En la subida de Pena
Un gurisito pastor...

O dia despontou opaco por entre grossas nuvens. . Nilo acordou, olhou ao redor e arregalou os olhos diante da Coxilha Negra, e daquele cerro alto, que parecia um enorme caracol. Foi serpenteando a subida de Pena e deu em um descampado sem fim. Paisagem que de tão vasta assustava. O guri parou, olhou para os lados procurando sempre pela vaca fujona. Mas nem rastro da Bordada... Desanimou.

De repente, um clarão no céu, um trovão, um raio, mais um estrondo, ainda um, ainda outro. Um vulto aparece, logo desaparece, para reaparecer.

Vislumbra uma forma humana, escuta uma voz que diz ser Quinca Serpa, o vendedor de moirões, vindo das bandas de Quaraí. Foi susto demais para o coitado do guri. O coração disparou, amoleceram as pernas e caiu com um baque seco no basalto. E ali quedou-se, estirado, tomado de pavor. Para pior, viu passar, também, a mulher de branco, a louca da estrada, o índio açoitado, o nego degolado, e tantas criaturas mais, que conhecia de causos que desde recém nascido, por assim dizer, tinha ouvido contar. E de dentro dele foi nascendo a visão do quartel, dos soldados, dos prisioneiros, dos condenados à morte, do comandante João Francisco Pereira de Souza.

Aquele de quem se dizia: "Se Deus quiser, João Francisco e sua mulher".

Devagarinho, porém, como por milagre, Nilo foi se acalmando por causa da fala mansa e pausada de Quinca Serpa. Narrava, tranqüilo, o que viraem uma antiga manhã de calor forte e sol ardente, no meio do enorme pátio, junto ao poço da lenda do assombrado Caty.

E o que era?! No fim do fundo do poço, do outro lado, para além do poço, era a vida, para sempre.

Nilo, maravilhado, avistou ao longe a Bordada, pastando. Feliz, saiu correndo campo fora ao seu encontro.