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Horror: amigo ou inimigo | Imprimir |  E-mail

Marcello Blaya *


No filme APOCALYPSE NOW, de Francis Coppola, o Coronel (Marlon Brando) diz a Jack, o Capitão que vai matá-lo: “Horror e temor moral são seus amigos. Se não forem, são inimigos a temer. Verdadeiros inimigos.” Aí está um dilema, presente há centenas de séculos, na vida humana e disso temos registro há mais de 4.000 anos.

Quase 20 séculos antes de Cristo, os babilônios reuniram as leis vigentes no código de Hamurabi e dele os autores do Velho Testamento copiaram a pena do talião: olho por olho, dente por dente.

Uma adúltera é trazida para ser apedrejada e morta, como manda o talião. Os fariseus, para denegrir Jesus, lembram a lei mosaica e lhe perguntam o que fará. E Jesus diz: “O que não tenha pecado, que atire a primeira pedra”.

As alternativas de ter o horror como amigo ou como inimigo precisam ser pensadas e entendidas. O mal, o pecado, o ódio, a ingratidão, o ciúme e a inveja certamente estão na bagagem de todos os humanos. E como podem lidar com essa dura realidade?

O recém nascido começa esse roteiro, bastando lembrar seus choros e gritos raivosos quando sente que a mãe não atende os seus desejos onipotentes. O bebê está enviando o horror para a mãe e só ela pode decidir se ele sempre terá o horror como inimigo ou se o desempenho dela o ajudará a torná-lo amigo do horror. O feto, pelo cordão, envia os restos que a mãe elimina nas suas funções excretórias. A mãe do bebê pode fazer o mesmo com o horror e trocá-lo pelo cuidado tolerante, amoroso e cheio de perdão, o que ensinará o bebê a tornar-se amigo do horror.

Quando a mãe não for capaz dessas trocas de ódio pelo amor, o bebê sobrevive desenvolvendo a função maternóide que lhe permite acreditar que é capaz de cuidar de si mesmo. É uma solução pobre que ajuda o bebê a desenvolver a sua onipotência, acreditando que pode tudo o que desejar, sem limites.

O que vemos no Velho Testamento e no Código de Hamurabi é a forma primitiva e pobre da relação com o próprio corpo, com o outro, com a Natureza e com a Terra. A necessidade que a mãe incapaz ou o parceiro limitado tem de apedrejar o outro, de matar os seres vivos e tornar a Terra o que hoje é  resulta da incapacidade de olhar para si mesmo e compreender a sua necessidade de fazer o outro pagar pelos seus próprios pecados. No talião estamos apedrejando, no outro, os nossos pecados, nossos inimigos. E o que Jesus nos ensinou, a tolerância, o perdão e o amor, é algo verdadeiro mas saber e não agir de acordo com o conhecido é mais um horror: o da arrogância.

O “outro” básico é o nosso próprio corpo. Sempre que me deparo com pessoa obesa, sedentária, fumante, drogada, arrogante, mentirosa e incapaz de voluntariamente ajudar a si mesmo, concluo que é uma inimiga do horror e certamente irá pagar, mais cedo ou mais tarde, pelos danos que causa a si mesmo, ao seus familiares, à sua comunidade e ao seu ambiente. Edgar Allan Poe, no conto William Wilson, foi o primeiro artista a mostrar o que Coppola nos mostra em Apocalypse Now:

A relação bebê-mãe é o alicerce da harmonia horror-amor/perdão. As paredes resultam das relações bebê-pai, criança-familia, aluno-professores. Todas as pessoas adultas de uma família e de uma comunidade podem ser os mestres dos jovens. Há um significativo porém a ser lembrado. As palavras – discursos, conselhos, recomendações – não têm qualquer valor se a pessoa que as utiliza não vive de acordo ao que ensina. Pois é no convívio que se aprende pela conduta de todos os familiares, especialmente pais e avós, e aí as palavras confirmam o que a conduta ensina.


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* Prof. UFRGS

Fundador da Clinica Pinel e do G.Viva

marceloblaya@terra.com.br