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Sem Rumo / Sin Rumbo *- Cyro Martins  E-mail
Estante do Autor - Ficção

SEM RUMO

 

A garoa fina, que entrou pelos rasgões da camisa guasqueando as costelas e cruzou num galopão estendido, ia longe, sumindo-se, esgaçada pelo vento, como uma mancha empoeirada de cinza, quase apagada, entre coxilha e céu.

Os pés enterravam no chão mole, e a cada pisada fervia uma vertente. Era um prazer repetir aquilo mil vezes, procurando os lugares mais úmidos, e pisando sempre com mais força.

Os fundos do horizonte se embaciavam, perdiam a nitidez das curvas, incorporando os cerros altos ao céu.

De todos os lados se erguia, agudo, penetrante, o coaxar de alegria das rãs. Os quero-queros, formando batalhões, brincavam de exercícios marciais. Nuvens baixas resvalavam no céu gris. Os campos minguavam de extensão, enrolados numa sombra só, densa, fechada, insinuando-se de todos os rumos. As moitas vergavam humildes para o chão, abrigando-se do vento, que nos altos soprava forte levantando os chapéus.

Muita água branqueando nos campos, Água corrente, água parada. Água turva dos poços de barro, água clara das sangas de pedra. Espumaradas grandes, presas aos barrancos, ou livres na correnteza, abertas como uma flor.

Que lindo de ficar brincando ali na sanga!

O Nilo vinha bem montado, vinha no seu douradilho. Gajo como um índio. Perna aberta, chapéu na nuca, segurando firme a varinha de sarandi, de cuja ponta pendia um retalho de chita, que era a cola, com um nó bem alto de três galhos pra não embarrar. Crescente como aquela, estava por ver!

Que trastada na sua viagem... Viagem comprida, de dias, de trinta léguas. E tinha de varar o passo duma vez, que ia crescer mais ainda.

Chovera muito pra cima.

Apeou. Dobrou os pelegos. Tirou a roupa e atou no pescoço. Montou e se foi. Que ia nadar, era certo. Água pelos tornozelos, era pelo garrão do cavalo, faz de conta.

Á gua pelos joelhos, era pela barriga. A água foi subindo. Bateu no encontro, na meia-costela, na aba do lombilho, o cavalo perdeu pé, e bufou ao agarrar o nado.

O gaúcho tenteava leve na rédea, temendo uma boleada de lombo.

Era um tapita aqui, outro lá, nomais. Que pingo pra água aquele! Varou o passo. Escorreu a umidade do montado com o lombo da faca. Arrumou os arreios. E seguiu viagem.

Logo adiante, mui sim senhora, uma coruja empapuçada na porta da toca. Boleou a perna. Agarrou uma pedra. Fez ponto. Pegou numa asa. Que tiro lindo! E nem tinha onde descansar a mira.

Chegou. Percorrera a pé todo o piquete à procura da Bordada.

- Mamãe, não achei a Bordada.

- Vai campeá, preguiçoso, senão te caio a relho!

E a siá Gertrudes arregalou os olhos, coçou a cabeça, rogou uma praga, e procurou um rebenque, o seu rebenque de corrigir aqueles malcriados.

O Nilo largou o cavalinho de pau. Esqueceu o encanto da viagem longa, a sensação de cruzar a sanga a nado, e a sedução maleva daquele tiro tão bem calculado.

Saiu chorando campo fora. Foi por ir nomais, porque era obrigado. Tinha campeado em todo o piquete, nos baixos, nas grotas, e até dentro das sangas.

Escurecia ligeiro. Tinha medo da noite. Ia ser tão feia a noite!

O vultinho encolhido confundia-se com as macegas. Chorava forte.

Ao passar pelos animais, eles erguiam a cabeça. Os cavalos trocavam orelha, as ovelhas corriam um pedacito, e as vacas mansas ficavam no mesmo lugar, remoendo. Depois, arrolhavam-se outra vez, alcatre para o vento, pelo arrepiado, ficavam pra trás, e desapareciam aos lotes na noite quase fechada. Foi até o fundo. Nada. A desgraçada não estava lá. E nem tinha ao menos um naco de fumo que fosse para o Negrinho. Se tivesse...

O fogão do seu Paulo chamava, vivo, dentro do rancho. Era longito pra ir a pé. E a volta depois, tão tarde...

Mas se decidiu. Podia que o velho tivesse visto a vaca.

Seu Paulo atiçava o fogo, de cócoras, chegando um tição pra o outro. A chaleira, recém dependurada na trempe, estava cheia e fria. Dum lado, na boca duma lata de coco, a cuia lavada e ainda sem erva. E na cinza velha do fogão da manhã, o Tigre dormia um sono feliz.

O guri chegou cansado, fôlego curto, olhos vermelhos de chorar.

- Seu Paulo, o senhor não viu a Bordada? Não acho ela, e a mamãe disse que me surra se eu não achá.

- Não vi, meu negro, mas ela não te surra, eu peço.

- Me dá sim, ela disse.

- Campeaste bem?

- Campeei, sim senhor.

- Não deste um naco de fumo pra o Negrinho, não foi?

Seu Paulo disse isso meio repreendendo o guri. Ele tinha fé no Negrinho deste piazito. Era maneira sua condenar os que não o invocassem na hora precisa. Mas a sua crença no crioulo infeliz enraizou mesmo depois de homem feito, quase velho, da vez que perdera o tobiano, marca da Palma. Era uma lástima perder aquele pingo. E depois o pêlo tão raro já!

Quanta caminhada à-toa, por estradas e atalhos. Estranzilhou o tordilho vinagre e o zaino estrela, companheiros de quadrilha do perdido. Tudo debalde. Ninguém informava. Pra o fim já chegava nas casas para indagar, por chegar nomais, porque andava naquilo.

Correram meses. Quando desesperou de achá-lo, e rumou pra o rancho, recém se lembrou do Negrinho. E numa volta da estrada deixou um naco pra o santo, debaixo dum espinilho solito, numa última arriscada. Mas o fez quase envergonhado de não se ter lembrado antes da devoção.

Isto foi ao escurecer. Enveredou noite a dentro, troteando largo, que estava com pressa de chegar, para o descanso e para os seus trabalhos, e assim consolar-se da perda do amigo, que era um amigo, aquele flete.

Quatro léguas depois - lua cheia mui clara - num canto aramado, um bico seco, viu um cavalo costeando. Vazio fundo, manco, crinudo, feio. Mas tão igual de pêlo!

Apeou. Chegou perto. Ele mesmo. Ton, ton! O tobiano entesou as orelhas. Ia disparar. Ton, ton! O animal parou, atento. O gaúcho foi se aproximando. O cavalo também. Foram indo um para o outro. Os quero-queros gritaram que andava ladrão no campo. O cavalo parou, ouvindo. Ton, ton! Caminharam de novo. Foram se chegando. Ton, ton, meu cavalo!

Que alegria a dos dois! O pingo espichou baixinho o pescoço, entregue. E a mão do campeiro, mestra de amanunsiar, correu pelas crinas, procurou graxa no cogote, alisou o lombo, derrubou a felpa frouxa da anca, tudo como quem abraça um amigo velho.

- Então, foi o Negrinho?

- Toma, leva este naco de fumo, dá pra ele, e sai à toa nomais, que ele reponta pra tua frente o animal perdido.

E lá se foi o Nilo, assustado da noite, tão grande, e ele tão pequeno.

A escuridão igualou altos e baixos. Era tudo uma coisa só, imensa e solta.

De medo, o guri fazia-se menor, encolhendo o pescoço e apertando os bracinhos delgados contra o corpo.

Cortara um rumo imaginado certo. Conhecia pelo peso das pernas quando era uma subida, e pela leveza adivinhava as ladeiras.

Levava o naco de fumo bem apertado na mão. Onde o deixaria? Parava. Aqui? Não. Adiante. Mais uns passos. Agora, sim. Ainda não. Mais longe. Aqui mesmo.

- Toma, Negrinho, pra mim achá a Bordada.

E fez um gesto de fé, um gesto confiante, de velho crente.

Prosseguiu reanimado. O santo o protegia.

Mas os passos miúdos, por mais apressados, não venciam a distância sem horizonte da noite.

O vento forte do sul, em ondulações bruscas, impelia-lhe o corpinho frágil para a frente. Os joelhos vergavam, vencidos. O cansaço começava a chegar, esmagando-lhe o peito como uma angústia.

Vaga-lumes cintilavam múltiplos na noite sem estrelas. Acendiam longe as luzes minúsculas. Subiam traçando curvas mínimas de claridades. Demoravam no ar ondulando lentos. Simulavam quedas. E volviam em equilíbrio de vôo sereno para o alto, para afinal declinarem rápidos cruzando pertinho dos olhos do guri, arregalados de susto. E eram muitos, inumeráveis, para todos os lados que se virasse, como nunca tinha visto. Os grilos gritando agudo de todas as moitas. E o vozerio desigual dos sapos vindo das sangas, asperejando o barulhinho sonoro das correntezas. Eram todas as vozes dispersas do campo chegando juntas agora aos seus ouvidos, como um feixe penetrante de sons.

Nilo não queria ouvir nada. Todos aqueles alaridos o apavoravam. Queria chegar em casa duma vez, libertar-se da noite e encorajar-se na luz.

Mas a noite era tão grande, e ele tão pequeno! Os seus passos não rendiam, miudinhos demais. E aquele chapadão, que ia num chapadão agora, tão comprido! A casa, onde estava? E a luz da janela?

O medo aumentava. Tremia. O coração ia pular do peito. Não olhava pra trás, para os lados, nem para cima. Ia de olhos fixos para a frente. Parecia que desviando o olhar veria algo fantástico.

Mas, o que tinha? Que força o esmagava, premendo-lhe os pés contra o chão? Onde estaria a luz da janela? Onde estaria? Aquela desgraçada...

A angústia era maior agora. Já o dominava.

Soluçou baixinho. Mais uns passos. E desatou num choro sacudido e alto.

Correu. Correu à toa. Os quero-queros gritaram alarmados. Uma coruja voou de espanto, parou bem em cima de sua cabeça, e gritou desusada.

Aquele grito agudo tiniu nos seus ouvidos, tão pertinho, que ele virou de rumo, e correu mais forte.

Não atinou mais em procurar a luz da janela.

Estafou-se. Amoleceu as pernas. Tropeçou. Caiu, e ficou estendido no chão úmido, quase sem fôlego de cansaço e medo.

Fechou os olhos para fugir da noite.

 

 

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SIN RUMBO

 

Iba lejos, sumiéndose, desguazada por el viento, la fina garúa que entró por las rasgaduras de la camisa, guasqueando las costillas y, al galopón tendido, cruzó como una mancha polvorienta de ceniza, casi apagada, entre la cuchilla y el cielo.

Los pies se enterraban en el suelo blando y a cada pisada herbía una vertiente. Era un placer repetir aquello mil veces, buscando los sitios más húmedos y pisando siempre con más fuerza.

Las líneas del horizonte se empeñaban, perdían la nitidez de las curvas, incorporando al cielo las serranías.

Por todos lados se llevantaba, agudo, penetrante, el croar alegre de las ranas.

En batallones, los teros jugaban a los ejercicios marciales.

Nubes bajas se deslizaban por el cielo gris.

Los campos menguaban de extensión, enrollados en una sola sombra densa, cerrada, insinuándose por todos los rumbos. Las hierbas se vergaban humildes hasta el suelo, sometidas al viento que soplaba fuerte en los altos, alzando los sombreros.

Mucha agua blanqueando los campos. Agua corriente, agua parada. Agua turbia de los pozos de barro, agua clara de las zanjas de piedra. Grandes espumaradas contenidas en las barrancas o libres en la correnteza, abiertas como una flor.

¡ Qué lindo quedarse a jugar allí en la zanja!

Nilo venía bien montado, venía en su doradillo. Gallo como un indio. Pierna abierta,gacho a la nuca, agarrando firme la varita de sarandí de cuya punta pendía una retazo de trapo, que era la cola, con un atado bien alto de tres gajos para no embarrarse.

¡ Creciente como aquélla estaba por ver!

Que trastada en su viaje... Viaje largo, de días, de como treinta leguas. Y desde luego tenía que vadear el paso, que iba a crecer aún más.

Había llovido mucho aguas arriba.

Se apeó. Dobló los pelegos . Sacó la ropa y se la ató por el cuello. Montó y se fue. Que iba a nadar era seguro. Se hacía de cuenta de que el agua por los tobillos era por el garrón del caballo.

Agua por las rodillas era por la barriga. El agua fue subiendo. Llegó al encuentro, a media costilla, en la falda del lomillo, el caballo perdió pie, y bufó al agarrar el nado.

El gaucho tanteaba levemente la rienda, temiendo una boleada de lomo.

Era un tapita aquí, otro allí no mas. ¡Qué pingo para agua aquel! Vadeó el paso. Con el lomo del cuchillo escurrió la humedad del montado. Puso en orden los aperos. Y seguió viaje.

Más adelante, llena de brío, una lechuza en la puerta de la madriguera. Boleó él la pierna. Agarró una piedra. Hizo punto. Le pegó en una ala. ¡Qué lindo tiro! Y ni siquiera tenia donde descansar la mira.

Llegó. Había recorrido a pie todo el piquete en procura de la Bordada.

-Mama, la Bordada no la he encontrado.

-¡Vete a campear, perezoso, que te caigo a rejo!

Y sia Gertrudes lo miró con fijeza, se rascó la cabeza, lanzó una imprecación y buscó un rebenque, su rebenque de corregir aquellos malcriados.

Nilo largó el caballo de palo. Olvidó el encanto del largo viaje, la sensación de cruzar a nado la zanja, y la seducción maleva de aquel tiro tan bien calculado.

Salió a llorar campo afuera. Se fue por ir nomás, porque se veía obligado. Había campeado por todo el piquete, en los bajos, en las grotas, y hasta por adentro de las zanjas.

Oscurecía rápido. Tenía él miedo de la noche. ¡Iba a ser tan fea la noche!

El bultito encogido se confundía con las malezas. Anegábase en lágrimas.

Cuando pasaba por los animales, ellos erguían la cabeza. Los caballos paraban las orejas, las ovejas corrían un pedacito, y las vacas mansas permanecían en su mismo sitio, remolliendo. Después, arrollabánse otra vez, la alcatria al viento, el pelo erizado, se quedaban atrás, y se disipaban por lotes en la noche casi cerrada. Fue él hasta a! fondo. Nada. La desgraciada no estaba allí. Y ni siquiera un naco de tabaco tenía para el Negrinho7. Si tuviera...

El fogón de seo Paulo llameaba, vivo, dentro del rancho. Era lejanito para ir de a pie. Y después la vuelta, tan tarde...

Pero se decidió. Acaso el viejo hubiera visto la vaca.

Seo Paulo, en cuclillas, atizaba las llamas, acercando un tizón al otro. La caldera, recién colgada en la trempe, estaba llena y fría. De un costado, en la boca de una lata de coco, la cuia del mate lavada y aún sin yerba. Y sobre la ceniza vieja del fuego de la mañana, el Tigre dormía un sueño feliz.

El gurí llegó cansado, casi sin aliento, los ojos rojizos de tanto llorar.

-Seo Paulo, ¿ha visto usted a la Bordada? No la puedo hallar y mamá me ha dicho que me da una paliza si no la encuentro.

-No, mi negro, no la he visto, pero tu madre no te da una paliza, yo le pido.

-Sí que me da, ella dijo.

-¿Y has campeado bien?

-Sí señor que yo campeé.

-Pero al Negrinho no le diste un naco de tabaco, ¿verdad?

Eso dijo seo Paulo como si reprendiera al gurí. Desde pequeño tenia él mucha fe en el Negrinho. Era su manera condenar a quienes no lo invocaran en la hora precisa. Pero su creencia en el negrito infeliz sólo se había robustecido cuando se hizo hombre maduro, casi viejo, luego de la vez en que perdiera el tobiano, marca de Palma. ¡Que lástima perder a aquel pingo¡ Y además ¡el pelo era tan raro!

Tanto andar en vano, por estradas y atajos. Había estropeado el tordillo vinagre y el zaino estrella, compañeros de cuadrilla del perdido. Todo de balde. Nadie lo informaba. Por fin, ya llegaba en las casas por llegar nomás, porque seguía en aquello de indagar.

Pasaron meses. Cuando se desesperó de hallarlo, y rumbeó al rancho, sólo entonces pudo acordarse del Negrinho. Y en una vuelta del camino dejó un naco para el santo, bajo un espinillo solito, en una última arriesgada. Pero lo hizo casi avergonzado por no haberse acordado antes de la devoción.

Eso ocurrió al oscurecer. Teniendo prisa por llegar, para el descanso y para el trabajo, y así consolarse por la pérdida de un amigo, que era un amigo aquel flete, enveredó el noche adentro, a trote largo.

Cuatro leguas adelante - luna llena muy clara - en un rincón alambrado, un pico seco, vio a un caballo costeando. Vacío hundido, manco, crinudo, feo. ¡Pero tan igual de pelo!

Se apeó. Llegóse. Él mismo. ¡Ton, ton! El tubiano entesó las orejas. Iba a disparar. ¡Ton, ton! Paró atento el animal. El gaucho se fue aproximando. También el caballo. Se fueron indo uno hacia el otro. LoS teros gritaron que andaba ladrón en el campo. Paróse el caballo, oyendo. ¡Ton, ton! Caminaron de nuevo. Se fueron llegando. Ton, ton ¡mi caballo!

¡ Qué alegría la de los dos! El pingo estiró el pescuezo bajito, entregado. Y la mano del campero, maestra en manosear, le corrió por las crines, buscó la grasa en el cogote, le alisó el lomo, le sacó la pelusa suelta del anca, todo como quien abraza a un viejo amigo.

- ¿Fue el Negrinho, entonces?

-Tomá, llevá este naco de tabaco, dáselo, y salí al azar nomás, que él te reponta el animal perdido.

Y allá se fue el Nilo, asustado por la noche, tan grande, y él tan pequeño.

La oscuridad había nivelado altos y bajos. Era todo una cosa sola, inmensa y abierta.

Por miedo, el gurí se hacía más pequeño, encogiendo el cogote y estrechando junto al cuerpo los bracitos delgados.

Seguía el rumbo que le parecía cierto. Por el peso de las piernas podía conocer cuando había un repecho, y por lo liviano adivinaba los declives.

En la mano llevaba bien prendido el naco de tabaco. ¿Dónde lo dejaba? Se detenía. ¿Acá? No. Adelante. Unos pasos más. Ahora sí. Todavía no. Más lejos. Aquí mismo.

- Tomá, Negrinho, es para que yo encuentre a la Bordada.

E hizo un gesto de fe, un gesto de confianza, de viejo creyente.

Siguió reanimado. A él lo protegía el santo.

Pero los pasos menudos, por más apresurados, no vencían la distancia sin horizonte de la noche.

El viento fuerte del sur, en oscilaciones bruscas, le empujaba el cuerpito frágil hacia adelante. Las rodillas vergaban, rendidas. El cansancio comenzaba a llegar, a aplastarle el pecho como una angustia.

Luciérnagas cintilaban múltiples en la noche sin estrellas. Encendían a lo lejos sus luces minúsculas. Se elevaban trazando curvas mínimas de claridades. Demorábanse lentas ondulando en el aire. Simulaban caídas. Y volvían hacia arriba en equilibrio de vuelo sereno, para al fin descayeren rápidas cruzando cerquita de los ojos del gurí, saltones de susto. Y eran muchas, innumerables, por todos lados que hubiera mirado, como no había visto nunca. Los grillos gritando alto desde los matorrales. Y el vocerío desigual de las ranas viniendo de las zanjas, asperezando el barullillo sonoro de las correntadas. Eran todas las voces dispersas del campo ahora llegando juntas a sus oídos, como un manojo penetrante de sonidos.

Nilo no quería oír nada. Todos aquellos alaridos lo apavoraban. Quería llegar en casa de una vez, libertarse de la noche, encorajarse con la luz.

¡ Pero la noche era tan grande, y el tan pequeño! Menuditos por demás, sus pasos no rendían. Y aquel chapadón , pues ahora iba por un chapadón, ¡tan largo!

¿ La casa, dónde estaba? ¿Y la luz de la ventana?

Aumentaba el miedo. Temblaba. El corazón le iba a saltar del pecho. No miraba atrás, ni hacia los costados, ni hacia arriba. Iba de ojos fijos mirando al frente. Le parecía que al desviar la mirada habría de ver algo fantástico.

Pero ¿qué tenía? ¿Qué fuerza lo esmagaba, preméndole los pies contra el suelo? ¿Dónde estaba la luz de la ventana? ¿Dónde habría de estar? Aquella desgraciada...

Era más grande, ahora, la angustia. Ya lo dominaba.

Sollozó bajito. Unos pasos más. Y se desató en un llanto sacudido y alto.

Corrió. Corrió al azar. Los teros gritaron alarmados. Voló de espanto una lechuza, paró bien encima de su cabeza y gritó desusada.

Tintineó en sus oídos aquel grito agudo, tan cerquita que cambió él de rumbo y corrió más deprisa.

No atinó más a buscar la luz de la ventana.

Se agotó. Aflojó las piernas. Tropezó. Cayó, y quedóse tendido en el suelo húmedo, casi sin aliento por el cansancio y el miedo.

Cerro los ojos para huir de la noche.

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* Cyro Martins. Campo Fora/Campo Fora. Porto Alegre. IEL/CELPCYRO/CORAG,2000.