Décio Freitas | | Imprimir | |
Ele tinha o talento da sensibilidade humana, aquela doçura que lhe era tão própria, envolvente. E uma certa imperturbabilidade. O Cyro era um homem que em momentos muito dramáticos sabia manter a calma. Nós, além de amigos em função da literatura e do ensaio, fomos também, digamos, companheiros políticos. Militamos no fim do Estado Novo, contra o Estado Novo e, depois, no regime autoritário, também nós coincidimos nas nossas resistências, nas oposições àquele regime. Nós somos seguramente o estado que tem a mais copiosa historiografia regional e que tem também a mais copiosa ficção histórica regional. Só que a historiografia regional não presta. É acrítica, embalada em mitos de uma história mitificada. Curiosamente são os escritores que fazem, na literatura, a crítica da história do Rio Grande do Sul. São as visões mais lúcidas, as de escritores. Um deles foi indubitavelmente o Cyro. Eu ficava pensando naquele homem tão suave como ele era e, no entanto, com tanta força em sua crítica, devastadora, sobretudo corajosa. Décio Freitas |