenta equilibrar aquela perspectiva negativista: Martin Fierro reencontra os filhos, enfrenta uma luta, de que sai vencedor, e ultrapassa o desafio - semelhante ao Cristo, até porque a obra possui 33 cantos - como que resgatando, com seu sofrimento, a própria figura do gaúcho.


Erico Verissimo, na trilogia de O tempo e o vento, escrita a partir de 1948, resgata a história da formação do Rio Grande. Ao contrário de dirigir seu olhar para os homens, contudo, valoriza o papel feminino, enquanto manutensor das relações familiares e da herança cultural e de propriedade. A conclusão de Erico é de que aquele gaúcho, enquanto monarca das coxilhas, valente e heroicizado, jamais existiu. Mas essa negativa é boa para o Rio Grande, porque valoriza as contradições da região, mas também os seus valores essenciais.


Por fim, Ricardo Güiraldes, com Don Segundo Sombra, conclui pela transformação do ser do gaúcho: não é por acaso que o jovem narrador, quando descobre ser filho de Don Segundo, sente-se ao mesmo tempo traído e frustrado. O rapaz idealizara Don Segundo. Ao sabê-lo seu pai, descobre a fatalidade da transformação. Não poderá ser como o pai, mas, ensina Güiraldes, descobrirá também que o ser do gaúcho está menos no aspecto externo do que no interno: ser gaúcho não é vestir bombachas, por exemplo, mas é o sentimento de gauchidade, de pertencimento, de existência de raízes, que garante tal identidade.


Antonio Hohlfeldt,
é Dr. em Literatura, jornalista e escritor, prof. na PUCRS