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Cyro Martins: escritor-artista e psicanalista-escritor | Imprimir |  E-mail

Isaac Pechansky

Com o passar dos anos o escritor-artista e o psicanalista-escritor vão se dando a conhecer. A necessidade de escrever se revela tanto na produção literária quanto na científica, num verdadeiro intercâmbio criativo, onde sempre sobressai a busca do conhecimento do homem, essência da atividade de Cyro. Se por um lado é verdade que o psicanalista poderia se valer dos seus conhecimentos para melhor descrever o caráter de seus personagens, é preciso que se diga que jamais ele se utilizou de termos do jargão psicanalítico para tal fim. Possuía recursos suficientes para dispensar o uso de termos técnicos, tão frios e empobrecedores quando fora do contexto científico. O domínio seguro da palavra era sua marca registrada.

Sempre às voltas com o processo da criação em qualquer das áreas de uma atividade tão diversificada, e pela própria força do ofício, também ele enveredou pelos caminhos do inconsciente na tentativa de especular sobre a criação artística. Surge assim seu expressivo trabalho "Psicanálise e Criatividade", publicado na Revista de Psicanálise da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (vol. III, nº1, abril 1996). Retiro dele alguns trechos, por si sós, reveladores da confluência indissolúvel que emana da sua capacidade de escrever de forma clara e acessível e da convivência com os caminhos do inconsciente.

Diz Cyro, lá pelas tantas: Até onde conceitos diretivos – construções teóricas, sem dúvida – ajudarão na pesquisa da motivação inconsciente da criação artística? Como marcos teóricos referenciais, auxiliarão na investigação de fantasias básicas, que agiram subjacentemente no sentido criador, influindo a atividade sensório-motora no campo específico de cada artista.

Mais adiante: Nessas investidas pelos mundos próprios do artista, a psicanálise sempre se valeu da forma e do conteúdo da obra, da biografia do autor e, como bússola indispensável, de seu próprio esquema conceitual. Eu aqui arriscaria dizer que ele fala de si próprio, presumo que sem essa intenção, mas expressando toda a investida da psicanálise pelos mundos próprios de qualquer indivíduo, seja ele artista ou não.

Uma questão sem dúvida importante, e sobretudo polêmica, diz respeito à criação artística e à terapia psicanalítica. A afirmação de que o tratamento psicológico possa interferir na criação artística, de modo a inibir a potencialidade do artista é, acima de tudo, preconceituosa e não encontra respaldo na experiência de qualquer terapeuta que se dedique à investigação de processos mentais inconscientes. Dizer-se que sem angústia não existe ato criador é uma falácia, quando se sabe que sem angústia não há possibilidade de crescimento e de maturação de qualquer ser humano.

Mas final, de que angústia estamos falando? Da angústia neurótica, geradora e conseqüência de conflitos internos? Da angústia que interfere nas relações amorosas e que não permite as gratificações mais elementares do indivíduo? Da angústia que não se sublima? Se é isso que estamos falando, então concordo que nessas condições a atividade artística, ou qualquer outra atividade humana, se complica e até se inibe. Não se pode negar que a terapia psicológica nessas condições libera o artista, ou qualquer outro indivíduo, desse sofrimento abrumador, e lhe devolve a capacidade natural de produzir suas obras de arte.

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