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Enquete sobre o conto Guri  E-mail
Fortuna Crítica

Leia o conto

Realizada por Edith Hervê de Souza para o Suplemento Mulher, Folha da Tarde (Porto Alegre, 26/5 e 03/6/87)

 

Carlos Reverbel (jornalista e escritor)

Este pequeno conto é meu velho conhecido, foi escrito quando o autor andava por volta dos 20 anos e fez parte de seu primeiro livro: Campo fora, lançado em 1934 pela Editora Globo. Estamos, portanto, há quase meio século de sua publicação. E o fato de minha querida amiga Edith Hervê de Souza tê-lo incluído nessa sua valiosa criação jornalística está a indicar que o " Guri", de Cyro Martins, não morreu literariamente, continuando tão vivo como quando nasceu da pena do escritor que também nascia. Cyro Martins era um menino de campanha que veio para o colégio da capital. Na época em que começou a escrever, ainda não se aquerenciara na cidade grande. E por isso seus contos exalavam uma aura de saudade, na nostalgia dos pagos. Mas já se antecipava, na sua revelação de escritor, o rumo que daria à sua obra literária, tornando-a eminentemente social no "ciclo do gaúcho a pé".

 

"Guri" é uma das melhores páginas do regionalismo de Cyro Martins, na sua primeira fase. Alinha-se na grande tradição dos mestres do conto gauchesco: Alcides Maya, J. Simões Lopes Neto, Darcy Azambuja. E, tendo resistido ao tempo, como os moirões de guajuvira dos campos de Quaraí, deu provas de que seu jovem autor vinha para ficar na literatura rio-grandense.

 

Celso Pedro Luft (lingüista)

O conto prima pela concisão da linguagem: economia dos meios expressivos. Há também grande agilidade narrativa, e uma notável ambientação natural e lingüística ao meio físico, às personagens, por meio de vocabulário e expressões características.

 

Nilo pretende a imitação do gaúcho adulto, queria ser homem e poder arriscar-se, mas contentava-se com "seu cavalo de sarandi, com uma tira de pano" servindo de cola. Nesse cavalo de faz-de-conta, Nilo imitava a vida, e até a morte. O autor consegue muito bem concentrar a emoção de Nilo em poucas palavras indicativas, particularmente no olhar: "Nunca vira aquilo. E estava gostando de ver(...) O guri recolheu na esperteza campeira dos olhinhos alarifes toda a viva emoção daquele instante supremo na vida do gaúcho."

 

O conto é um exemplo de arte narrativa tensa e sóbria, qualidades essenciais desse tipo de obra literária.

 

Kenny Braga (jornalista)

Exige-se que tenha sensibilidade e saiba captar, no mundo em redor, os aspectos aparentemente insignificantes dos homens e das coisas. Mas é só isso, porque a sensibilidade sozinha não escreve, não povoa a página de linhas e parágrafos, em ritmo e medida certos. Então, exige-se do cronista, além da sensibilidade, o domínio do ofício de escritor, que se alcança através de sua prática constantante. Nesse sentido, Cyro Martins pode considerar-se um contista realizado, ao menos pela fatia de talento que nos serve em "Guri".

 

A paisagem que ele escolhe é a da campanha e a alma que ele ilumina, através da palavra bem escrita, é a alma do menino Nilo, montado num cavalinho de mentira, um pangaré de pau. O menino que tem lástima de não ser homem ainda, para se arriscar nas lides campeiras, ainda que perigosas mas fascinantes. A morte do tropeiro Ricardo, que ele assiste, deixa-o impressionado. E por um dia ele não brinca com seu cavalinho de pau. Mas a atração pela vida do campo é tão grande, a sua identificação com aquele mundo é tão intensa, que Nilo não hesita em fingir-se de morto, como Ricardo, debaixo de um umbu. E, ao redor dele, feitos de brinquedo, os elementos que seus olhos apreenderam na tragédia verdadeira. Armado de sensibilidade apurada, vivência lírica, Cyro Martins exibe, num traço rápido e cortante, dois planos de uma mesma realidade: o campo, a estância com seus apelos, e o reflexo dele no íntimo de um menino, que poderia também ser um homem. Agrada-me do conto, gosto dele. E quem descubro finalmente no menino Nilo? Eu mesmo, instalando meu circo de brinquedo no fundo do quintal ou tangendo minha boiada de ossos à sombra, das laranjeiras em flor. Ainda que o mundo acabe, arte é emoção.

 

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