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Homenagem a Cyro Martins na Fronteira da Paz | Imprimir |  E-mail

28 de junho de 2007 - Livramento (RS)


Realizou o evento o sodalício da Academia Santanense de Letras, em ato solene com autoridades da educação e da cultura, bem como o público em geral, com a finalidade de homenagear e divulgar a obra do escritor Cyro Martins, patrono do acadêmico Carlos Alberto Potoko.


Potoko, com a Presidente da Academia, Marlene Pedroso, e Profa. Geni Leites


ELOGIO A CYRO MARTINS


Palavras Carlos Alberto F. Corrêa (Potoko)
ao assumir a Cadeira 35 da Academia Santanense de Letras

O encantamento que designa bem a reação da maioria dos leitores de Cyro Martins é pelo escrito que não apenas agrada ou sensibiliza, que desperta interesse ou curiosidade; é pelo escritor que fascina no sentido de que incomoda e perturba - como os uivos de um lobo guará nos matos e seios das coxilhas, ao agarrar o vivente pelo medo da consciência de que este não consegue (nem quer) se libertar.

Por quê? Bem, eu poderia imaginar várias explicações, mas fico só com uma: a de quase todos os leitores que o leram aqui em Livramento. Seus fãs - como o tradicionalista Velocínio Silveira, o ex-prefeito Guilherme Bassedas Costa, o escritor Juremir Machado, bem como diversos professores, alunos e mais os que convivem com o Cyro há décadas e até os que acabaram de ler um ou outro dos seus livros. Eles  percebem ou pelo menos intuem que toda essa fantasia dos heterônimos (inventar personagens e descrevê-los em poemas de vida) do homem do pampa, um ser que ama seu chão pode até nos descascar a mente com muito mais lucidez do que, por exemplo, o divã do psicanalista, o confessionário, a auto-análise, ou qualquer que seja o caminho que busquemos no encalço do autoconhecimento

O convívio com a obra de Cyro Martins põe a nu aquilo que cada um de nós é como gente do interior. Não é a única, mas acho que essa é uma boa explicação para o fascínio de como nos revelou nossas raízes.

O “ego” do homem do campo é um ego mutante, como quando este perde sua alma ao ser desterrado à força para uma mísera vida nas periferias das cidades. Cyro anteviu tudo isso, há mais de 70 anos com a “trilogia do gaúcho a pé”: Sem Rumo, Porteira Fechada e Estrada Nova. Porteira Fechada (1944) teria inspirado um curta metragem premiado Terra Prometida, com a direção de Guilherme Castro e exibido na RBS. Agora, esse mesmo diretor fará um  longa metragem sobre esse romance, inserido na ampla programação para as comemorações dos 100 anos de Cyro Martins, em 2008. Isso reitera o que vejo em sua obra: paradoxalmente, cada vez mais provocativa e magnificamente atual.

O que o leva a  ser tão cultuado no meio intelectual local, internacional e ao mesmo tempo, tão popular, é a característica de toda obra de um gênio: fala, ao mesmo tempo, a todos os leitores, do mais culto e exigente ao mais despreparado. Cada qual encontrará, na obra lida, um estrato, um nível ou uma dimensão que lhe diga respeito – e todos esses níveis, estratos e dimensões são legítima e autenticamente gaúchos. Não importa, por exemplo, que o leitor se deixe levar pelo ingênuo e a imprudência do mal logrado gaúcho que é expulso da sua terra, ou vítima do seu valor, o que importa é que se aprende muito com essas histórias.

O cidadão Cyro Martins está por trás de todos os heterônimos que criou; cada qual representa uma das facetas que integram a sua personalidade multifacetada, e todas têm a mesma presença e a mesma intensidade, como na novela “Um menino vai para o colégio”, que estará em setembro (2007) na nova série ficções da RBS TV – ESCRITORES. No entanto (eu achei isso durante muito tempo, depois mudei de idéia, depois voltei a achar... em suma: não sei), quem sabe a faceta mais “Cyro Martins” de todas, seja o seu encontro com ele. É o heterônimo mais sintonizado com os tempos modernos, com a grande urbe industrializada; é o heterônimo da consciência angustiada, perdida no anonimato da multidão e mergulhada na vertigem do amor do homem do pampa pela natureza com sua gente e seus animais.

Cyro Martins

É o tempo de chuva.

Da chuva no poncho.

Para calar, nossas lágrimas!...

Carlos Alberto Potoko